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Mário banca Marcão, vê 'covardia' em críticas e crê em Flu na Libertadores

Mário Bittencourt bancou a permanência do técnico Marcão no Fluminense e crê em vaga na Libertadores - Lucas Mercon/Fluminense FC
Mário Bittencourt bancou a permanência do técnico Marcão no Fluminense e crê em vaga na Libertadores Imagem: Lucas Mercon/Fluminense FC

Caio Blois

Do UOL, no Rio de Janeiro

15/01/2021 14h11

O presidente Mário Bittencourt voltou a atender a imprensa 129 dias depois de sua última entrevista coletiva. Ao quebrar o silêncio, usou os microfones para bancar a permanência de Marcão no comando do Fluminense e afirmar sua convicção na classificação para a Libertadores.

"O Odair [Hellmann] nos comunicou de sua saída e optamos por repetir o que fizemos ao fim de 2019, que era efetivar a comissão permanente, que conhece o dia a dia do trabalho, e buscar um treinador naquele momento seria muito difícil, não traríamos um nome que a gente não teria certeza da condição, poderíamos também ter o trabalho recusado. Se tivermos o mesmo aproveitamento -- que foi de 53% --, conseguiremos a vaga na próxima Libertadores, ou pré-Libertadores. O planejamento pode dar certo ou dar errado, mas foi com convicção e segue com convicção", declarou.

Na sétima colocação do Campeonato Brasileiro com 43 pontos, o Tricolor vive momento de instabilidade após sofrer uma goleada de 5 a 0 do Corinthians, concorrente direto na disputa por uma vaga na principal competição de clubes do continente, que o clube não joga desde 2013. Apesar do mau início com Marcão — são apenas quatro pontos em 15 possíveis —, Mário vê as críticas como "covardes" por conta do pouco tempo à frente da equipe.

"Vou discordar que exista uma ruptura de modelo. São dois profissionais diferentes, mas ele tenta implementar algumas ideias dele no modelo do Odair. Além de tudo, o Marcão teve covid-19. Acho uma covardia a cobrança que se faz com os profissionais do futebol brasileiro. Tem jogo de três em três dias, é doloroso. Leva-se tempo para evoluir. Olhamos o investimento que a gente tem, o tempo. Nós temos dificuldades financeiras e de reposição de peças. Tivemos uma troca de treinador que não foi planejada, técnico com covid-19. Tento dar minimamente tempo para que se desenvolva um trabalho. No primeiro turno com o Odair, foi nesse momento que tivemos uma queda. Tentaram instaurar uma crise aqui dentro. E superamos. Vamos seguir o mesmo método aqui dentro agora. Vamos conseguir? Não sabemos", afirmou.

Com a equipe em momento irregular na fase final do Brasileirão, Bittencourt também foi questionado sobre sua responsabilidade caso o Tricolor, que passou a competição toda na parte de cima da tabela, não se classifique para a Libetadores.

"Responsabilidade no clube de futebol é sempre do presidente. A responsabilidade na derrota ou na vitória é minha. Se formos para a Libertadores, é um presente para a torcida e para o clube. Os artistas do espetáculo são os jogadores, oe sforço é todo dos funcionários. Esperamos voltar a nossa regularidade nos próximos 9 jogos e colocar o Fluminense onde ele merece apesar de todas as dificuldades que temos nesse momento. Não vai ser breve o momento para termos um time muito forte com grande investimento financeiro, realidade que todos conhecem", respondeu.

Fora de campo, o mandatário foi questionado sobre a situação envolvendo o atacante Marcos Paulo, que, em fim de contrato, já pode assinar um pré-contrato com qualquer equipe sem que o Fluminense seja recompensado. Um dos principais ativos do clube, o jogador de 18 anos não respondeu as propostas de renovação feitas pela diretoria, em negociação iniciada em junho de 2020, e aguarda a próxima janela de transferências para buscar um clube na Europa no mercado da bola após tentativas do Olympique de Marselha e do Torino em 2020.

"Fizemos outra proposta pelo Marcos Paulo em dezembro, porque queríamos que ele permanecesse. Ele ficou de nos dar uma resposta, mas prefere esperar a última janela para recompensar o Fluminense por sua formação. A última conversa que tive com o estafe é que estão na Europa buscando clubes que possam atender ao jogador e ao Fluminense. Sigo dando crédito às pessoas que cuidam da carreira dele, e temos a esperança que possamos fazer uma operação boa para todos nós", explicou.

Apesar de acreditar em um bom negócio em 2021, Bittencourt admitiu que os valores dificilmente chegarão próximos ao que o Flu gostaria de receber pelo atacante, não só pela situação ruim do mercado da bola, mas também porque o jogador pode sair de graça no meio do ano. A tentativa, dentro da situação atual, deve ser pela manutenção do percentual visando uma futura negociação.

"Certamente, óbvio que não vamos receber propostas que receberíamos uma proposta igual a que chegou antes, porque o clube sabe que ele pode sair de graça. Esperamos uma proposta menor, que a gente fique com um percentual além do mecanismo de solidariedade da Fifa", disse.

Outro grande ativo financeiro do clube, o meia Miguel, de apenas 17 anos, integrado aos profissionais desde 2019, tem os mesmos representantes que Marcos Paulo, a TFM Agency, antiga Traffic. Seu vínculo vai até junho de 2022. Apesar disso, Mário Bittencourt não tem o temor que a situação se repita.

"Jamais atribuiria isso ao estafe dos atletas. Os jogadores apesar da pouca idade são homens, confio neles. São pessoas que estão no futebol há anos, nunca me deixaram má impressão. Representam vários jogadores do clube. O Miguel ainda tem um contrato mais longo, está integrado ao futebol profissional, jogar ou não é opção do treinador. Espero que a gente consiga evoluir com o Miguel nas negociações por uma manutenção", destacou.

Ao fim da coletiva, Mário Bittencourt também comentou a saída de Nenê do time titular. O UOL Esporte apurou que o meia de 39 anos, artilheiro do Flu na temporada, com 20 gols, ficou insatisfeito com a situação. O presidente afirmou não ter ciência da situação.

"Não presenciei nada. Não me envolvo nas questões com comissão técnica e jogadores. Chega a ser até clichê falar que um jogador fica chateado quando não está jogando. Um grupo de jogadores é composto por 11 atletas felizes e outros que querem entrar. Quem está de fora quer estar lá dentro, é profissional. Não sei se o Nenê realmente se chateou, acho o termo "barração" feia, mas ele certamente ficou chateado".

O presidente do Fluminense acredita, entretanto, que narrativas como essa aparecem por conta dos resultados ruins.

"Se o Marcão fizer uma mudança para sábado, outro jogador vai ficar chateado. O nosso ambiente é ótimo, problema nenhum interno. O grupo se dá muito bem. Seguimos com o mesmo ambiente. Tudo isso só está acontecendo porque tivemos uma derrota feia. Se tivéssemos empatado ou vencido, ninguém estaria falando disso. Só pegar o exemplo do nosso rival, que já estão dizendo que tem problema porque o momento não é bom. Se fosse em 2019, não se falaria nisso. É criar crise onde não existe", opinou.

Confira outros tópicos da coletiva de Mário Bittencourt:

Pagamento do Profut

As parcelas estavam suspensas. Teremos que pagar o retroativo. O prazo que temos é até o final do mês. Temos que pagar alvo em torno de R$ 2,8 milhões. De surpresa. Nós não perdemos o ato trabalhista. Foi concedido para nós em 2011, concluímos o pagamento em 2020. Em abril de 2020 tivemos que fazer uma petição. A juíza determinou que a gente quite até agosto de 2021 com parcelas. Temos que pagar em torno de 90 milhões de dívidas.

Retorno de Rodolfo após doping

Com relação ao Rodolfo, quando ele foi suspenso, a previsão de penalidade poderia ser de quatro anos e até banimento no futebol. O é um problema de droga social e dependência química. Essas pessoas precisam da nossa ajuda. Não podemos abandonar. Quando o Rodolfo foi pego no doping, eu tinha acabado de assumir a presidência. A legislação permite que o contrato fique totalmente suspenso e eu pare de pagar o salário, mas eu fiz um acordo com o Rodolfo de que ele seria tratado no clube e que a gente pagasse 20 ou 25% do salário dele enquanto durasse o contrato conosco. Para que ele pudesse manter a família dele com dignidade. Ele cumpriu integralmente o tratamento durante este período. Foi ajudado pelo clube neste sentido e fomos pagando uma parcela pequena do salário dele. Estamos reintegrando ele na segunda-feira ao grupo. Ele sabe das dificuldades de voltar a jogar, pois tem a concorrência. Mas o nosso dever como instituição era reintegrar este rapaz. Ele será muito bem-vindo. Acho que ele não pode ser inscrito mais no Brasileirão, mas poderá ser inscrito na próxima temporada.

Turno pior e goleada para o Corinthians

Tivemos dificuldade nesse período do primeiro turno. Estamos "devendo" três pontos dessa campanha. Com o Odair, também começamos pior o turno do que o returno. É assim que olhamos a tabela. Isso não apaga a derrota horrível que tivemos na quarta-feira. Foi o único jogo que perdemos por mais de dois gols de diferença. A derrota que sofremos foi feia, horrível, estamos muito chateados e tristes, para não usar outra palavra. Temos que procurar os erros, discutir internamente, todos nós estamos muito chateados e com muita vontade de apagar essa péssima apresentação após um grande resultado contra o nosso rival. A partir de amanhã, esperamos reencontrar o caminho da vitória e atingir o nosso objetivo.

Ideias de Marcão após saída de Odair

O Odair desenvolveu um trabalho de quase dez meses. Há um novo comando, com suas ideias. Em 2019, quando o Marcão também assumiu, ele optou por manter um modelo parecido com o do Fernando Diniz. Ele está tentando colocar as ideias em cima do modelo do Odair. E, coitado, ainda tem Covid. Acho uma covardia a cobrança que se faz com os profissionais do futebol brasileiro. Tem jogo de três em três dias, é doloroso. Leva-se tempo para evoluir. Nós, internamente, avaliávamos bem o trabalho do Odair, tanto que gostaríamos de renovar. Mas nós e a própria imprensa também criticavam o desempenho. O futebol brasileiro é "resultadista". Quem trabalha aqui dentro não olha só o resultado. Olhamos o investimento que a gente tem, o tempo. Nós temos dificuldades financeiras e de reposição de peças.

Marcão fica em 2021?

Nosso planejamento para 2020 era a permanência do Odair, que contratamos em janeiro. Quando fizemos o planejamento, era impossível prever a pandemia e a extensão do Brasileirão até março de 2021. Além de tudo, quando buscamos a renovação até o final de 2021, o Odair recebeu uma proposta irrecusável do Mundo Árabe, e isso fez com que a gente perdesse nosso treinador já bem próximo do fim do ano. A comissão permanente é um projeto que montamos já na temporada passada, como outros clubes usaram esse modelo antes com auxiliar permanente. Não tenho a filosofia de tirar treinadores, acho importante deixar os trabalhos se concluírem. Acreditávamos no Odair, que queríamos que ficasse para 2021. Agora, usamos a mesma estratégia de 2019. Nos livramos do rebaixamento com um aproveitamento bem melhor.

Semelhanças com 2009

O treinador [Cuca] foi fazendo suas experiências e nós tínhamos uma safra muito boa naquele momento. Não entendi o comparativo com 2009, porque assumi a gerência em setembro, na quarta rodada do returno. Tínhamos 17 pontos. Cheguei dia 4 e o Cuca chegou dia 5. O primeiro jogo dele foi um empate por 1 a 1 com o Náutico no Maracanã, depois 0 a 0 com o Botafogo no Engenhão, depois 5 a 1 para o Grêmio no Olímpico, na sequência vencemos o Avaí por 3 a 2 no último minuto, no Maracanã também, e perdemos para o Flamengo por 2 a 0. Ele fez 5 de 15 pontos, todos queriam que demitíssemos o Cuca, mas optamos por mantê-lo. Decisão tomada pelo vice-presidente Ricardo Tenório, coordenador de futebol Branco e eu, que fazia a gerência. Mantivemos o treinador, e o Cuca fez um grande trabalho. Como era um momento de desespero, todos davam o clube como rebaixado, fomos fazendo as nossas experiências, tínhamos uma safra muito boa de Xerém, com Alan, Maicon, Digão, Tartá e outros muitos. E aquele time era a base do time campeão brasileiro de 2010, o que ainda não sabíamos. Colocar os jovens foi uma opção do treinador, nós temos reuniões com o treinador, obviamente, com a visão deles, tanto antes quanto depois do jogo. Se eu interferisse no dia a dia, perderia o direito de cobrar.

Samuel Xavier

Não há nenhuma negociação em andamento. Monitoramos o jogador há algum tempo. Tentamos o jogador em 2020, mas não temos nenhuma negociação em andamento.

Gastos com o time sub-23, criado em 2020

A ideia é que no futuro próximo tenhamos 100% dos jogadores da casa. Alguns clubes que tem um investimento maior não tem essa categoria porque compram os jogadores que querem. Quando criamos o projeto, tinhamos 19 jogadores sem idade para o sub-20, fora do profissional, emprestados e com o clube pagando os salários. Temos 30 jogadores no elenco profissional e 220 em Xerém. Ou deixa ir embora de graça, ou paga os salários para emprestar ou criávamos o sub-23. Fizemos o campo 3 para o treinador do profissional olhe para esse time dos aspirantes. Podemos também recuperar o ritmo de jogo dos jogadores que voltam de lesão, como foi o Frazan, que pediu para jogar e ganhar minutagem. O Martinelli, por exemplo, pediu para jogar o sub-23 mesmo no dia seguinte de entrar no Fla-Flu. Temos jogadores que chegam de fora do clube porque temos déficit em algumas posições nos times de baixo ou de cima, e por isso aproveitamos oportunidades de mercado com jogadores que chegam de graça. O sub-23 custa de 4 a 5% do profissional. Gastávamos esse dinheiro do mesmo jeito para o jogador ficar fora do clube. Estou tentando, inclusive, que tenhamos um Campeonato Carioca sub-23. O projeto nos atende financeiramente, na manutenção dos atletas, na maturação dos atletas. Vamos integrar alguns desse time para 2021.

Perfil de contratações em 2020

Vou discordar um pouco sobre perfil de contratações. Temos muito mais jogadores da base que quando cheguei. O elenco era mais jovem, mas com poucos criados aqui. Entendemos que em 2019 não tínhamos muito jogadores da casa, mas o elenco era muito jovial e isso foi prejudicial. Há um estudo que os elencos vitoriosos normalmente, tem em média entre 27 e 28 anos. Jogadores jovens que não pertencem ao clube, geralmente, temos que comprar, como foi o Fernando Pacheco e o Michel Araújo. Foram as duas únicas compras que a gente fez. Eles dois não custaram nem US$ 1,5 milhão, e ainda assim, parcelando, pagamos com dificuldade. Sem dinheiro, buscamos jogadores mais experientes, sem custo de aquisição, e juntamos com jogadores da base. Nós trouxemos Fred e Nenê acima de 35 anos, trouxemos Caio Paulita, Felippe Cardoso, Fernando Pacheco, Michel Araújo, que são jovens, Danilo Barcelos tem a idade mediana, Luccas Claro que chegou com a gente numa posição excelente. Trouxemos o Hudson, um pouco mais velho, e o Yago, que é jovem. É uma média. É uma filosofia de tentar um equilíbrio.

Orçamento para 2021

A incerteza é justamente o motivo de projetar receitas e despesas maiores. Você falou das despesas, mas as receitas também cresceram. A explicação é simples e didática: todas as receitas de 2020 foram jogadas para 2021, porque o orçamento é uma peça de perspectiva sobre o ambiente que você deve ter. Parte do reajuste de salarial é em virtude de um aumento de 20% na folha de futebol em 2021 para tentar melhorar o resultado de campo. Estamos prevendo um aumento de 20% na folha de futebol profissional, que hoje, líquida, é menor que R$ 3 milhões. Com encargos, chega a R$ 4,3 milhões. Com os funcionários, chega a R$ 6 milhões. Todos os outros entre os 10 primeiros, tem folhas de mais de R$ 10 milhões por mês. A nossa é de R$ 3 milhões. Pagamos 43% a mais de tributos. Ano passado, gastamos R$ 1,5 milhão só de taxa de inscrição de jogadores em federações. A despesas são proporcionais ao aumento de receitas. É por isso que estamos tentando quitar dívidas do passado, como a da Fifa, para não ficarmos sem poder inscrever. Não é desajuste do departamento financeiro, há uma expectativa de aumento de despesas e receitas.

Marcos Paulo

É um problema que não é do Fluminense, é da legislação brasileira. Como advogado e presidente do clube, tenho dever de dizer. A legislação Fifa só permite que um contrato antes dos 18 anos seja assinado por três anos. A partir dos 18, pode ser anunciado por cinco anos, desde que o atleta queira. Todo jogador quer jogar fora do país, a carreira é curta, pode resolver a vida da família. Ele [Marcos Paulo] recebeu uma proposta antes do João Pedro, mas não foi vendido. Em junho de 2020 iniciamos conversas pela renovação, um ano antes de acabar, fizemos propostas, e o atleta e seu estafe acharam melhor esperar uma proposta naquela janela. O atleta teve um contato com um clube da França, se acertou, o estafe nos comunicou mas a proposta não chegou. Voltamos a tentar renovar, com uma proposta significante, e o jogador pediu para esperar o fechamento da janela para responder. Ao fim de outubro, um dia antes do fim da janela, chegou uma proposta de empréstimo do Torino com obrigação de compra, o Marcos Paulo tinha interesse de ir, mas o Torino não nos respondeu porque adquiriu outro jogador na Europa e desistiu do Marcos Paulo. Fizemos outra proposta pelo Marcos Paulo em dezembro porque queríamos que ele permanecesse. Ele ficou de nos dar uma resposta, mas prefere esperar mais uma proposta na última janela para recompensar o Fluminense. A última conversa que tive com o estafe é que estão na Europa buscando clubes que possam atender ao jogador e ao Fluminense. Sigo dando crédito às pessoas que cuidam da carreira dele, e temos a esperança que possamos fazer uma operação boa para todos nós.

Tentativa de mudança na Lei Pelé

Já agendei uma reunião na CBF com outros presidentes de clube e vou propor um debate sobre isso, para que possamos buscar junto à Fifa uma mudança nessa legislação porque somos um mercado vendedor, muito mais frágil que os europeus, e vou tentar uma mudança junto aos outros clubes para proteger não só o Fluminense.

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