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Como Del Valle desmontou Fla com 5 a 0 e se tornou sensação da Libertadores

Jogadores do Flamengo estiveram irreconhecíveis na partida contra o Del Valle - Pool/Getty Images
Jogadores do Flamengo estiveram irreconhecíveis na partida contra o Del Valle Imagem: Pool/Getty Images

Thiago Tassi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/09/2020 04h00

O vexame do Flamengo na noite de ontem (17), no Equador, é histórico. A derrota por 5 a 0 para o Independiente del Valle foi a pior do clube na Libertadores. O placar elástico é surpreendente, quando se trata do atual campeão da competição, e, de certa forma, até injustificável pelo elenco que o Rubro-Negro tem.

Mas que time é esse que desmontou a equipe de Domènec Torrent, consolida-se como líder isolado do Grupo A e virou a sensação sul-americana?

O segredo passa principalmente por Miguel Ángel Ramírez, no comando da equipe desde maio de 2019. O técnico espanhol de 35 anos, que já foi cobiçado por times brasileiros, inclusive o próprio Flamengo o teve no radar antes de trazer Dome, transformou o clube equatoriano com um futebol de velocidade e bastante agressivo com e sem a bola.

Foi assim que venceu a Copa Sul-Americana, no ano passado, deu certo trabalho ao time de Jesus em fevereiro, pela Recopa Sul-Americana, e se coloca, agora, como um dos favoritos a vencer a Libertadores 2020, mesmo sem tradição na América do Sul.

Primeiro da Chave A com nove pontos, o Del Valle é um dos poucos que venceu todas na Libertadores e tem 100% de aproveitamento até aqui. São 11 gols marcados (melhor ataque) e nenhum sofrido (melhor defesa) em três partidas no torneio. No pós-paralisação do futebol por conta da pandemia do novo coronavírus, o clube soma seis vitórias, três empates e nenhuma derrota.

Ontem, no massacre diante do Fla, os equatorianos espremeram os cariocas, foram superiores na posse de bola (59% contra 41%) e bombardearam a meta de César: ao todo, 20 finalizações do Del Valle, que arrisca bastante de fora da área, contra apenas cinco do Rubro-Negro.

O padrão apresentado nesta quinta, vale lembrar, surpreendeu outro brasileiro em 2019. Atuando na casa do Corinthians, o Del Valle impôs um ritmo forte, marcou em cima e venceu por 2 a 0 na semifinal da Sul-Americana.

Povoar o meio não resolveu

Ciente de que o adversário aposta em jogo vertical e rápido pelas beiradas, Dome tentou povoar o meio de campo para tentar cadenciar o confronto. Não deu certo. Diego, escalado ao lado de Everton Ribeiro, Arrascaeta e Gerson, não rendeu bem, a estratégia não funcionou e o treinador mudou. No intervalo, Bruno Henrique substituiu o meio-campista, a fim de melhorar a presença ofensiva do Fla, mas também teve noite infeliz.

Outro problema no meio foi Willian Arão. Lento, o camisa 5 sofreu diversas vezes com botes errados, esteve espaçado em relação à linha de zaga e viu algumas jogadas serem desenvolvidas em seu setor. Ele terminou os 90 minutos em campo, ainda que não tenha cumprido com a função de proteger os defensores.

Ramírez não para nem depois do 5º gol

Uma cena do espanhol do Del Valle, já na parte final do duelo, chamou a atenção. Depois de Caicedo fechar a conta com o quinto gol, aos 46 minutos do segundo tempo, a câmera da transmissão focalizou Ramírez dando instrução à beira do gramado para Preciado. O lateral, que em seguida provocou o banco de reservas do Fla e foi expulso, ouvia atentamente aquela instrução do técnico, mesmo com o jogo prestes a acabar e com o adversário todo destruído. O gesto lembrou um pouco a postura de Jorge Sampaoli, hoje no Atlético-MG. O argentino tem perfil enérgico durante as partidas e também gosta de dar dicas aos jogadores sempre que há uma brecha.

Nem altitude minimiza vexame

A altitude de 2.850 metros foi adversária do Flamengo na noite de ontem, é claro, mas nem o estádio nas alturas serviu de desculpa. A sensação que passou foi que o Del Valle jogava em outro ritmo e levava vantagem em praticamente todas as bolas. Enquanto isso, o Flamengo assistia e tentava, timidamente, jogar as fichas no contra-ataque. O próprio Dome admitiu a instabilidade rubro-negra no confronto, dizendo que a goleada foi construída quando os brasileiros resolveram pressionar em cima (no segundo tempo).

"Todos sabem que jogar aqui não é fácil, não é uma desculpa, poderíamos ter jogado melhor. Eu não tenho queixa aos jogadores, eles querem ganhar, correram muito no campo. Mas sei que quando você perde de 5 a 0 não tem desculpa. Eles jogaram muito melhor", destacou o treinador.