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Everson relata choro e contagem de dias para abraçar os filhos após covid

Everson aproveita as folgas e tempos livres no futebol ao lado da esposa e dos filhos - Arquivo pessoal
Everson aproveita as folgas e tempos livres no futebol ao lado da esposa e dos filhos Imagem: Arquivo pessoal

Guilherme Piu

Do UOL, em Belo Horizonte

04/12/2020 04h00

A Covid-19 fez o goleiro Everson mudar completamente de rotina em sua própria residência. Caseiro e bem família, não foi fácil para o jogador do Atlético-MG ficar isolado por dez dias dentro de um quarto para, além de se recuperar da doença e voltar a fazer o que mais gosta, que é jogar futebol, proteger também do novo coronavírus a esposa Rafaela, os filhos Marcos Paulo, de 10 anos, Melissa, 8, e Rafael, 5.

Tendo que se manter isolado das pessoas mais importantes da sua vida, Everson relatou ao UOL Esporte toda a dificuldade de passar o período de sua quarentena sem interagir com seus três filhos e a mulher.

"Quando fiquei sabendo que estava infectado, a primeira coisa que fiz foi me isolar em um quarto na minha casa, um cômodo mais distante e de acesso mais difícil das crianças. Daí que o Rafael, meu filho mais novo, sentiu minha falta na hora do jantar, por não estar à mesa. Então, ele perguntou por que eu não estava lá, e a minha esposa contou que eu tinha pegado Covid. Ele começou a chorar, porque, apesar de ser novo, acompanha e vê que quem tem Covid não pode ter contato com as outras pessoas", contou.

Nesta semana, o próprio goleiro publicou em sua conta no Instagram um vídeo do exato momento em que seu filho caçula chega correndo para abraçá-lo no primeiro dia depois do fim da quarentena. O jogador havia acabado de chegar da Cidade do Galo, o centro de treinamento atleticano que viveu surto de Covid-19 no mês passado, onde repetiu o exame e viu que estava liberado para retomar o contato social e os treinos.

"Agora pode abraçar o papai. Saudade de você, cara, dá um beijão aqui. Agora, o papai está bom, que saudade, te amo", disse na gravação, deixando o filho com toda a expressão de felicidade no rosto.

"Ele chorou por não poder me abraçar. Só que não imaginava que seriam por dez dias. No mesmo dia do teste positivo, ele tentou entrar no quarto, não deixei, falei que seriam dez dias sem abraço. Quando bateu o quinto, sexto dia, ele colocava a cabecinha na porta e perguntava quantos dias faltavam. Eu respondia que faltavam seis, cinco. No nono dia, eu falei que iria treinar, fazer exame, e se desse tudo certo a gente poderia brincar, se abraçar, dormir juntos... Quando eu cheguei em casa, dei um assobio e comecei a gravar. Ele desceu correndo, veio me abraçar sabendo que eu tinha treinado pelo horário, sabendo que poderia dar abraço", disse.

Acostumado com a rotina de jogos e viagens, Everson sabe muito bem o que a saudade faz com o coração de um jogador de futebol. Mas, apesar da distância, o dia da volta é sempre alegre pelo reencontro. Agora, ficar em casa tendo que manter isolamento por obrigação, na verdade, doeu mais no goleiro.

A família, por algumas vezes, se via de longe, mas com toda a segurança. Everson almoçava e jantava em uma mesa separada da esposa e dos filhos. Foi assim até o dia em que foi liberado para retornar aos trabalhos e ao convívio social.

"Foram dias difíceis. Ver os seus filhos e esposa, não poder ficar com eles, não poder acompanhar o cotidiano deles, porque eu sempre os acordo para as aulas on-line, vê-los brincando e querendo brincar, mas sem ter acesso nenhum com eles, sem proximidade. Para mim, foi muito ruim, por estar em casa, o corpo ali, mas totalmente ausente, sem poder ajudar, sem poder estar perto, Eu estava como o Rafael, no quinto dia já estava contando a hora para acabar isso tudo e estar mais ativo com eles, meu alicerce, meu porto seguro", emocionou-se.

Religioso e devoto de Nossa Senhora Aparecida, Everson se privou, antes de dormir, até das orações noturnas com a esposa Rafaela e os filhos.

"A Rafaela foi quem segurou as pontas, quando a gente perde algum jogo importante ou tem uma falha ou outra, ela que me aguenta em casa, sempre sendo esse alicerce. E principalmente com as crianças, ela esteve junto comigo, graças a Deus, a minha sogra estava junto e a ajudou. Nos deveres das crianças, ela também não abre mão e mais uma vez ajudou bastante. Até nós dialogávamos à distância. Antes de dormir, ela passava no quarto para dar boa noite, nós somos muito devotos de Nossa Senhora Aparecida, sempre fazíamos oração antes de dormir, e nesse período eu não podia fazer. Só ficava na porta ouvindo eles orando antes de dormir, porque no quarto ela evitava de entrar", revelou.

Ao UOL Esporte, Everson disse que durante sua recuperação perdeu o olfato e teve por cinco dias uma gripe "normal". O jogador agradeceu por ter passado por essa dificuldade sem graves problemas, mas lamentou que no Brasil várias pessoas perderam familiares por causa da doença.

"A gente que sentiu na pele sabe. Não tive tantos sintomas fortes, nada de anormal, mas, infelizmente, é uma doença que a gente não vê, não sente, mas dentro do clube aprendemos que afeta muita gente. Graças a Deus, passamos ilesos, só que, infelizmente, muita gente no Brasil não conseguiu passar por isso, perdeu entes queridos", lamentou.

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