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Hoje zagueiro, ex-Palmeiras vê gol heroico sobre Alisson como ponto alto

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João Henrique Marques

Colaboração para o UOL, em Paris

09/04/2020 04h00

Quando marcou o gol da classificação do Palmeiras às semifinais da Copa do Brasil em 2015, na vitória por 3 a 2 sobre o Internacional, no Allianz Parque, Andrei Girotto viveu o auge. Quase cinco anos depois, outra cabeçada decisiva entrou na galeria de feitos do agora zagueiro do Nantes, da França. Foi o gol doe empate por 3 a 3 contra o Dijon, em fevereiro, pelo Campeonato Francês, aos 47 minutos do segundo tempo. Um episódio que o fez recuperar as sensações vividas na campanha do título alviverde e consolidar ainda mais o perfil de jogador modelo para o clube francês.

"O gol contra o Internacional foi o que marcou minha carreira. Até hoje tem palmeirense que me manda mensagem dizendo da grande emoção que sentiu por conta do gol. Eu fiz algo parecido esse ano. No empate contra o Dijon, marquei em uma cabeçada e fiquei sem reação inicialmente. Aos poucos, foi como resgatar aquela emoção vivida no Palmeiras. Muito gostoso", disse Andrei Girotto, em entrevista ao UOL Esporte.

Andrei Girotto em ação pelo Nantes durante jogo contra o Nimes - Tim Clayton/Corbis via Getty Images - Tim Clayton/Corbis via Getty Images
Andrei Girotto em ação pelo Nantes durante jogo contra o Nimes
Imagem: Tim Clayton/Corbis via Getty Images

Na conversa, o jogador falou sobre a trajetória no Nantes, clube que defende desde 2017. O contrato recentemente renovado vai até junho de 2024, fruto da adaptação e da ótima relação com o treinador francês Christian Gourcuff. Mas ele não esquece do Palmeiras, elegendo Dudu como o melhor companheiro que já teve.

Mas o carinho que sente nas lembranças do título da Copa do Brasil não é o bastante para que ele pense em voltar ao Brasil. Além do Palmeiras e do Nantes, o defensor passou por Metropolitano-SC, América-MG e Chapecoense, além de ter feito uma temporada no futebol japonês.

Pelo Nantes, Girotto foi titular em 25 dos 28 jogos do time no Campeonato Francês nesta temporada. A equipe está na 13ª posição, com 37 pontos.

Confira a entrevista com Andrei Girotto

O confinamento

Clube passou treinos para realizar diariamente. Faço treino todos os dias em casa. O clube pediu para todos ficarem por aqui. Se voltar para o Brasil, pode ser contaminado no percurso, e depois não podemos ver familiares. É complicado. Depois, a gente também, se volta para o Brasil, não sabe se vai poder voltar para a França. Eu conversei e estava com vontade de voltar para o Brasil, sim, mas era prudente ficar.

Sobre a temporada

Com a chegada do Gourcuff, algumas mudanças foram feitas. E ele me deu a oportunidade de jogar de zagueiro. Nessa função eu tive o grande crescimento. Fiz grandes partidas. E ele me deu confiança para seguir nessa posição, e fui ganhando espaço e condição.

Já tinha jogado algumas vezes de zagueiro, mas nunca fixo. Sempre improvisação. Ele gosta de saída de bola tocando, no chão, e me viu como volante e gostou. Sempre gostei dessa posição, e para mim foi bom. É minha melhor temporada, e estou feliz de estar aqui.

Tive uma ótima evolução taticamente e fisicamente, e com os anos de experiência a gente evolui bastante em aspectos técnicos também. E ainda mais nesse ano, com a nova posição que adaptei, sei que tenho ainda ainda maior valor.

Torcida

Em Nantes, eles são fanáticos. Todos os jogos lotam o estádio. Eles estão empolgados com minha renovação e sempre procuram passar esse carinho para mim. Estou feliz com a troca de carinho. Eu espero ficar aqui muito tempo. Já são três anos, e espero mais.

Relação com clube e cidade

É um conjunto. O clube é bom para trabalhar, cidade é boa, torcida sempre lota e sempre apoia. É um conjunto de tudo. Eu gosto da tranquilidade para morar. Tem ótimos lugares para visitar, parques bonitos, e a França no geral tem cidades lindas. Vou com minhas esposa fazer algumas viagens de vez em quando.

Eu já falo francês. Nos primeiro seis meses foi complicado, e depois a gente vai aprendendo. Fiz aula no meu primeiro ano por aqui.

Amizades no futebol

O Fábio [lateral brasileiro do Nantes] é um grande amigo aqui. Eu também tenho ótima relação com o [zagueiro francês] Nico Pallois. Ele é uma referência aqui, tem 32 anos, é muito respeitado por todos. Me ajuda com conselhos, e temos amizade fora de campo.

Ainda falo bastante com o Vitor Hugo [zagueiro do Palmeiras], que foi um dos meus melhores amigos no Palmeiras. Tem o Nathan [zagueiro] que também é amigo meu do Palmeiras e hoje joga na Suíça (Zurique). Já fui até com a minha família visitar eles por lá.

Sobre a morte do companheiro Sala

Foi um período de intensa tristeza. Claro que fomos surpreendidos, e a verdade é que até hoje é algo que ainda choca muita gente envolvida com o clube. Algo que ficou marcado de maneira muito triste. Eu tinha uma relação ótima com ele. Era um cara querido, e por ser sul-americano tinha brincadeiras e outros gostos muito parecidos comigo. A gente não gosta de tocar nesse assunto até hoje.

Duelos contra o PSG

Sempre fizemos bons jogos com o PSG (uma vitória e duas derrotas nos últimos três jogos). Particularmente, eu fui bem, mas é que você precisa ser perfeito o jogo todo contra adversário desse nível. Nós fizemos uma grande atuação, mas existem detalhes que a gente falha por algum momento e muda toda a partida.

Eu, para marcar o Neymar ou Mbappé, buscava a antecipação. Não posso usar da velocidade contra eles, mas como zagueiro não posso deixar o espaço atrás de mim. Então tem que ter muita inteligência. Jogar sempre no limite do erro. O Neymar vai driblar, partir para cima, e fica complicado. Mas eu conseguia evitar muitas coisas com uma boa antecipação, diminuindo o campo de ação dos atacantes.

Gol histórico pelo Palmeiras contra o Inter

Foi o gol que marcou minha carreira. Até hoje tem palmeirense que me manda mensagem dizendo da grande emoção que sentiu por conta do gol. Eu fiz algo parecido esse ano. No empate por 3 a 3 contra o Dijon, marquei o gol de empate do Nantes aos 47 minutos do segundo tempo. Foi como resgatar aquela emoção vivida no Palmeiras. Muito gostoso.

Retorno ao Brasil

Sinceramente, não faço planos de voltar. Minha família está adaptada aqui, todos gostamos muito da rotina, e eu me identifiquei com o clube. O Nantes é forte, e foi bom ter uma renovação de contrato. Eu precisaria de vários motivos para voltar ao Brasil, e isso não passa em minha cabeça no momento.

Treinador marcante

O carinho que eu tenho pelo Gourcuff aqui no Nantes com certeza vai ficar marcado na minha carreira. Ele conversa muito comigo, e gosto da forma com que trabalha. O Wagner Mancini [2017 na Chapecoense] também foi outro cara que me ensinou bastante e passou confiança. Assim como o Paulo Comelli e o Givanildo de Olvieira (ambos do América-MG). O Givanildo é um cara divertido, que todo mundo gosta. E sabe conversar com o jogador.

Jogador mais habilidoso ao seu lado

Foi o Dudu no Palmeiras. Era incrível a velocidade que tem, técnica e o poder de finalização. Eu ficava impressionado com ele nos treinos, e ele também sempre estava decidindo jogos a nosso favor. Já aqui no Nantes eu coloco o Boschilla como o melhor que vi. Habilidade que faz muita diferença. Pena ele ter ido para o Brasil [Internacional].

Jogador mais habilidoso que enfrentou

Volto a falar do Neymar. Não dá cara, é algo fora do normal. Ele tem um lance de mudar de direção com a mesma velocidade e sem você ter como notar pelo movimento. Eu nunca tinha enfrentado jogador com tanta qualidade.

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