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Argentino do Athletico volta a ser acusado por maus tratos pela ex-esposa

Lucho González, meio-campista do Athletico - Divulgação/Site oficial do Athletico
Lucho González, meio-campista do Athletico Imagem: Divulgação/Site oficial do Athletico

Guilherme Moreira

Colaboração para o UOL, em Curitiba

28/08/2020 04h00

O argentino Lucho González, jogador do Athletico-PR, está sendo acusado novamente por sua ex-mulher, a portuguesa Andreia da Silva Marques González, de negligência. Ela alega maus-tratos por parte do meio-campista de 39 anos e sua namorada, Khawana Zangiski, aos seus filhos, além de afirmar que está passando dificuldades. A defesa do atleta nega todas as acusações.

Neste mês, em dias consecutivos, Andreia registrou dois boletins de ocorrência no Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima de Crime (NUCRIA), em Curitiba. A Polícia Civil do Paraná está investigando o caso e reunindo entrevistas individuais com as partes a partir desta semana.

No documento de 13 de agosto, a ex-mulher afirma que o jogador agarrou o braço e arrastou o filho de 9 anos, além de trancá-lo junto com a irmã de 4 anos em um quarto sem luz, água e alimentos. Ela ainda diz que González ameaçou bater na criança se contasse o suposto acontecimento.

Já no dia seguinte, 14, Andreia acusa a atual namorada do atleta, Khawana, de ser imprudente ao colocar as duas crianças na caçamba de um veículo em alta velocidade no dia 1º de agosto — o vídeo foi divulgado, com ela ingerindo bebida alcoólica, ao lado deles, no Hotel Fazenda Piazito Park, em Piên (PR), a 87 km de Curitiba. A ex-esposa também reclama, fora do boletim de ocorrência, da exposição das crianças em uma casa noturna, no meio da pandemia Covid-19, em 2 de agosto.

De acordo com o Código Penal, artigo 136, da Lei nº 2.848, "expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina", a pena é de detenção, de dois meses a um ano ou multa; um a quatro anos com lesão grave e aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos -I incluído pela Lei nº 8.069.

"Meus filhos jamais disseram que o pai lhes bateu, como tenho ouvido falar. O que aconteceu, segundo relatam os meus dois filhos, o banheiro estava com problemas e começou a pingar água no piso dos quartos e no chão do banheiro. Quando o pai viu a água, começou a gritar com os dois e arrastou meu filho pelo braço, sendo que minha filha já estava de pé, e ia caminhando na frente dos dois. O Lucho os levou escada abaixo arrastando e empurrando até ao quarto, onde depois os trancou no escuro de noite até o dia seguinte de manhã", disse Andreia da Silva Marques González em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

"Meu filho relata que a irmã chorou sem parar com medo, porque ficaram no escuro total, e acabou adormecendo. E ele também. Lucho e sua namorada não lhes deram nada para comer ou beber, e o pai gritou que eles estavam proibidos de ir até no banheiro. Meu filho fala que pensou beber água no banheiro e não foi por medo do pai escutar a água. E que lhe recusaram dar a mamadeira que a Maria toma antes de dormir. Já os episódios em que relatam que o pai bateu foram no irmão mais velho, que não vive aqui com o pai, e que ele se pôs no meio para o defender e que o pai bateu no irmão no lugar do meu filho", acrescentou.

A defesa de Lucho González, representada por Mariot Advocacia, se posicionou ao falar que "o NUCRIA elaborou laudo demonstrando que não houve qualquer tipo de maus-tratos praticado pelo atleta, estando sua conduta adequada com a de um pai presente e amoroso, por mais que por vezes duro na educação dos filhos; e que o suposto quarto escuro não passou de um quarto sem televisão, em que os menores tiveram que passar a noite em razão de um vazamento no outro cômodo".

Os advogados do atleta também narram outra versão do filho: "A gente foi na casa do pai e usou um banheiro que não podia. Daí deu um vazamento no quarto onde a gente ia dormir. Quando ele [pai] viu tudo molhado [o banheiro, o tapete e a cama do nosso quarto] a gente teve que dormir no quarto da minha irmã que não tem TV. A gente teve que dormir no escuro porque ele fala que a gente tem que dormir sozinho. A mãe só briga falando. O pai é um pouco mais bravo, fala mais alto e põe de castigo no quarto, mas não no escuro. Nem o pai nem a mãe batem em mim". Além disso, o menor negou ter sido arrastado, ou puxado pela casa: "O pai não fez isso".

A defesa salientou que está juntando documentos para refutar a versão da ex-mulher, tanto dos maus-tratos quanto referente à namorada de González, Khawana, provando que ela não estaria alcoolizada, que o veículo teria a velocidade de 15,49 km/h e as crianças estiveram em um evento infantil no local. A documentação será entregue ao NUCRIA ainda nesta semana.

Em contato com a reportagem, a Polícia Civil do Paraná (PCPR) informa que o caso segue em investigação e esclarece que o NUCRIA não elabora laudos periciais.

Andreia reclama de passar dificuldade

A ex-mulher de Lucho González recebe uma pensão mensal estipulada pela Justiça em 2018, que a reportagem apurou ser de aproximadamente R$ 15 mil, enquanto o atleta tem um salário, entre CLT e direito de imagem, próximo de R$ 100 mil - o valor diminuiu na última renovação, em novembro de 2019. De acordo com ela, a quantia não é suficiente e passa dificuldades junto com seus filhos.

"Apesar de não ser suficiente para viver com meus filhos, sobretudo na minha impossibilidade de trabalhar, eu nunca pedi para aumentar, mas ele tenta uma decisão para pagar três vezes menos. Pagando o aluguel, condomínio, luz, internet e televisão, não sobra o suficiente para alimentar meus filhos até o final do mês. Tive que vender absolutamente tudo que tinha, até as próprias roupas para fazer face às despesas", comentou.

A explicação da ex-mulher, que recebe uma rende referente a um seleto grupo de 4% da população brasileira, passa pela decisão do Conselho Tutelar de colocar as crianças em um abrigo por um período de dez dias, há quase três anos. Na época, Lucho González teria aproveitado uma viagem dela para Portugal, quando deixou as crianças com a babá e um casal de amigos, e pediu a guarda unilateral dos filhos, alegando insanidade e incapacidade da mãe, que teve seus documentos e das crianças retidos para não saírem do Brasil.

Dessa forma, sem a documentação, Andreia fala que ficou de "mãos atadas" sem poder escolher outro imóvel mais barato e que mora em uma casa de aluguel e condomínio altos por escolha do ex-marido. Ela diz que recuperou o passaporte perto do Natal de 2018, mas precisa ser renovado e, por não ter mais a documentação brasileira, também vencida e sem conseguir renovar na Polícia Federal (PF), fica sem a possibilidade de arrumar trabalho.

"As crianças não podem viajar. Ele entrou na Justiça para que me fossem retirados todos os documentos das crianças e lhe fossem entregues, mas recusaram o pedido dele. Se eu sair do Brasil, podem não me deixar mais voltar por conta disso tudo. Assim, meus filhos ficariam aqui e eu sem eles em Portugal", contesta.

A solução financeira, de acordo com ela, poderia ser a venda de uma residência em Portugal, comprada em conjunto com González quando ainda não eram casados. A portuguesa pretendia vender o imóvel para pegar sua parte e recomeçar sua vida, seja na Europa ou no Brasil, mas todas as propostas teriam sido negadas pelo jogador.

A defesa de Lucho González contesta a versão. "Infelizmente, estamos diante de uma alienação parental onde a genitora Andreia tenta de todas as formas arranhar a imagem paterna e, com isso, frustrar a convivência dos filhos com o pai. Lucho é um pai presente, amoroso e muito dedicado. Sempre honrou com os valores referente aos alimentos fixados pelo juízo, além de arcar a escola e plano médico dos menores, não havendo qualquer crime a sustentar as falsas acusações formuladas", afirma.

Acusações em anos anteriores

Acrescidos a esses dois registros na Polícia Civil, uma vizinha de Andreia, com consentimento da mesma, criou uma conta na rede social Instagram (https://www.instagram.com/lucho_elgonzalez/), há uma semana, para falar de outros assuntos, como hipotéticas ameaças e agressões do jogador. Até a publicação da reportagem, são 490 posts, com depoimentos gravados pela ex-mulher do meio-campista e conversas de aplicativos de mensagem e e-mails.

"Eu me via numa vida de submissão, traições, agressões, abusos. Um dia acordei e percebi que não seria mais humilhada. Muitas mulheres vão se identificar, porque sabem o que é viver assim. Eu não tinha amor, respeito e dignidade. Era uma vida infeliz e de mentira", declarou na rede social.

De acordo com a ex-mulher, Lucho González teria a agredido pela primeira vez em 2010, em Marseille, na França, quando jogava pelo Olympique. Na ocasião, ela estava grávida e no final da gestação do seu primeiro filho com o jogador. O motivo da suposta agressão foi uma conversa que ela encontrou com uma possível amante dele. Andreia disse que chegou a ficar hospedada uma semana na casa do então companheiro de time francês, o lateral esquerdo argentino Gabriel Heinze, até aceitar o perdão do marido.

Nos anos seguintes, a ex-esposa comentou que as agressões se tornariam mais frequentes, potencializadas pelo uso de álcool do jogador, que não se sentia satisfeito nos clubes que atuava. Andreia também fala que o atleta ameaçava fugir com as crianças e matá-la caso ela o deixasse.

Lucho González jogou no Porto-POR (2011-13), Al-Rayyan-QAT (2013-14) e River Plate-ARG (2015-16) antes de se transferir para o Athletico, em 2016, um ano antes do casal encerrar o relacionamento. O meio-campista tem contrato com o Furacão até o fim de fevereiro de 2021.

"Infelizmente, por mais que me custe a dizer, o pai dos meus filhos é um psicopata, um homem que poucos conhecem. Precisei fazer terapia nos últimos anos, de ajuda para perceber. Ainda me dói muito, mas não tenho mais medo de ninguém e não me calo por dinheiro", complementou em tom emocionado.

Separação conturbada

Andreia e Lucho González foram casados oficialmente entre 2014 e 2017, mas estavam juntos desde 2009. O divórcio ainda não foi oficializado por conta da guarda provisória. Sem uma decisão definitiva não é possível dar prosseguimento aos trâmites em Portugal, onde se casaram. A guarda está sendo discutida em segredo de Justiça há cerca de dois anos.

Os dois têm a guarda compartilhada dos filhos após uma separação turbulenta há três anos. Andreia, em dezembro de 2017, acusou o atleta de tentativa de homicídio. O atleta alega que tentou impedi-la de uma tentativa de suicídio - a governanta da casa corroborou com essa versão.

"A acusação terminou em nada. Apresentei a denúncia e fiz exame de corpo delito, com a garganta toda machucada que não pude comer por semanas. Apesar de estar toda machucada, com o rosto e pescoço roxos, acreditaram na versão das funcionárias que eu tinha demitido no dia anterior a irem testemunhar e foram trabalhar para a casa do pai dos meus filhos posteriormente", disse Andreia.

Poucos dias depois da acusação, ambos entraram em acordo para ter o revezamento da guarda dos filhos, mas de forma separada. Enquanto Andreia ficava com um filho, Lucho González ficaria com outro e trocando semanalmente. O atleta sairia do Athletico na época, porém teve seu contrato renovado e isso facilitou as tratativas.

No momento, os filhos já ficam juntos quando visitam, teoricamente, o pai e a mãe separadamente, a cada semana - a rotina de viagens do jogador dificulta o convívio, segundo ele.

"Com relação às acusações antigas, informa-se que já foram refutadas em momento oportuno e se mostraram falsas, razão pela qual não há necessidade de qualquer manifestação sobre o assunto atualmente, já que foram devidamente arquivadas. Em ação de guarda, que ainda não foi encerrada, ficou acordado que a guarda seria compartilhada e alternada, ou seja, uma semana com cada genitor. Desde a sua fixação, a Sra. Andreia vem tentando de diversas formas frustrar os momentos de visita do Lucho, ao não atender interfone e ligações telefônicas nos dias combinados, bem como impedir a tentativa de Lucho manter contato por vídeo chamada com seus filhos. No início de julho, mais uma vez como forma de mitigar o direito de Lucho e dos menores do convívio, Andrea alegou que não iria entregar as crianças devido a Pandemia, mesmo a juíza tendo decidido em favor de Lucho. Em razão da negativa do cumprimento da ordem judicial, foi distribuída uma ação de busca e apreensão dos menores, de modo a fazer valer o direito de Lucho. Posteriormente, quando Lucho foi exercer novamente o direito de visitas aos menores (frustrado pela Andreia- dia 17/08/2020), foi informado da lavratura de dois boletins de ocorrência por Andreia", rebate e o escritório de advocadia de jogador.

A reportagem ainda apurou, com pessoas que residem ou moraram no condomínio que o casal vivia, no bairro Campo Comprido, em Curitiba, que era costumeiro ver e escutar o ex-casal discutindo na área comum ou em casa. Eles moraram juntos no local até o fim de 2017. Atualmente, ela vive em outro condomínio, no bairro São Braz.