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Flu leva só R$ 1,5 mi com patrocínio no 1º semestre, pior marca desde 2013

Fluminense arrecadou apenas R$ 1,5 milhão com patrocínios e marketing no primeiro semestre de 2020 - Nelson Perez/Fluminense FC
Fluminense arrecadou apenas R$ 1,5 milhão com patrocínios e marketing no primeiro semestre de 2020 Imagem: Nelson Perez/Fluminense FC

Caio Blois

Do UOL, no Rio de Janeiro

09/10/2020 04h00

O Fluminense registrou apenas R$ 1,5 milhão em patrocínios e marketing no primeiro semestre de 2020, de acordo com o balancete disponível no portal da transparência do clube em seu site oficial. O valor é o mais baixo desde 2013, primeiro ano disponível nos arquivos publicados.

A título de comparação, o Flu arrecadou muito mais, mesmo no ano em que obteve o menor resultado em receitas no período até então: R$ 6 milhões em 2019. Exceto 2016, em que apenas o acumulado do terceiro trimestre está disponível — aumentando a conta, portanto —, o ano de 2015 foi o de melhor performance no quesito, com R$ 14,5 milhões. O ano foi o último em que o Tricolor teve um patrocínio master, a Vitton 44, além de outros parceiros comerciais.

Os valores também estão bem aquém dos outros anos. Após a publicação do balancete, o Tricolor fechou três importantes acordos comerciais que certamente "engordam" a conta, com a Zinzane (ombros), Sika (parte de trás do calção) e Hotel Nacional (selo na frente do calção).

O clube conseguiu dois novos acordos durante a pandemia — Zinzane e Hotel Nacional. A nova soma estará disponível assim que o Flu publicar o balancete acumulado do terceiro trimestre. Os valores não foram divulgados. Antes disso, o Flu e seus rivais do Rio de Janeiro lidaram com a rescisão de contrato com a Azeite Royal, parceira dos quatro grandes, quando da paralisação do futebol por conta da Covid-19.

Fred comemora gol do Fluminense sobre o Grêmio - NELSON PEREZ/FLUMINENSE F.C. - NELSON PEREZ/FLUMINENSE F.C.
Em 2015, Fluminense teve a Vitton44 como patrocinadora master, além de outros parceiros
Imagem: NELSON PEREZ/FLUMINENSE F.C.

O departamento comercial do Fluminense é um dos dois onde houve permanência do vice-presidente em relação à última gestão. Mesmo com a mudança no comando do clube com a renúncia de Pedro Abad e a eleição de Mário Bittencourt, Ronaldo Barcellos foi mantido à frente da pasta, bem como o diretor-comercial Eduardo Roizman e a grande maioria dos funcionários.

Apesar da continuidade do trabalho, o resultado no primeiro semestre em 2020 foi bem abaixo do que de costume. As condições do ano, claro, influenciam diretamente: a maior pandemia dos últimos 100 anos e um mercado muito retraído. Condições estas que são as mesmas para todos. No segundo trimestre, o clube somou mais R$ 973 mil aos R$ 531 mil arrecadados com patrocínio e marketing no primeiro trimestre.

Mercado vê dificuldade e Flu 'pouco aberto'

O UOL Esporte apurou junto a intermediários comerciais e parceiros antigos e atuais do Fluminense que um dos motivos da queda brusca nas receitas de patrocínios e marketing em 2020, além do cenário de crise financeira no país que já começara antes mesmo da pandemia, é também um problema de negociação.

Além de utilizar a estratégia de precificar suas propriedades, algo nem tão comum no mercado, o Tricolor também enfrenta dificuldades na aproximação com empresas. As potenciais parceiras e os intermediários veem o Flu como "pouco aberto" às propostas e negociações. O clube não só é "duro" com valores, mas também demora na resolução das questões, de acordo com fontes ouvidas pela reportagem.

No retorno de Fred, em junho, o Fluminense tinha apenas a Doce Rio estampada na camisa - Mailson SantanaFLUMINENSE FC - Mailson SantanaFLUMINENSE FC
No retorno de Fred, em junho, o Fluminense tinha apenas a Doce Rio estampada na camisa
Imagem: Mailson SantanaFLUMINENSE FC

Um dos parceiros antigos afirmou ter deixado o Fluminense nos últimos anos justamente por problemas no atendimento e relacionamento com o departamento comercial — ainda na gestão de Pedro Abad. Hoje, a mesma empresa estampa sua marca no uniforme de um dos rivais do Rio de Janeiro.

Empresas de apostas esportivas já patrocinavam 13 times no início do Campeonato Brasileiro. Hoje, são 17. Além do Fluminense, apenas o Palmeiras — que possui exclusividade de patrocínio com a Crefisa — e o Internacional não possuem sites de apostas estampados em seus uniformes. O ramo pretende dominar o mercado. Em 2019, o Tricolor teve a Kashbet como parceira, mas o acordo não foi renovado.

Outro setor que tem expandido seus investimentos no futebol é o das instituições financeiras, que detém generosa fatia do mercado. O Flu teve tratativas com diversas empresas para o patrocínio master, propriedade mais valiosa do uniforme, conforme admitido pelo próprio presidente Mário Bittencourt em coletivas, mas não houve nenhum acordo. Algumas dessas negociações envolviam bancos e outras instituições do mercado financeiro.

Flu exalta resultado do balancete em 'cenário desafiador'

Em nota à reportagem, o Fluminense admitiu a variação negativa nas contas, contextualizando com o panorama financeiro vivido pelo mundo em meio à pandemia de coronavírus. O clube considerou o resultado "uma vitória diante do cenário desafiador".

"A variação nos passivos do Fluminense entre o primeiro e o segundo trimestres de 2020 precisa ser colocada em contexto. Em particular destaco três fatores:

(1) os severos impactos nas receitas do Fluminense (e de todo o futebol brasileiro) durante os primeiros meses da pandemia. Considerando todas as receitas, o Fluminense enfrentou uma queda de 50% do seu faturamento total no primeiro semestre de 2020 em relação ao seu orçamento - representando uma redução total nas receitas de quase R$65 milhões.

(2) O aumento do valor em Reais das dívidas e compromissos em Dólar e em Euro - originados principalmente em transações de transferências de jogadores feitas por administrações anteriores. Com uma desvalorização acentuada do Real diante do Dólar e do Euro, as dívidas do Clube nestas moedas foram corrigidas pela variação cambial e aumentaram consideravelmente. Apenas pelo efeito da correção cambial as dívidas aumentaram em R$2.1 milhões do primeiro para o segundo trimestre de 2020.

(3) A substancial redução de despesas promovida pela política de austeridade implementada pela gestão do Clube no 2o Trimestre (redução de despesas de aproximadamente R$18 milhões, equivalente a um corte no orçamento de 22%), com o propósito de enfrentar a crise causada pela pandemia, enfrentou muitas limitações, inclusive de ordem legal e contratual, dada a inflexibilidade de várias despesas fixas do Clube. Não é legalmente ou contratualmente possível um corte de despesas da magnitude de tamanha queda nas receitas como enfrentamos em 2020.

Portanto, mesmo considerando: (i) os efeitos de uma queda de quase R$ 65 milhões em receitas - em uma das maiores crises de nossos tempos; (ii) uma desvalorização cambial que elevou em R$2.1 milhões os nossos os passivos em moeda estrangeira; e (iii) as limitações operacionais, legais e contratuais das medidas de austeridade tomadas pela gestão não terem permitido um corte ainda maior nos custos - ainda assim a gestão do Fluminense foi capaz de conter o impacto negativo na dívida em aproximadamente R$ 12 milhões no período.

Entendemos que este resultado foi uma vitória, diante do cenário desafiador e inesperado que vivemos."

Confira os valores desde 2013:

A soma dos valores de patrocínio e marketing do Fluminense incluía licenciamentos e franquias até 2017. Todos os valores abaixo são relativos aos primeiros semestres de cada ano e foram arredondados para cima.

2013 - R$ 9,6 milhões
2014 - R$ 10 milhões
2015 - R$ 14,5 milhões -- Vitton 44 como patrocinador, fim da era Unimed
2016 - R$ 21,4 milhões -- apenas o acumulado do 3º trimestre está disponível
2017 - R$ 6,7 milhões
2018 - R$ 9,1 milhões
2019 - R$ 6,0 milhões
2020 - R$ 1,5 milhão

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