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Dome não encaixa time à Guardiola, acumula erros e vê "desastre" em 45 dias

Domenec Torrent durante a derrota do Flamengo para o Independiente del Valle, na Libertadores - Pool/Getty Images
Domenec Torrent durante a derrota do Flamengo para o Independiente del Valle, na Libertadores Imagem: Pool/Getty Images

Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

18/09/2020 04h00

A goleada por 5 a 0 sofrida para o Independiente del Valle abalou as estrutura do Flamengo e expôs a falta de sintonia no trabalho de Domènec Torrent no comando do atual campeão da Libertadores e do Brasileiro.

No Estádio Rodrigo Paz Delgado, o espanhol assistiu sua equipe fazer a pior partida sob seu comando — também a mais fraca em anos do Rubro-Negro — e viu ainda mais em xeque o seu plano de fazer um time "à moda de Guardiola", de quem foi auxiliar por anos. Na sua chegada ao clube, Torrent, como era de se esperar, mencionou a importância do mestre e não escondeu a influência.

Passados exatamente 45 dias de sua apresentação, o cenário, no entanto, não aponta para o bom futebol imaginado, mas para um verdadeiro desastre, segundo palavras do próprio espanhol.

"Sei que é o pior resultado do Flamengo. Mas já passou. Temos de pensar em ganhar a próxima partida. Se fosse mata-mata, seria um desastre. Foi um desastre, mas foram só três pontos", disse ele.

Fato é que a atuação do Rubro-Negro na capital equatoriana foi o resultado repleto de equívocos, o que têm sido uma constante. Ante o time treinado por Miguel Ángel Ramírez, o Fla foi uma equipe de setores espaçados e nenhum diálogo entre as linhas.

Embora a altitude de quase 3 mil metros acima do nível do mar sirva como atenuante, a marcação do time inexistiu durante os 90 minutos. Ao perceber a fragilidade defensiva do adversário e a falta de organização do rival, o Del Valle colocou o campeão da Libertadores na roda. E nas cordas.

Ser agredido e pouco agredir também é uma marca recente. Em vez da pressão insana pela bola, o Fla tem sido uma equipe que oferece muitos espaços e que não morde tanto para recuperar a posse. Quando tem de tomar a iniciativa, o Rubro-Negro de Dome não é um time que busca o gol rival a todo custo e um desenho um pouco mais estático das peças enfraquece uma das coisas que os campeões de 2019 tinham de melhor. No jogo de ontem (17), o goleiro Pinos foi um figurante dentro de campo.

Apesar do evidente mau desempenho, Dome tirou a responsabilidade dos ombros dos jogadores e destacou o fato de o time ter sofrido um gol e criado apenas uma oportunidade na etapa inicial:

"Jogamos mais ordenados no primeiro tempo, por isso só marcaram um gol e tivemos uma chance. Na segunda parte decidimos pressionar mais acima. Não estou de acordo que os jogadores foram apáticos. No primeiro tempo, não tivemos problema para defender. O jogo estava equilibrado. O segundo tempo foi todo diferente, procuramos pressionar mais em cima".

Flamengo - Pool/Getty Images - Pool/Getty Images
Imagem: Pool/Getty Images

Mesmo diante de uma derrota implacável, Domènec não abriu mão de um dos pontos que mais causam discussão desde a sua chegada: o rodízio de jogadores. Após o 5 a 0, ele disse que fez algumas mexidas pensando já no jogo de terça-feira (22) contra o Barcelona de Guayaquil, 19h15, no Monumental, pela próxima rodada do Grupo A. Com a equipe absolutamente abatida e sem organização, o comandante voltou a lotar o time de atacantes e a tentativa não só não surtiu efeito como terminou de desmontar o que restava.

"Todos sabem que jogar aqui não é fácil, não é uma desculpa, poderíamos ter jogado melhor. Eu não tenho queixa aos jogadores, eles querem ganhar, correram muito no campo. Mas sei que quando você perde 5 a 0 não tem desculpa. Eles jogaram muito melhor. Algumas trocas foram para ter jogadores mais frescos para o próximo jogo", afirmou.

O acúmulo de escolhas questionáveis, a escalação de Rodrigo Caio como lateral e a insistência e ter Everton Ribeiro por dentro, por exemplo, levanta o debate no clube. A recusa de Gabigol em treinar no campo após sair do banco para marcar na vitória por 2 a 1 contra o Fortaleza foi outro sinal de alerta de desgaste.

Seguro para ir ao Velho Continente para trazer o substituto de Jorge Jesus, um Flamengo abalado tem uma verdadeira decisão na próxima terça. O som das cornetas atingiu níveis altíssimos depois da catástrofe em Quito, mas o barulho pode ficar ainda mais ensurdecedor em caso de um novo tropeço.