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Goleiro argentino da Copa de 98 largou o futebol por medo do fim do mundo

Carlos Roa, goleiro da seleção da Argentina na Copa do Mundo de 1998 - Stu Forster/Allsport/Getty Images
Carlos Roa, goleiro da seleção da Argentina na Copa do Mundo de 1998 Imagem: Stu Forster/Allsport/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

19/04/2020 18h17

O goleiro Carlos Roa pegou dois pênaltis nas oitavas de final da Copa de 98 e ajudou a Argentina a vencer a Inglaterra e avançar na competição. No ano seguinte, aos 30 anos e no auge da carreira, ele tomou uma decisão que até hoje parece inexplicável. Sondado para ser goleiro titular do Manchester United, Roa recusaria a transferência e anunciaria sua aposentadoria precoce.

Mais de 20 anos depois, em uma entrevista ao tabloide britânico "The Mirror", ele explicou que sua decisão se deu por motivos religiosos. Membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Roa acreditava que o mundo estava próximo do fim. Comunicou sua decisão ao Mallorca, clube com o qual tinha contrato, e voltou à Argentina para se preparar espiritualmente para o fim dos tempos.

Aos 50 anos, o ex-goleiro não escondeu uma pontada de arrependimento:

"Hoje eu ainda acho que do ponto de vista espiritual foi uma ótima decisão. Mas em termos esportivos não foi - porque eu deixei o futebol no melhor momento da minha carreira. Eu poderia ter evoluído bastante, ter ótimos contratos e jogar na Inglaterra. As pessoas nunca vão entender. Na época, elas me tiraram do sério, me ligavam de todos os cantos e por mais que eu tentasse explicar meus motivos, era muito difícil para elas entender."

"Naquela época eu era muito religioso e estudava muito a Bíblia. Foi uma decisão difícil, mas muito refletida. E minha família concordou comigo", completou o ex-goleiro, que hoje é da comissão técnica do San Jose Earthquakes, que disputa a MLS, liga norte-americana de futebol.

Roa afirmou que sua aposentadoria também foi lamentada pela direção do Mallorca, insatisfeita com o insucesso da negociação com o United. À época, o treinador Alex Ferguson buscava um substituto para o dinamarquês Peter Schmeichel, que marcou época na baliza do United.

"Algumas coisas aconteceram e nunca virão a público porque elas são muito pessoais e eu só poderia falar delas para pessoas muito próximas. Muitas coisas foram faladas naquela época que eram fruto de ignorância e falaram muito mal de mim. O clube achou que eu voltaria e que eles recuperariam muito dinheiro com a transferência que estava prestes a acontecer."

Como o apocalipse acabou não acontecendo, Roa até voltaria a jogar seis meses depois de anunciar sua aposentadoria, mas nunca conseguiu recuperar o ritmo que o levou a ser o principal goleiro da Argentina.

Suas duas defesas na disputada de pênalti das oitavas da Copa do França o transformaram no grande carrasco dos ingleses daquele mundial. "Meu nome foi escrito na história do futebol argentino e vai ser para sempre lembrado", afirmou. A Argentina acabaria sendo eliminada pela Holanda, nas quartas.