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Corinthians: Tiago Nunes diz que não sabia de problema financeiro do clube

Tiago Nunes foi demitido pelo Corinthians em setembro - Heber Gomes/AGIF
Tiago Nunes foi demitido pelo Corinthians em setembro Imagem: Heber Gomes/AGIF

Do UOL, em São Paulo

06/10/2020 20h40

Tiago Nunes, ex-treinador do Corinthians, afirmou hoje (6) que não sabia das dificuldades financeiras do clube quando aceitou assumir a equipe. O técnico foi demitido há pouco menos de um mês após sequência ruim de resultados.

"Eu não sabia das dificuldades financeiras. Teve um agravante que foi a pandemia, dificultou muito os investimentos. A direção se esforçou para trazer os jogadores que solicitamos. Demos muitas negativas de jogadores oferecidos. O Corinthians precisava de nível europeu, como o Flamengo vinha fazendo. A gente não aceitou jogadores que estavam em uma prateleira abaixo. Em alguns momentos, dissemos não a jogadores que pudessem fazer parte do elenco fazendo algo a mais com a camisa", disse em entrevista à ESPN.

O treinador falou sobre o projeto de mudar a cultura do futebol no Corinthians. Tiago Nunes fez uma crítica geral ao futebol brasileiro ao falar que a falta de resultados resultou na demissão.

"Eu tentei cumprir o que me foi solicitado pelo presidente. Uma gestão geral do futebol, incluindo formação. Isso não é algo do Corinthians só, acontece em inúmeros clubes do brasil. Muitas vezes, os treinadores afastam a base. Outras vezes pela necessidade de resultado, é algo corriqueiro em todos os grupos. Quando investi energia em melhora da comunicação, ela existia, mas precisava ser mais clara. Corinthians tem o sub-23, entender o Corinthians como mercado de contratação. Me passaram uma lista de 50 jogadores do elenco e emprestados. Tentei ter um olhar de dentro do Corinthians, ajudar na saúde financeira, trazer jogadores que eram do Corinthians", afirmou.

"O que fica de lição é que clubes como o Corinthians, primeiro tem que pensar no resultado de campo, entregar uma satisfação pública do trabalho para depois pensar nos processos. Isso é uma crítica ao futebol brasileiro como um todo. Tenho o Corinthians como uma escola, por toda pressão, gigantismo, pela cobrança, esses momentos de transformação que a cada ciclo de 6, 7, 8, 9, 10 anos acontece, servem para que o clube se redescubra."

Saídas de Ralf e Jadson

Tiago Nunes ainda explicou a decisão de não contar com dois experientes jogadores do elenco corintiano, Ralf e Jadson. O treinador disse que não era sua responsabilidade avisar os dois que estavam fora dos planos.

"Sobre dispensa do Ralf e Jadson, acabou pra mim, porque o Corinthians me deu autonomia para tal. Eles estavam em uma lista de perfil técnico, atlético, lista de 50 jogadores, para o modelo de jogo que a gente ia implementar. A gente não queria contar com os dois para aquela ideia. Eu sempre tratei com máximo respeito os atletas. Como os atletas foram comunicados, isso não é o treinador que pega o telefone. Direção fez, assim como fez com inúmeros de atletas. Fica meu respeito, gerou uma polemica gigantesca, mas em nenhum momento me senti desrespeitando os dois", declarou.

Falta de torcida pesou para má fase

Tiago Nunes também lamentou a falta de torcida na Arena Corinthians por causa da pandemia do novo coronavírus. Segundo o treinador, os resultados poderiam ter sido diferentes caso os torcedores estivessem no estádio durante as partidas.

"Existem circunstâncias que fogem ao controle do treinador e jogador. A pandemia tem, para mim, um fator que nem sirva como argumento que vá ser relevante, mas que tem um papel importante que é a ausência da torcida. A torcida faz uma diferença significativa no nível de concentração, competitividade, o adversário dentro do nosso estádio. Um dos desafios que sofremos e não conseguimos resolver foi como manter um nível de atuação dentro de casa com a ausência do torcedor", afirmou.

"Se pegar os últimos dois anos, o Corinthians teve dificuldade. Não é de agora as dificuldades no Brasileiro. Fomos vice-paulistas sem fazer muita força. Na volta da pandemia, a gente faz opção por jogadores mais defensivos e vai para a final do Paulista. O Paulista não é um grande referencial de performance para a temporada. O Corinthians vem remando e fazendo muitas apostas e que precisa ter um up a mais para disputar títulos que a grandeza do Corinthians pede."

Leia outros trechos da entrevista de Thiago Nunes:

Por que os resultados não vieram?

Conceitualmente, a gente estava construindo boas ideias. No feedback diário, via que tinha retorno dos atletas, mas no momento mais importante e determinante, que é o jogo, não estava acontecendo. Era um desafio nosso entender o distanciamento entre prática no treino e execução no campo. O que posso afirmar é que você não consegue mudar um processo dessa magnitude somente nas ideias. Se você não consegue mudar ou melhorar, conduzir as características do atleta, você tem que mudar o atleta e muitas vezes isso não é possível. Não conseguimos mudar de maneira significativa as características dos jogadores que a gente desejava. Precisaria de mais tempo ou a contratação de mais atletas, o que é mais radical, mudança radical de jogadores, como o Galo está fazendo, o Flamengo no ano passado. Eu tenho a responsabilidade total do trabalho e ideias.

Próximo trabalho?

Pouquíssimo provável que eu trabalhe este ano ainda. O Campeonato Brasileiro é um moedor de treinadores. O treinador virou a bandeira para tudo. Recebi alguma sondagem, nada de proposta, de fora do país. Provavelmente, não devo trabalhar até o final do Campeonato. Não digo que não porque o futebol é dinâmico, mas vou avaliar com calma.

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