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ANÁLISE

Fim de Papo: Dá para comparar os trabalhos de Abel Ferreira e Jorge Jesus?

Do UOL, em São Paulo

06/02/2021 04h00

Pelo segundo ano consecutivo, um time brasileiro foi campeão da Libertadores sob o comando de um treinador português. Desta vez, com Abel Ferreira à frente do Palmeiras, assim como havia feito Jorge Jesus, vencer o torneio continental com o Flamengo, em 2019.

No Fim de Papo, live pós-rodada do UOL Esporte — com os jornalistas Vinícius Mesquita, Alicia Klein, José Trajano e Renato Maurício Prado —, se discute se é possível comparar os feitos de Abel e Jesus no futebol brasileiro com os títulos conquistados pelos treinadores na competição sul-americana.

Renato Maurício Prado afirma que o treinador do Palmeiras pode até superar Jesus no caso de conquista do Mundial no Qatar, caso encare o Bayern de Munique, o que acha tão difícil de acontecer quanto foi na disputa do Flamengo com o Liverpool , mas vê o ex-comandante do Flamengo tendo sido superior ao vencer a Libertadores e o Campeonato Brasileiro.

"O Abel, a menos que ele ganhe o Mundial, se ele ganhar o Mundial, aí ele supera todo mundo, mas, mesmo que ele ganhe a Copa do Brasil e naturalmente não ganhe o Mundial, como o Jorge Jesus também não ganhou, eu acho o trabalho dele desse ano, ainda que em um tempo muito mais curto, então isso dá até mais méritos a ele em algumas coisas, mas o trabalho do Jorge Jesus foi mais espetacular", afirma Renato.

"O Jorge Jesus ganhou uma coisa que só o Santos do Pelé, lá atrás, quando a Taça Brasil, que virou o título brasileiro hoje em dia, com a unificação dos títulos, essa história bizarra, mas só o Santos do Pelé em 1961 e 1962 ganhou o campeonato nacional mais importante e a Taça Libertadores. Ganhar o Campeonato Brasileiro de pontos corridos e a Taça Libertadores, isso é muito difícil, acho que vai demorar para a gente ver de novo", completa.

Trajano afirma que Abel Ferreira tem muitas diferenças para Jorge Jesus, mas ficará marcado tanto quanto pela torcida do Palmeiras ao por ter vencido a Libertadores e também não acha que seja possível comparar em tom de igualdade os dois trabalhos devido à pandemia e a diferença da temporada 2020 em relação à de 2019, com o treinador palmeirense não tendo nem tempo para treinar com a sequência de jogos que o time fez em três meses.

"O sucesso como treinador esse ano, pelo andar da carruagem, vai ser o Abel [Ferreira], porque, por menos tempo que ele esteja à frente do Palmeiras, os resultados, as conquistas vão enchendo a mala dele, ele vai levando troféu para casa, e a torcida fica grata, começa a endeusar, agradecer, ele é um sucesso. O sucesso do Jorge Jesus foi um, de um tipo, tipo de sucesso, o Abel é bem diferente do Jorge Jesus como temperamento, idade", diz Trajano.

"Só um detalhe, não em defesa do Abel, mas considerando que não dá para comparar esse campeonato com o outro campeonato, pelas circunstâncias que nós estamos vivendo da pandemia, isso tem que ser considerado. Vários times tiveram seus jogadores, comissão técnica com covid, os jogos sem plateia, é um negócio esquisito, tanto que passou de um ano para o outro e tal", completa.

Alicia Klein não vê o Mundial como a competição que faça tanta diferença para Abel Ferreira em relação ao torcedor do Palmeiras, ao lembrar da obsessão palmeirense pela conquista da Libertadores e afirma que o cenário com a pandemia engrandece o trabalho do jovem treinador português, sem compará-lo a Jesus por questão do cenário distinto da covid-19.

"Esses campeonatos estão acontecendo ao mesmo tempo literalmente, então eu acho que essa é uma diferença grande que não dá para comparar e nem para dizer qual dos dois é melhor, mas eu acho um ano muito extraordinário e por isso eu acho que vale a gente aplaudir ainda mais o trabalho do Abel por ele conseguir gerenciar esse calendário que é quase insano, se não fosse um ano da pandemia, ele não seria nunca aceito, um time estar jogando a cada dois dias no nível de importância que o Palmeiras estava jogando", diz a jornalista.

"Acho, claro, histórico o trabalho dos dois, acho que, independente do Mundial, porque a Libertadores era realmente a grande conquista que o torcedor estava almejando, mas esses dois treinadores, esse bicampeonato português da Libertadores fica na história do futebol brasileiro e desses dois times muito forte", conclui.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL