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Como Maradona ajudou o desconhecido Jacozinho a ofuscar festa de Zico no RJ

Jacozinho e Maradona em no jogo festivo de Zico em 1985 - Reprodução/TV Globo
Jacozinho e Maradona em no jogo festivo de Zico em 1985 Imagem: Reprodução/TV Globo

Bruno Fernandes

Colaboração para o UOL, em Maceió

27/11/2020 04h00

Maradona estava no auge da carreira quando foi convidado para participar, em julho de 1985, de um jogo em comemoração à volta de Zico ao Flamengo, no Maracanã. E acabou ajudando o quase desconhecido Jacozinho, ídolo do CSA na época, a roubar a cena e ofuscar o Galinho na festa no Rio de Janeiro.

Jacozinho entrou de penetra no Maracanã, conseguiu arrumar uma vaguinha no time da seleção do mundo que enfrentou o Flamengo e foi chamado pelo técnico Telê Santana para entrar em campo. Logo no primeiro lance ele recebeu um passe perfeito de Maradona, deu um drible da vaca no goleiro Cantareli e marcou um golaço.

O golaço

O Flamengo venceu a Seleção do Mundo por 3 a 1, mas o "penetra" foi o grande destaque, atraindo a atenção de imprensa, torcedores e até dos jogadores.

"Cheguei ali como quem não queria nada e de repente saí consagrado. Eu tenho uma dívida muito grande com o Maradona, porque a minha vida e o meu nome dentro do futebol brasileiro e mundial não seria lembrado se ele naquele momento não tivesse descoberto o Jacozinho para dar aquele passe", conta o ex-jogador ao UOL.

Ajuda de Márcio Canuto

Destaque do CSA, Jacozinho havia sido escalado pelo jornalista Márcio Canuto para uma série de entrevistas que antecederam a Copa do Mundo de 86. E tudo graças a uma declaração do técnico da seleção brasileira naquela época, Evaristo de Macedo.

Evaristo estava sendo cobrado pela imprensa por não convocar o meia Pita, que tinha feito um golaço e estava em grande fase pelo São Paulo. "Se fosse por golaço, eu convocava o Jacozinho, do CSA", respondeu o treinador, citando um jogador desconhecido do grande público para ironizar a imprensa.

Canuto tinha sido escalado pela Globo para fazer um esquenta local sobre a Copa. A declaração de Evaristo foi a senha para o repórter de Maceió achar um grande personagem, que o colocaria em destaque na TV de todo o Brasil.

Escalado por Telê

Com a ajuda de Canuto, Jacozinho embarcou para o Rio de Janeiro e conseguiu entrar de penetra no jogo da comemoração da volta de Zico ao Flamengo. Enquanto se preparava para entrar em campo, Jacozinho conheceu alguns de seus ídolo, entre eles Maradona. Já o dono da festa, Zico, o cumprimentou de forma fria exatamente por não saber direito quem era aquele jogador.

O jogo começou e Jacozinho ficou no banco da Seleção do Mundo. Devido ao sucesso que estava fazendo ao aparecer nas matérias de Canuto na Globo, a torcida logo o reconheceu e pediu para que o técnico Telê Santana o colocasse em campo. Quando teve a chance, Jacozinho mostrou estrela. E brilhou.

Inimizade com Zico

Esse passe de Maradona que resultou no gol da seleção do mundo fez nascer uma inimizade entre o ídolo alagoano e Zico, que ficou chateado pela atenção na partida ter sido dividido com um jogador desconhecido. E Zico também ficou bravo com a Globo, deixando de dar entrevistas para a emissora por dois anos.

Demorou 29 anos para ZIco e Jacozinho fazerem as pazes. O assunto foi resolvido quando eles se reencontraram em um evento do Sindicato dos Jogadores do Espírito Santo. "Naquele dia fui falar com o Zico e ele me atendeu maravilhosamente bem. Me deu um forte abraço, foi carinhoso e brincou, dizendo que roubamos a festa dele no Maracanã", conta Jacozinho.

A morte de Maradona

O craque que ajudou Jacozinho a ser lembrado até hoje no futebol morreu ontem, aos 60 anos, na Argentina. "A gente fica triste por tudo que aconteceu e pelo que vinha acontecendo. Tenho certeza que ele acabou com todo sofrimento dele e da família. Ele me marca até hoje e eu vou morrer com essa marca no coração e quem sabe a gente se encontre algum dia lá no Céu", disse Jacozinho.

Para o ex-atleta, a imagem que fica é do argentino correndo para abraçá-lo depois do gol. "Você imagina Jacozinho, do CSA, do Nordeste, e de repente um grande ídolo do mundo te abraçando e falando 'lindo gol'. Todas as vezes que lembro esse momento eu fico emocionado e arrepiado pelo Dieguito", completou.