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Chicão debate má fase corintiana com torcida em lives e afirma: "muito ego"

Chicão é ídolo do Corinthians - Leonardo Soares/UOL
Chicão é ídolo do Corinthians Imagem: Leonardo Soares/UOL

Beatriz Cesarini e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

22/10/2020 04h00

Ídolo do Corinthians, Chicão se aposentou dos gramados em 2016, mas não abandonou o futebol. Primeiro, o ex-zagueiro tentou embarcar na carreira de treinador e chegou a ser auxiliar do Boa Esporte por dois meses, mas desistiu. O paulistano de 39 anos se encontrou mesmo em eventos que o deixasse ainda mais próximo do torcedor.

Em entrevista ao UOL Esporte, ele conta que leva a esses eventos réplicas das taças da Libertadores e do Mundial de Clubes que ganhou com o Corinthians em 2012 para que torcedores tirem fotos e façam perguntas ao ídolo. "Dou atenção para todos porque é uma forma também de retribuir o carinho do torcedor".

Desde o início da pandemia, com as regras de distanciamento social, Chicão se jogou na moda das lives. Em seu perfil nas redes dá uma comentarista esportivo e discute, sobretudo, a situação do Corinthians com cerca de 161 mil seguidores. A pauta das últimas transmissões, é claro, foi a má fase do Alvinegro.

"Hoje a gente não pode falar nem em Libertadores muito menos em título, então é uma situação difícil. Nas lives, falo bastante sobre isso. O retorno está bacana, e acho que é porque eu dou a oportunidade de um torcedor falar com um ídolo. No pós-jogo, eu chamo os torcedores, pergunto de onde são, eles explicam o ponto de vista deles. Na televisão, não existe essa oportunidade e nem no rádio", destacou o ex-zagueiro.

Para Chicão, a política interna do Alvinegro é o principal motivo para a falta de resultado em campo. "A fase é difícil porque tem as questões políticas, técnicas dentro de campo e financeira, com cerca de dois meses de salários atrasados. Apesar disso, acho que essa última questão não interfere muito porque o atleta tem caráter, hombridade, e precisa cumprir com o dever... Tem outra coisa: é um ano eleitoral [no clube], difícil e complicado no qual existe muita vaidade, ego de parte política. Enfim, é uma situação complicada", afirmou.

Além de enfrentar problemas nos bastidores, o Corinthians claramente sofre com dificuldades técnicas em campo. A herança de Fábio Carille é um dos principais motivos, segundo Chicão. Para o ex-zagueiro, a equipe precisa tentar se livrar do estilo do antigo treinador, como se encerrasse um relacionamento amoroso.

"Até o Tiago Nunes tentou um método de trabalho diferente do Carille, implantar o modelo de jogo dele e, infelizmente, não deu certo. Acredito que as peças não se encaixaram. Sabe aquele casamento que não dá certo e tem que terminar? Terminou. Aí a gente vem com o interino que que não estava pronto para dirigir um clube deste tamanho e perde cinco, seis, sete rodadas de pontuação", opinou Chicão.

Chicão diz que já notou a diferença na postura corintiana depois que Vagner Mancini assumiu o clube e que o novo comandante precisa de tempo para consolidar sua identidade no time.

"Eu acho que ainda faltam algumas peças se encaixar. Acredito que o Mancini vai dar uma cara para o time. Contra o Athletico-PR, pelo menos, nós vimos um time equilibrado, com funções táticas. Vamos aguardar os próximos jogos para a gente analisar", comentou Chicão.

"Em uma das lives, inclusive, falei para os torcedores que não é para se empolgar na vitória e também não se abater na derrota. O Mancini vai dar uma cara paro time, mas é uma questão de tempo. Com dois treinamentos, ele conseguiu dar um modelo de jogo. Mesmo que tenha pesado um pouquinho a questão técnica que ali esbarra, consequentemente, na qualidade técnica, o time conseguiu a vitória", acrescentou.

Confira outros trechos da entrevista com Chicão:

Além de comentar e analisar a atual fase do Corinthians, Chicão relembrou de momentos importantes de sua carreira na equipe. O ex-zagueiro falou do trabalho de Tite tanto na seleção brasileira quanto no Alvinegro e de como aprendeu profissionalmente ao perder a braçadeira de capitão para o amigo Alessandro, em 2011.

Diferencial de Tite

"É o olho no olho, falar o que ele pensa. Pode até doer, mas vai ser uma coisa para o bem. Ele nunca fala para menosprezar ninguém ou colocar para baixo. Ele sempre fala a verdade, colocando para cima, alertando e incentivando. Tite é um cara sincero, verdadeiro. Eu trabalhei com ele durante um bom tempo e aprendi, e ele também aprendeu com todos", destacou Chicão.

"Acredito muito no trabalho dele desde que ele tenha tempo. Trabalhar em seleção é diferente do que trabalhar em clube, porque no clube, você está dia a dia, você vive o dia a dia, olha no olho do atleta. Na seleção, não. Ele está fazendo um trabalho muito bom e, agora como torcedor, a gente tem que ter um pouquinho de paciência, porque é difícil. O futebol brasileiro vive de resultados. Se ganhar é bom, se perder não presta, e a gente tem que analisar um contexto geral", concluiu.

A perda da braçadeira em 2011

"Tenho um sentimento de aprendizado. Ninguém vai conseguir jogar em alto nível por dez anos. Você pega os grandes jogadores e todos já passaram por uma má fase. Não é demérito nenhum ir para o banco e recuperar o seu espaço. Acho isso aí até bonito. Você prova que você tem capacidade, que é grande e que tem caráter. Realmente, quando o Tite me tirou naquele dia, eu conversei com ele, fiquei triste, chateado, emocionalmente eu não poderia ajudar, então eu não queria atrapalhar. No outro dia pela manhã eu estava treinando no CT e à disposição do treinador. O tempo foi mostrando que eu estava de volta. E o Tite, inclusive, deu uma entrevista falando que eu fui um dos maiores zagueiros com quem ele trabalhou. Escutar isso de um treinador de seleção brasileira... Eu me sinto honrado para caramba. Eu não tenho mágoa nenhuma, foi um sentimento de aprendizado muito bacana realmente".

Amizade com grupo vencedor de Libertadores e Mundial permanece até hoje

"Nós, do grupo que venceu a Libertadores em 2012, temos muito contato. Converso muito com Douglas, Alex, Danilo, Alessandro, Sheik, Fabio Santos, Paulo André... A gente tem uma relação muito boa, foi um grupo que construiu uma amizade bacana, inclusive participamos de jogos de fim de ano", contou Chicão. Eu e Alessandro praticamente nos falamos todos os dias. Criamos uma amizade muito grande além do futebol. Tudo nasceu nas concentrações, então passávamos os dias juntos e isso nós conseguimos levar para vida", concluiu.