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Árbitro, técnico e jogador? Guilherme Ceretta vira 'faz tudo' nos EUA

Árbitro Guilherme Ceretta de Lima atuando pelo International Soccer Association, dos Estados Unidos - Arquivo pessoal/Guilherme Ceretta
Árbitro Guilherme Ceretta de Lima atuando pelo International Soccer Association, dos Estados Unidos Imagem: Arquivo pessoal/Guilherme Ceretta

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

15/01/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Guilherme Ceretta deixou a CBF em 2015 e hoje reside nos Estados Unidos
  • Por lá, ele atua como jogador, técnico da base e segue com a carreira de juiz
  • Ceretta quer dar sequência à profissão e almeja chegar na Major League
  • Ele ainda guarda mágoas de Dudu e hoje diz estar em paz com a CBF

Eleito duas vezes melhor árbitro do Paulistão e com duas finais do Estadual no currículo, Guilherme Ceretta de Lima foi durante bom tempo um dos principais profissionais do apito no Brasil. Mas um desentendimento com a direção da Confederação Brasileira de Futebol o fez deixar o quadro da entidade em 2015 para não voltar mais. Porém, engana-se quem acha que Ceretta largou a profissão. Ele não só continua atuando como árbitro como também acumulou duas novas funções em seu atual país, os Estados Unidos: jogador e técnico.

O brasileiro treina o time de base do Boca Juniors na Florida Youth Soccer Association (FYSA) e se arrisca como jogador pelo International Soccer Association na UPSL (United Premier Soccer League), uma liga semiprofissional dos Estados Unidos que reúne uma série de conferências. Fora isso, segue com a carreira de homem do apito nessas duas organizações.

"Na conferência que eu jogo, eu não apito. O legal daqui é isso. A gente consegue desempenhar vários programas como pessoa dentro de uma liga só. Aqui, você é honesto sem precisar provar. Você pode fazer jogos da mesma competição, não sendo da mesma conferência. E na categoria de base, você pode atuar como árbitro até do clube que você trabalha. Eles acreditam muito na honestidade das pessoas", afirma Guilherme Ceretta, em entrevista ao UOL Esporte.

Árbitro Guilherme Ceretta também virou jogador nos Estados Unidos - Arquivo pessoal/Guilherme Ceretta - Arquivo pessoal/Guilherme Ceretta
Imagem: Arquivo pessoal/Guilherme Ceretta

Nos Estados Unidos, o árbitro explica que tem mais liberdade para organizar a sua escala. "Você sabe que tem jogo e se coloca à disposição para atuar como árbitro. Não é igual no Brasil, que você vai onde e quando eles querem. Não que esteja errado, mas aqui o sistema é assim", esclarece Ceretta, que brinca ao falar sobre as chances como jogador e agradece o dono da escola pelas oportunidades que vem tendo no país.

"O dono da escola que escala. Já fiquei no banco várias vezes. Não tenho cadeira cativa, não. O melhor joga. Não está [bem], senta [risos]", diz. "O dono do time que eu jogo é o Anthony Olischar, ele é o responsável por tudo e me deu essas oportunidades", acrescenta o árbitro de 37 anos, que reside em Boca Raton, na Flórida.

Sonho de apitar a MLS

Guilherme Ceretta atuando como árbitro nos Estados Unidos - Arquivo pessoal/Guilherme Ceretta - Arquivo pessoal/Guilherme Ceretta
Imagem: Arquivo pessoal/Guilherme Ceretta

Desde fevereiro de 2016 nos Estados Unidos, Guilherme Ceretta ainda aguarda algumas burocracias para realizar o seu grande objetivo no país: apitar a Major League Soccer (MLS), principal competição dos EUA, que hoje reúne nomes como Gonzalo Higuaín e Nicolás Lodeiro.

"Ainda estou correndo atrás de documentos e oportunidades porque o objetivo é conseguir apitar na MLS. É questão de prazo, de documentação", explica. "Mas fazendo jogos da UPSL e mostrando meu trabalho já existe uma conversa e, se Deus quiser, uma hora a gente vai chegar. Ainda almejo esse passo", acrescentou.

Mudou até apelido de amigo para esquecer Dudu

Dudu é expulso por empurrar Guilherme Ceretta na final do Campeonato Paulista - Rubens Cavallari / Folhapress - Rubens Cavallari / Folhapress
Imagem: Rubens Cavallari / Folhapress

Um ano antes de chegar aos Estados Unidos, Ceretta viveu o momento mais turbulento de sua carreira. Durante a decisão do Paulistão de 2015, entre Palmeiras e Santos, o árbitro levou um empurrão pelas costas de Dudu, que se irritou depois de se envolver em uma confusão com Geuvânio e ser expulso de campo, assim como o santista.

Guilherme Ceretta levou a melhor na Justiça, que condenou Dudu a indenizá-lo por dano moral. Ainda assim, o episódio deixou marcas negativas no árbitro.

"Em relação a esse jogador que você comentou, não pronuncio o nome dele. Tenho até amigo com esse apelido e arrumei outro nome pra não ter que falar... É uma coisa que não me faz bem. Deixou uma marca negativa em uma carreira que, se não foi brilhante, não tinha tido nenhum problema grandioso como foi esse. Me causou prejuízo e, por isso, não cito esse nome e não gosto de falar muito desse assunto. Foi um marco negativo da minha carreira que não foi causado por mim. Outros causaram. E quem sofreu todas as consequências fui eu", lamentou.

Em paz com a CBF

Ao anunciar a saída da Confederação Brasileira de Futebol, em 2015, Guilherme Ceretta criticou o tratamento recebido pela comissão de arbitragem da entidade e ainda disse que não ficaria na entidade enquanto Sérgio Corrêa estivesse no comando. Cinco anos depois, o clima entre ambos é de paz, até com palavras de agradecimento ao ex-mandatário.

"Não me arrependo de ter saído [da CBF], mas, sim, de como saí. Mas antes de eu ter saído, tinham saído comigo, internamente. Isso que me deixou triste. Mas eu já pedi desculpas para o Sérgio, não tem mais mágoa de nenhuma das partes. Tem a lembrança de tudo que aconteceu, mas hoje tenho relacionamento normal com ele, agradeço por tudo que fez por mim e até por ter me desculpado depois de forma amigável. Depois a gente vai descobrindo que, infelizmente, informações que não eram verdades chegavam pra ele, e ele está ali pra tomar decisões baseado no que recebe. Mas é passado, não tenho mágoa de ninguém e vamos seguir em frente", disse.

02.08.2013 - Guilherme Ceretta de Lima foi o árbitro do duelo entre Palmeiras e Bragantino - Reinaldo Canato/UOL - Reinaldo Canato/UOL
Imagem: Reinaldo Canato/UOL

Questionado pela reportagem, o árbitro deu mais detalhes de como acontecia, segundo ele, o boicote ao seu trabalho por parte da CBF.

"Todo mundo tem a sua preferência. A pessoa que não gosta de você, quando vai analisar um jogo seu, acaba misturando. Então, um jogo que você foi nota 7, 8 chegava pra ele [Sérgio Corrêa] bem menos. Infelizmente, isso faz parte do ser humano. Existem pessoas e pessoas. Mas foi bom enquanto durou", disse o árbitro.

"Agradeço muito ao Coronel Marinho, ao Sérgio [Corrêa], Reinaldo [Carneiro Bastos], Marco Polo [Del Nero] por ter participado tanto tempo de uma federação tão importante. São pessoas que me ajudaram. Hoje estou aqui, falando com você porque estive presente nessas entidades por mais de dez anos em alto nível. Isso não tem preço. Só tenho que agradecer. Gratidão sempre, porque só assim a gente vai conquistando mais coisas", completou.