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Sidão diz que "imediatismo" dificulta Ceni no Flamengo e elogia técnico

Contrato de Sidão com o Goiás terminou no fim do ano - Divulgação
Contrato de Sidão com o Goiás terminou no fim do ano Imagem: Divulgação

Alexandre Araújo

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

26/01/2021 04h00

O ano de 2021 começou com uma rotina diferente para o goleiro Sidão. Treinando por conta própria em Santa Catarina, onde está morando desde que defendeu o Figueirense por empréstimo, ele aguarda o mercado da bola "esquentar" para que possa definir o futuro. Aos 38 anos e sem clube desde quando o término do vínculo com o Goiás, no fim do ano passado, ele garante que ainda tem "muita lenha para queimar", mas admite já pensar mais à frente.

Em um período atípico, em que a virada do ano não representou uma mudança de temporada, como de costume no futebol brasileiro, Sidão ressalta estar analisando os próximos passos para "não dar um tiro errado". Em um bate papo com o UOL Esporte, ele também falou sobre o trabalho com alguns técnicos, como Fernando Diniz, Rogério Ceni e Vanderlei Luxemburgo.

Além disso, apontou que vem aproveitando esse intervalo para estar mais ao lado da família e, especialmente do filho David, de quatro anos, que, vez ou outra, é até companheiro de exercício.

"Por enquanto, vamos ter de aguardar a temporada. É um ano atípico, virou o ano e a temporada não acabou ainda. O mercado está meio parado. Enquanto isso, continuo treinando por conta própria, juntamente ao preparador de goleiros, o Eduardo [Melgarejo]. Fico esperando o mercado mexer um pouco para ver se encontramos algum clube em 2021. Tiveram algumas sondagens, mas nada concreto ainda. Estou avaliando bem também para não dar um tiro errado. É um momento na carreira de fazer boas escolhas e conseguir fazer novos voos", afirmou.

Sidão, que tem passagens por clubes como Botafogo, São Paulo e Vasco, indica que até projeta o período após pendurar as luvas, mas garante que ainda tem mais temporadas pela frente em campo.

"Vez ou outra eu penso sobre algo para o futuro, mas, de momento, tenho bastante lenha para queimar. Estou trabalhando direto, estou bem fisicamente. Acho que dá para queimar bastante ainda, mas também não posso ser ignorante de não pensar em um pós carreira. Mas está cedo ainda, tenho mais alguns anos para queimar a lenha e, depois, pensar no que fazer (risos)", garante.

Enquanto aguarda novas movimentações, ele aproveita para curtir a família.

"A nossa profissão nos deixa muito ausentes da família, em casa. Neste período, tenho estado bastante com o meu filho e a minha esposa [Monike]. É uma coisa que quase não temos tempo porque estamos sempre viajando e jogando, e, agora, estou aproveitando bem esse período"

O goleiro ganhou mais notoriedade no cenário nacional ao integrar o Audax que foi vice-campeão do Paulista, em 2016, perdendo a final para o Santos. À época, a equipe era comandada por Fernando Diniz, hoje no São Paulo.

Em clima de descontração, Luciano brinca com Diniz e joga água no técnico - Reprodução/Premiere - Reprodução/Premiere
Imagem: Reprodução/Premiere

Recentemente o trato do treinador com o elenco foi tema de debate — a "zoação" com Luciano e a bronca em Tchê Tchê foram exemplos notáveis. Sidão, porém, fez elogios ao ex-comandante, salientando que ele "sabe o quanto o cara pode render":

"Só quem convive no dia a dia sabe o que realmente acontece. O que é externado é bem superficial. As pessoas focam naquilo que elas querem ver, e tenho certeza que a relação é boa. Principalmente pela quantidade de período que estão juntos. É uma coisa normal aquela cobrança na beira do campo, mas ele é muito do lado humano. Ele está sempre olhando para o lado humano do jogador, sabe quanto o cara pode render, o quanto pode dar. Acho que ele conhece muito bem o elenco, o grupo, e, por isso, cobra ao máximo. Ele conhece, realmente, o máximo de cada".

Sidão em ação pelo São Paulo contra o Fluminense - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Hoje no Flamengo, e pressionado pelo fato de o time não ter engrenado, Rogério Ceni iniciou a carreira de treinador no São Paulo. Sidão, que defendeu o Tricolor paulista entre 2017 e 2018, aponta gratidão pelo técnico e aposta que ele será um dos melhores do país.

"É um cara pelo qual tenho muita gratidão dentro do futebol. Abriu uma porta gigantesca para mim. Vejo como um dos melhores treinadores. É claro que, aqui no Brasil, o imediatismo cobra por resultados logo. Infelizmente, para o treinador, fica bem difícil. Ainda mais quando chega em um clube novo, em que tem de conhecer todo o elenco novamente, mostrar seu trabalho e fazer com que os jogadores abracem sua ideia. É um baita treinador, é um cara que não repete treino. Tem uma gestão de grupo incrível. Tem todo o potencial e conhecimento para ser um dos melhores do Brasil. Torço para que ele consiga se firmar o mais brevemente possível e os resultados possam acontecer para ele".

Em 2019, o goleiro esteve no Vasco. No clube de São Januário, se viu em meio a uma polêmica em relação à premiação de melhor do jogo, concedido pela Rede Globo após uma derrota para o Santos, mas garante que tal episódio é "água passada" e guarda boas lembranças do período na Colina. No Cruz-Maltino, trabalhou com Vanderlei Luxemburgo, que voltou ao clube recentemente.

"Guardo boas lembranças do grupo, que a grande maioria está lá até hoje. Luxemburgo voltou para lá, acho que tem tudo a ver essa retomada do Vasco por conta da volta do Luxemburgo e do grupo que estava lá em 2019. Guardo boas lembranças do grupo e torço para que se dê bem", disse.

Sidão faz defesa durante a partida entre Vasco e Avaí pelo Campeonato Brasileiro - Dhavid Normando/Futura Press/Estadão Conteúdo - Dhavid Normando/Futura Press/Estadão Conteúdo
Imagem: Dhavid Normando/Futura Press/Estadão Conteúdo

"Ele tem um poder de persuasão, de controlar as pessoas. Então, ele, realmente, faz uma preleção diferenciada neste sentido, de colocar ânimo, de botar uma injeção na rapaziada para entrar mais ligada no campo. Está sempre contando um pouco da sua historia e mostrando como conseguiu suas conquistas, através do esforço, da vibração, da energia. Ele consegue passar isso na preleção e acho que é isso que cativa tanto os atletas e os torcedores ficam ansiosos para ver", completou.

O Vasco foi a segunda passagem de Sidão no Rio de Janeiro. Pouco depois do vice do Paulista, o goleiro se transferiu para o Botafogo, à época, com a missão de substituir Jefferson, que havia realizado uma operação no braço esquerdo e precisaria ficar cerca de três meses longe dos gramados.

Ele lembra que, na ocasião, o Alvinegro conseguiu uma recuperação no Campeonato Brasileiro e alcançou uma vaga na Libertadores.

"Sem dúvida, é um clube que guardo com muito carinho. Foi um clube que me projetou no cenário nacional. Eu me lembro de chegar em uma situação bem difícil do Botafogo também, brigando lá embaixo. Juntamente com meus companheiros, conseguimos terminar a temporada em quinto lugar e ir para a pré-Libertadores. Um clube que todos já davam como rebaixado, conseguimos uma campanha incrível e terminar ali na pré-Libertadores. É um clube que guardo com muito carinho, que me abriu as portas, que me acolheu. A torcida também me acolheu muito naquele momento, e eu pude retribuir isso dentro de campo, fazendo, talvez, um dos melhores campeonatos da minha vida. Tenho só boas lembranças".

Sidão ficou conhecido também por jogar com os pés. Nos tempos de Botafogo, inclusive, chegou a quase marcar de bicicleta, em uma partida em que o alvinegro perdeu por 1 a 0 para o Santos, quando foi para a área já nos minutos finais em busca do empate.

"Peguei um pouco da transição. Quando era bem moleque, nas escolinhas, ainda podia pegar com a mão na bola [após o recuo]. Depois, peguei essa transição e foi algo que inseri, senti a necessidade. Também tive sorte de pegar treinadores de goleiros que tinham essa visão. E sempre gostei de participar de rachão, de jogar na linha. Isso é trabalhado diariamente com os treinadores de goleiros. O Audax [do Diniz], realmente, abriu os olhos no Brasil de que isso poderia ser feito. E os treinadores também começaram a olhar com mais carinho para isso, de inserir os goleiros na criação das jogadas. Acho que o futuro é esse. Acho que a próxima geração de goleiros que vai vir, já vai vir mais pronta e trabalhada neste sentido. Eu, graças a Deus, pude ter essa visão, trabalhar isso, o que me dá um pouquinho mais de mercado", garante.