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Ignorado pelo PSG, Cavani busca dar o troco em desafeto Leonardo

Cavani marcou duas vezes contra o Southampton pelo Campeonato Inglês - MIKE HEWITT/AFP
Cavani marcou duas vezes contra o Southampton pelo Campeonato Inglês Imagem: MIKE HEWITT/AFP

João Henrique Marques

Colaboração para o UOL, em Paris (FRA)

02/12/2020 04h00

Quando recebeu um telefonema de Neymar, Edinson Cavani já tinha sua decisão de sair do Paris Saint-Germain. O brasileiro insistia para o amigo uruguaio participar das finais da Liga dos Campeões, em Lisboa, mas não foi capaz de demovê-lo de um posicionamento polêmico e que tinha como alvo o diretor de futebol do clube, o brasileiro Leonardo. O maior artilheiro da história do PSG, com 200 gols, em 301 jogos, foi embora sem qualquer despedida.

O rancor com Cavani ficou dentro do PSG. Completando 50 anos de história nesta temporada, o clube não o colocou em um banner comemorativo e ainda elegeu Ibrahimovic, Pauleta e Ronaldinho como os maiores atacantes da história. Hoje (2), às 17h (de Brasília), o atacante uruguaio do Manchester United encara o ex-time podendo se tornar agora um de seus maiores vilões no duelo no estádio Old Trafford, na Inglaterra, pelo Grupo H da Champions.

Em boa fase após fazer dois gols na vitória de virada por 3 a 2 diante do Southampton, pelo Campeonato Inglês, Cavani será titular do Manchester United em busca da classificação antecipada às oitavas de final do torneio europeu. O time é o líder da chave com nove pontos. Já o PSG precisa vencer o jogo para não depender de tropeços do Leipzig para seguir vivo — os dois times dividem a segunda colocação com seis pontos.

"Ele está pronto para jogar, e é especial para ele jogar contra o PSG, seu próprio clube onde é o maior artilheiro. Isso pode afetar um jogador mentalmente, mas conhecendo-o sei que isso lhe dará energia. Ele é tão profissional e experiente que trabalhará em sua mentalidade hoje para estar pronto para o jogo", disse o treinador do Manchester United, Ole Gunnar Solskjaer, às vésperas do jogo.

Cavani x Leonardo

Quando Leonardo não liberou Cavani para transferir-se ao Atlético de Madri, em janeiro, o atacante uruguaio sofreu calado. O acerto com o clube espanhol foi uma opção de quem estava descontente com a chegada do centroavante Mauro Icardi no PSG e tinha então somente mais seis meses de contrato.

Cavani estava nervoso com Leonardo, pois já sabia que não teria a desejada renovação contratual. Seu entendimento era de que após os 21 títulos conquistados, em seis temporadas, sendo o ídolo número 1 da torcida, o histórico iria pesar para uma sequência de, pelo menos, mais três anos no PSG.

Já nos planos de Leonardo, o PSG precisava de mais espaço para Icardi, além de enxugar a folha salarial. Com salário inferior somente ao de Neymar e Mbappé, era necessário o corte de Cavani, assim como o de Thiago Silva, o quarto atleta melhor pago no clube francës — o brasileiro deixou Paris para atuar no Chelsea.

O vínculo de Cavani no clube francês terminou em junho, e diferentemente de Thiago Silva, sua decisão foi a de não o prolongar por dois meses e, assim, abandonar o time na reta final da Liga dos Campeões. Nos vestiários do PSG, a decisão do uruguaio foi encarada como um troco em Leonardo.

Foi Leonardo quem comunicou que o Atlético de Madri não atingiu exigências feitas pelo acordo. O clube parisiense queria cerca de 20 milhões de euros (pouco mais de R$ 125,8 milhões na cotação atual) para liberar o uruguaio. O cenário vivido com Neymar na negociação com o Barcelona meses antes foi o mesmo, com o PSG comunicando que os catalães não ofereceram o bastante.

Cavani passou os últimos meses no PSG ignorando Leonardo. Nem mesmo um comunicado prévio de que não participaria do mata-mata da Liga dos Campeões em Lisboa foi feito, com o dirigente brasileiro sendo surpreendido com a decisão. "As decisões tanto com Cavani, como com Thiago Silva são difíceis de tomar. Talvez, tenhamos cometido um erro", disse Leonardo recentemente.

Com a interrupção do futebol em março devido à pandemia de Covid-19, e sem clube, Cavani passou quase seis meses no Uruguai em negociações. O Atlético de Madri tinha passado a ter como plano A, assim como ocorreu com o seu compatriota Luis Suárez, e abriu espaço para novas ofertas. O mercado brasileiro entrou em peso com sondagens do Grêmio, Atlético-MG, São Paulo, Palmeiras e Flamengo. Todos avaliaram como inviável pagar o alto salário pedido pelo centroavante.

Com oferta em libras e um plano para ter espaço no time, o Manchester United convenceu o uruguaio a acertar contrato de apenas uma temporada, com encerramento em junho de 2021.