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Como Fifa analisa ações e por que clubes como Corinthians podem ser punidos

Bruno Méndez, do Corinthians - Alessandra Torres/AGIF
Bruno Méndez, do Corinthians Imagem: Alessandra Torres/AGIF

José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo

04/06/2020 04h00

Nesta semana surgiu a informação de que o Corinthians pode ser punido após o Montevideo Wanderers ter acionado a Fifa em função de uma dívida referente à contratação de Bruno Méndez, no início de 2019. Na época, ficou acertado o valor de US$ 3,5 milhões (cerca de R$ 13 milhões na ocasião) para a transferência — sendo que apenas a primeira parcela de US$ 1 milhão foi quitada.

Se não pagar os débitos, o Alvinegro pode sofrer sanções, como não poder registrar jogadores por até três janelas de transferências. Tal situação, porém, não é exclusividade corintiana e mais casos assim devem surgir nos próximos meses envolvendo equipes brasileiras.

Em maio, a Fifa impôs ao Cruzeiro a perda de seis pontos na Série B do Brasileiro por causa da dívida com o Al-Wahda, dos Emirados Árabes Unidos, referente à contratação do volante Denílson, em 2016. Ainda neste ano, o São Paulo também foi acionado na entidade máxima do futebol mundial por causa de valores em aberto da transferência de Tchê Tchê junto ao ucraniano Dínamo de Kiev. Ainda estão em tramitação casos como os do Atlético-MG (envolvendo jogadores como Maicosuel, Douglas Santos, Rafael Carioca e Chara), Fluminense (Sornoza e Orejuela), Santos (Cléber Reis, Luan Peres e Felipe Aguilar) e Sport (André).

Vale destacar que para ser analisado pela Fifa, o caso tem de envolver um jogador ou clube estrangeiro. Ações entre jogadores brasileiros são analisadas pela Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD).

"Além de a Fifa estar mais rápida para analisar os casos, hoje a decisão já contempla sanção em caso de não cumprimento, acarretando automaticamente em uma punição com três janelas de suspensão de registro. O que para a maior parte dos clubes é uma grande punição", disse o advogado Rafael Botelho, do PVBT Law (escritório especializado em direito esportivo).

"O clube aqui no Brasil contava com a morosidade e a burocracia. Agora, o regulamento está mais simples e ágil. Coisa que demorava quatro anos, passou a ser resolvida entre seis meses e um ano. E, com mais jogadores voltando ao Brasil e clubes endividados, vão ter mais casos. Além disso, as equipes brasileiras vão deixar de ser primárias também — casos de reincidência aceleram a aplicação da pena, que pode ser mais pesada como com a perda de pontos que é o último recurso porque interfere no resultado do jogo", completou Botelho.

A aceleração na avaliação dos processos tem ligação também com a mudança na cúpula da Fifa e na sua sistemática de trabalho. Desde 2018, o espanhol Emilio Garcia Silvero trocou a Uefa pela entidade máxima do futebol. Com ele, chegaram mais advogados para agilizar os casos.

Por causa da mudança no sistema de trabalho da Fifa e do menor número de transações internacionais, antigamente, tais casos eram muito mais raros. Retornando no tempo, em agosto de 2006, o Guarani, que então disputava a Série B, foi o primeiro clube do país a sofrer com a perda de pontos em um campeonato nacional por causa de dívidas.

Na ocasião, um imbróglio envolvendo a venda do lateral esquerdo Gilson ao Samsunspor Kulubu, foi gerado por conta de os turcos terem pago antecipadamente e o jogador não ter ido, de fato, para o clube europeu. Com isso, como o time de Campinas não reembolsou o Kulubu, o caso foi parar na Fifa, que deu ganho de causa para os turcos e ainda puniu o Guarani com a perda de três pontos na Série B daquele ano. No fim, o time acabou a temporada rebaixado à Série C e o prejuízo foi grande, visto que com um ponto a mais no término da competição teria conseguido se manter na segunda divisão.

Anos depois, já em 2014, o Botafogo viveu caso semelhante em um processo movido pelo Guangzhou Evergrande, da China, envolvendo a negociação do jogador Elkeson. A Fifa, na ocasião, advertiu o time carioca e, já sob nova regulamentação interna, ameaçou tirar seis pontos do Alvinegro na disputa do Campeonato Brasileiro do ano seguinte. Como o Alvinegro carioca fora rebaixado em 2014, a punição seria paga na Série B de 2015. Porém, os dirigentes cariocas quitaram a dívida com os chineses dentro do prazo estipulado pela entidade e se livraram da pena.

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