Topo

De Abel a Jesualdo: Por que 'pupilo' está dando certo onde professor falhou

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, e Jesualdo Ferreira, ex-Santos - Cesar Greco/Palmeiras e Ivan Storti/Santos FC
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, e Jesualdo Ferreira, ex-Santos Imagem: Cesar Greco/Palmeiras e Ivan Storti/Santos FC

Eder Traskini e Thiago Ferri

Do UOL, em Santos e São Paulo

05/12/2020 04h00

O português Abel Ferreira é a nova sensação do Brasil. O técnico do Palmeiras transformou a equipe antes comandada por Vanderlei Luxemburgo e resgatou a boa fase. Ainda que afirme não ter um único mestre para se espelhar, ele aprendeu muito com o 'professor' Jesualdo Ferreira, ex-treinador do Santos e substituído por Cuca. Os dois clubes se enfrentam hoje (5), às 17h, na Vila Belmiro, em duelo da 24ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Conhecido exatamente pela alcunha 'professor', Jesualdo, de 73 anos, é tido como um dos grandes em Portugal e referência na escola do país para nomes como José Mourinho, Leonardo Jardim, Marco Silva, André Villas-Boas e, claro, Abel Ferreira, seu comandado no Braga, entre 2004 e 2005.

"É importante perguntar 'como' e 'por que' como técnico. Eu aprendi isso com um técnico chamado Jesualdo Ferreira, no Braga. Ele era um professor. Eu tive alguns comandantes que treinavam. Outros ensinavam. Os que treinavam gritavam: 'pressiona!'. Mas quando? Como? Quem? Onde? Jesualdo estava sempre fazendo perguntas: 'Aonde você está indo? Por quê? Se tiver outro atacante aqui, qual você vai marcar? Por quê?'. Tendo estas conversas você tem certeza que o jogador sabe o que têm de fazer. Esta postura realmente me ajudou, eu me considero um técnico que gosta de ensinar e pergunto aos meus jogadores o 'como' e 'por que', assim como o Jesualdo me ensinou", disse Abel, em texto no Coaches' Voice.

Há um mês no Brasil, o comandante vive lua de mel no Palmeiras. Com sete vitórias, um empate e uma derrota, o técnico classificou o time à semifinal da Copa do Brasil, às quartas da Libertadores e deu sequência à recuperação no Brasileiro. Hoje, faria seu primeiro clássico, mas contraiu a Covid-19 e está em isolamento — seu auxiliar Vitor Castanheira comandará o Verdão.

Mesmo constantemente desfalcado, seja por lesões ou pelo surto do novo coronavírus que agora atingiu Abel, o Verdão demonstra evolução no estilo de jogo agressivo do português. Independente da escalação e do esquema, o time tem sido elogiado pelo padrão que demonstra.

O relacionamento, também, é muito bom. A diretoria está muito satisfeita com o que tem visto do trabalho do treinador, que por sua vez rasga elogios ao grupo e à estrutura do Palmeiras. Tanto que no começo da semana decidiu recusar uma proposta do Al Rayyan, do Qatar, que ofereceu salário de 3 milhões de euros (cerca de R$ 18,6 milhões) por temporada — o dobro do que recebe no Verdão.

Sua ideia é dar sequência a um projeto que aparenta ser promissor na Academia de Futebol. Ele assinou vínculo até o fim de 2022, com possibilidade de renovar até 2023. A expectativa de sucesso, porém, faz o próprio Palmeiras saber que o assédio do exterior não será pequeno pelo comandante de 41 anos.

O clima é bem diferente daquele que Jesualdo viveu. Ele pegou uma equipe 'redonda' das mãos do argentino Jorge Sampaoli, mas nunca conseguiu deixar de lado a enorme sombra do argentino em Santos. Sampaoli saiu brigado do Peixe, mas tinha uma conexão com o torcedor que não era vista há muitos anos, sobretudo pelo futebol extremamente ofensivo.

Quando Jesualdo chegou, a opção por priorizar uma equipe mais equilibrada, com um volante de contenção sempre escalado entre os titulares já fez parte do santista torcer o nariz. E, quando os resultados não vieram de imediato, o português se tornou vítima da bagunça chamada 'Santos FC em 2020'.

A pandemia também atrapalhou no quesito ritmo de jogo, mas hoje, no último mês do ano, é possível enxergar o principal problema de Jesualdo: a lesão do atacante Marinho. O camisa 11 vive fase espetacular e é, de muito longe, o jogador mais decisivo do time no ano.

O português perdeu o jogador logo na primeira partida da temporada e, depois, enfrentou uma inacreditável sequência de cinco jogos com expulsões de forma consecutiva — que culminou na eliminação do Paulistão, ainda nas quartas de final, após cartão vermelho recebido justamente por Marinho.

Naquele momento, a equipe de Jesualdo apresentava sinais de melhora e adaptação ao jogo do português, mas não houve tempo: após apenas 15 jogos no Brasil, Jesualdo Ferreira acabou demitido. Cuca, então, voltou depois de um ano e meio fora e será o comandante da equipe no clássico contra o Palmeiras, equipe em que venceu o título brasileiro de 2016.

FICHA TÉCNICA:

SANTOS x PALMEIRAS
Data:
5 de dezembro de 2020, sábado
Horário: 17h (de Brasília)
Local: Vila Belmiro, em Santos (SP)
Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza (Fifa/SP)
Assistentes: Marcelo Carvalho Van Gasse (Fifa/SP) e Neuza Ines Back (Fifa/SP)
VAR: José Cláudio Rocha Filho (SP)

SANTOS: John; Pará, Lucas Veríssimo, Luan Peres e Felipe Jonatan; Alison, Diego Pituca e Soteldo; Marinho, Lucas Braga e Kaio Jorge. Técnico: Cuca

PALMEIRAS: Weverton; Mayke, Emerson Santos, Alan Empereur e Viña; Luan, Zé Rafael e Raphael Veiga; Lucas Lima, Gabriel Veron e Willian. Técnico: Vitor Castanheira (auxiliar)