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Ex-zagueiro William ajuda jogadores aflitos com corte salarial na pandemia

William Machado, também conhecido pelo apelido "Capita", durante entrevista ao UOL Esporte em julho de 2019 - Lucas Seixas/UOL
William Machado, também conhecido pelo apelido "Capita", durante entrevista ao UOL Esporte em julho de 2019 Imagem: Lucas Seixas/UOL

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

10/06/2020 04h00

Os cortes salariais impostos pelos clubes de futebol brasileiros em meio à recessão econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus são motivos de preocupação para jogadores até na elite. Campeão brasileiro do ano passado e identificado como potência econômica do esporte no país, o Flamengo reduziu 25% dos valores relativos a maio e junho. O vice de 2019, Santos, também como exemplo, enxugou 70%.

Apesar de atletas desse nível receberem cifras distantes de qualquer paralelo na realidade brasileira, eles também são atingidos pela contenção de gastos. Quem atesta é o ex-zagueiro, dirigente de clubes e comentarista William Machado, hoje assessor de investimentos. Em meio à pandemia, ele foi procurado por jogadores preocupados com a administração do dinheiro para não sofrerem durante a crise.

"Dentro do futebol os atletas estão acostumados com atrasos de salário, isso é comum em todas as divisões. Existe essa má gestão sistemática, recorrente. Quando vem uma pandemia e você tem o estrangulamento das contas, é preocupante. Os atletas que já tinham salários atrasados, agora enfrentam cortes. Muitos têm uma reserva para utilizar nesse momento, o que é ótimo, mas viram que precisam melhorar a forma como investir", conta ao UOL Esporte.

Santos - Ivan Storti/Santos FC - Ivan Storti/Santos FC
Santos foi o grande clube que mais cortou salários: 70% após combinar 30% com o elenco
Imagem: Ivan Storti/Santos FC

William Machado vê essa preocupação em diferentes setores da sociedade: "Entre março e abril, a população de forma geral se preocupou com investimentos, algo que relegavam ao segundo plano. A crise, como veio forte, mostrou que um investimento bem feito te dá uma tranquilidade maior. O mundo ficou mais pobre, perdeu riqueza. Obviamente, nesse cenário muito triste, quem tem menos fica com menos. Atletas que já ganham pouco sofrem mais com esses cortes, assim como o cidadão comum, qualquer corte causa impacto muito grande."

A carteira de clientes do ex-zagueiro na "Messem Investimentos" conta com 35% de atletas. Além da procura por pessoas especializadas na área, ele vê os jogadores mais preocupados em entender os produtos financeiros e fazer boas aplicações. E isso cada vez mais cedo, e não em fase final de carreira.

"Eu fiz uma live para jovens atletas a pedido de um cliente meu que é empresário. Ele tem o olhar de que quanto mais cedo entenderem de investimento, melhor. Porque, se eles tiverem sucesso na carreira, terão um longo tempo, um horizonte de acúmulo trabalhando a seu favor. Se desde cedo olharem aos investimentos e buscarem conhecimento, cometerão menos erros ao longo do caminho e sofrerão menos", relata.

Se o jogador começar a juntar dinheiro aos 32 anos para parar de jogar aos 37, vai notar que torrou muito, que perdeu com venda de apartamento, com troca de carro. Quanto mais cedo, menos fica pesado.

"Eu instigo meus clientes a buscar conhecimento, não gosto quando eles delegam e fecham os olhos, não é o que almejei. Falo muito com os desinteressados que precisam de um alicerce de conhecimento. Hoje mesmo eu tive reunião com um casal, uma senhora de 62 anos, ele, 68, que têm uma carteira imobiliária e estão pesquisando sobre investimentos financeiros. É muito motivante. Se não nos preocuparmos, viramos alvo muito fácil de pessoas desonestas e paramos de olhar com certa aversão ao mercado financeiro."

Corinthians - Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians - Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians
Corinthians atingiu três meses de salários atrasados no elenco no último dia 5
Imagem: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians

Além do trabalho como assessor de investimentos, William Machado faz parte do conselho fiscal do SIAFMSP (Sindicato dos Atletas de Futebol do Município de São Paulo), um grupo criado para defender os interesses de jogadores que ganhou força justamente com a mobilização no contexto da pandemia, como mostrou reportagem do UOL.

Entre alguns dos principais clubes do Brasil, os cortes salariais foram de 25% (Atlético-MG, Bahia, Corinthians, Flamengo e Palmeiras), 50% (São Paulo) ou até 70% (Santos).