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Por que Corinthians x Palmeiras é muito mais do que um 'Paulistinha'

Gabriel derruba Rony, durante a partida entre Corinthians e Palmeiras - Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Gabriel derruba Rony, durante a partida entre Corinthians e Palmeiras Imagem: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Samir Carvalho e Thiago Ferri

Do UOL, em São Paulo

05/08/2020 04h00

Dois anos depois, Corinthians e Palmeiras voltam a decidir o título do Campeonato Paulista. Hoje (5), às 21h30, as equipes duelam na Arena Itaquera e definem, sábado (8), às 16h30, no Allianz Parque, quem será o campeão estadual de 2020.

Aquele duelo de 2018, vencido pelo Alvinegro, rendeu uma briga jurídica por parte do lado palmeirense, que chegou a tratar o Estadual como "Paulistinha". O dérbi que começa a ser disputado nesta noite, porém, mostra que o duelo é muito mais do que isso.

Uma das maiores rivalidades da América do Sul, Corinthians e Palmeiras já começaram a esquentar o noticiário nos bastidores pré-jogo. E o UOL Esporte lista abaixo o que faz deste clássico uma partida bem mais pesada que a decisão de um torneio que muitos já não tratam com o mesmo peso de anos atrás.

DISCUSSÃO SOBRE OS PROTOCOLOS

O duelo já esquentou antes de a bola rolar, por conta dos protocolos de saúde adotados por Corinthians e Palmeiras. O clube alvinegro declarou que mantém seu elenco confinado desde a volta do Estadual e, por isso, não precisava fazer testes antes do duelo de hoje. Já o rival alviverde optou por outra estratégia.

O Corinthians alega que testará amanhã (6) porque já havia acertado desta forma com a Federação Paulista de Futebol (FPF), conforme o protocolo elaborado pela entidade e seu comitê médico, após aprovação exigida pelo governo do Estado de São Paulo, Prefeitura de São Paulo e prefeituras de todas as cidades dos demais clubes participantes do Estadual.

Acusado pelo Corinthians de não cumprir o protocolo de saúde para a volta dos jogos, o Palmeiras rebate argumentando que tem feito até mais do que o necessário. Diferentemente do rival, o Verdão não mantém o grupo confinado durante todo o tempo e entende que é melhor fazer mais testes do que realizar a concentração até o fim do Estadual. A FPF e o governo estadual aceitaram as escolhas dos dois clubes.

CHANCE DE TETRA PARA O CORINTHIANS

Uma das maiores decepções do Corinthians quando o time estava quase eliminado (antes das vitórias contra Palmeiras e Oeste), era perder a chance de conquistar o tetracampeonato paulista inédito. O assunto era unanimidade no Parque São Jorge. Agora, o Timão pode ser o único tetra na era profissional, que teve início em 1933. Antes disso, o Paulistano conquistou quatro títulos consecutivos de 1916 a 1920.

HISTÓRICO RECENTE DO PALMEIRAS NOS DÉRBIS

O Palmeiras venceu apenas dois clássicos com o Corinthians, empatou outros dois e perdeu oito desde 2017, ano do início da gestão de Maurício Galiotte. O período coincide com os anos de alto investimento do Verdão, que em temporadas com times mais modestos conseguiu resultados melhores diante do arquirrival. Essa sequência está entalada na torcida.

"Não pode ter medo de jogar contra o Corinthians, aqui ou lá. O Palmeiras é um clube grande, de tradição, tem de estar preparado para jogar partidas decisivas. Viemos para ganhar, como eles querem, também. Temos de mostrar isto aos jogadores. Ninguém está aqui por estar. O Palmeiras oferece a possibilidade de fazer uma carreira muito boa e ganhar títulos. Jogador tem de se perguntar: o que estou fazendo aqui? Para passar o tempo? Ficar com medo de jogar uma decisão? Não", avisou Vanderlei Luxemburgo.

ÚLTIMO TÍTULO DE ANDRÉS

O tetracampeonato paulista será o último título do presidente Andrés Sanchez antes de deixar o seu mandato nas eleições no dia 28 de novembro. O dirigente ficará até o fim de dezembro no cargo, mas a final da Copa do Brasil e a reta final do Campeonato Brasileiro estão marcadas para fevereiro. O mandatário deve apoiar a candidatura do atual diretor de futebol, Duílio Monteiro Alves, mas não permanecerá na diretoria caso a situação vença a eleição.

PRIMEIRO MATA-MATA APÓS A FINAL DE 2018

A última vez que os dois times se enfrentaram na decisão do Paulista, o Palmeiras foi à Justiça alegando interferência externa para a arbitragem desistir da marcação de um pênalti a seu favor — não havia VAR à época. Os tribunais não abriram uma investigação, mas o Verdão considerou que seu dossiê tinha provas suficientes para impugnar o jogo.

Maurício Galiotte, que minutos após a polêmica derrota nas penalidades chamou o torneio de "Paulistinha", até rompeu com a Federação Paulista de Futebol e só foi se reaproximar no fim de 2019. Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, ironizou na época: "para quem perde é Paulistinha mesmo". No jogo de 22 de julho, um drone sobrevoou a Arena Corinthians, provocando o Palmeiras por conta daquela decisão.

TIAGO NUNES E A CONFIRMAÇÃO PÓS-CRISE

O técnico Tiago Nunes começa a se consolidar após o retorno dos jogos que haviam sido paralisados por conta da pandemia do coronavírus. O treinador mudou o sistema de jogo para alcançar resultados. Após tentar implementar a estratégia ofensiva que deu certo no Athletico-PR e sucumbir na Pré-Libertadores, além de quase cair na primeira fase do Paulista, o treinador voltou com esquema mais defensivo e conquistou quatro vitórias seguidas — diante de Palmeiras, Oeste, Red Bull Bragantino e Mirassol.

Tiago Nunes foi aconselhado durante a paralisação a entender mais o Corinthians dentro e fora de campo. O treinador impressiona a todos taticamente no dia a dia do Corinthians, mas foi aconselhado a entender que não era o suficiente para ser vencedor no clube paulista. Ele agora acerta a defesa, mas não deixa de lado seu lado criativo. Tiago, aliás, até recuou no discurso de técnico ofensivo.

"É muito mais voltado para o meu perfil de ideias. Eu fui contratado por ter um perfil mais parecido com o que Andrés [presidente] e o Duílio [Monteiros Alves, diretor de futebol] queriam implementar. E como qualquer ideia a de cultura de futebol, você precisa entender o lugar que você está chegando. O reflexo do meu trabalho é o que os jogadores estão transmitindo dentro de campo. Às vezes joga bem, às vezes não joga bem. O que é jogar bem? A gente vive um momento em que todas as pessoas são rotuladas, vivemos um mundo de rótulos. Eu, em nenhum momento desde que eu cheguei aqui, me rotulei um treinador ofensivo, sou um treinador desportivo como falei inúmeras vezes", afirmou Tiago.

REDENÇÃO DE LUXEMBURGO

Vanderlei Luxemburgo chegou a ficar um ano e meio desempregado, entre sua saída do Sport, em outubro de 2017, e a volta ao Vasco, em maio de 2019. Frequentemente questionado se estava ultrapassado, o técnico fez um bom trabalho no Cruz-Maltino ao evitar o rebaixamento e obter vaga na Copa Sul-Americana.

Com a negociação frustrada entre Palmeiras e Jorge Sampaoli, Luxa recebeu uma chance que talvez já nem esperasse mais: comandar um dos elencos mais fortes do Brasil. Ainda que o Campeonato Paulista não seja a principal competição do calendário palmeirense, é a única que terá término em 2020 — as outras foram empurradas para 2021, por conta da pandemia do coronavírus. É, portanto, a oportunidade de o treinador mostrar que ainda faz bons projetos.

VIDA PÓS-DUDU NO PALMEIRAS

Nas últimas cinco temporadas, Dudu foi sempre o protagonista no Palmeiras. Autor de dois gols na final da Copa do Brasil de 2015, capitão no título brasileiro de 2016 e craque no Nacional de 2018, o camisa 7 foi emprestado ao Al-Duhail, do Qatar, no mês passado. Com apenas quatro jogos desde a saída do atacante, o Verdão já tem a chance de rapidamente conquistar uma taça e mostrar que não é tão dependente como se imaginava.

Ainda não há um jogador que tenha chamado a responsabilidade para preencher a lacuna de Dudu, mas Willian, Rony e Luiz Adriano têm a chance de fazer isso no dérbi.

FICHA TÉCNICA:

CORINTHIANS x PALMEIRAS
Data e horário: 05/08/2020, às 21h30 (de Brasília)
Local: Arena Corinthians
Árbitro: Raphael Claus
Auxiliares: Neuza Ines Back e Daniel Paulo Ziolli
Quarto árbitro: Vinicius Gonçalves Dias Araujo
VAR: Thiago Duarte Peixoto

CORINTHIANS: Cássio; Fagner, Gil, Danilo Avelar e Carlos Augusto; Gabriel, Éderson, Ramiro, Mateus Vital e Luan; Jô. Técnico: Tiago Nunes.

PALMEIRAS: Weverton; Marcos Rocha, Luan, Gustavo Gómez e Viña (Diogo Barbosa); Patrick de Paula, Gabriel Menino e Ramires; Willian, Rony e Luiz Adriano. Técnico: Vanderlei Luxemburgo