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Dupla ex-Palmeiras está confinada em ilha sem caso de covid-19: 'como Lost'

Pedro Marlon, à esquerda, e Pedrão, à direita; brasileiros estão presos na ilha de Corfu, na Grécia - Arquivo pessoal
Pedro Marlon, à esquerda, e Pedrão, à direita; brasileiros estão presos na ilha de Corfu, na Grécia Imagem: Arquivo pessoal

João Henrique Marques

Colaboração para o UOL, em Paris (França)

01/04/2020 04h00

Na ilha de Corfu, na Grécia, quase tudo está fechado. Seguindo ordem de confinamento imposto pelo governo grego, os 32 mil habitantes pararam as atividades mesmo sem nenhum caso do novo coronavírus registrado até o momento. A decisão impactou na rotina dos jogadores brasileiros Pedrão, zagueiro de 20 anos, e Pedro Marlon, meio-campo de 19 anos, e criou a sensação de vida em uma obra de ficção: "Parece que estamos em Lost" (seriado americano que foi hit na década passada e conta a vida de sobreviventes de um acidente aéreo em uma misteriosa ilha).

Os brasileiros defendem o time da ilha de Corfu, o Kerkyra, há oito meses, desde o início da temporada europeia. A "casa" é em quarto de hotel, que foi fechado por tempo indeterminado. O único vizinho é o dono do estabelecimento, e no cenário inusitado ainda contam com a chave do clube para realizar treinamentos diários.

"O centro de treinamento fica a três minutos a pé. Os jogadores em sua maioria são gregos e todos voltaram para suas cidades. Então, nos deram a chave e somos os únicos que vamos até lá diariamente. É bom pela estrutura de academia, e o campo para aprimoramento técnico também. Não tem o que fazer. É treinar e esperar alguma notícia sobre a volta da temporada", comentou Pedrão.

O clube em que a dupla atua é da Segunda Divisão da Grécia. O campeonato foi paralisado há três semanas, seguindo a Primeira Divisão e outras grandes ligas europeias. Na ilha banhada pelo Mar Jônico, mesmo sem casos da covid-19, o receio de contaminação era grande por conta de sua posição geográfica. Ela fica mais próxima da Itália, país mais contaminado da Europa, do que de Atenas, a capital da Grécia.

Os jogadores brasileiros contam que a população de Corfu se fechou antes mesmo das medidas governamentais —o confinamento começou oficialmente no dia 23 de março. A ilha ganhou fama no combate ao coronavírus no país quando rejeitou o desembarque de um navio de cruzeiros com 2.750 passageiros ainda em fevereiro, mesmo sem registros no país.

Jogadores brasileiros na Grécia - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Pedrão, zagueiro de 20 anos, e Pedro Marlon, meio-campo de 19 anos, em treino com sede do Kerkyra (GRE) exclusiva para eles
Imagem: Acervo pessoal
A Grécia também teve atuação rígida no combate à epidemia cancelando as festas de Carnaval em fevereiro em todo o país no momento em que o número de infectados pelo novocoronavírus era de três pessoas. Atualmente, o número de casos oficial é de cerca de 1.300, com 49 mortes - a Grécia tem população estimada em aproximadamente 11 milhões de pessoas.

"O serviço portuário aqui é forte, mas está fechado para cruzeiros turísticos. A opção da balsa, que demora até duas horas para chegar na ilha, também está controlada. E o aeroporto circula com movimentação baixa, com voos cancelados. Nós não temos o que fazer. Ficamos no quarto vendo o noticiário, conversamos com nossos familiares a todo momento, e esperamos que isso passe logo", comentou Pedro Marlon.

No Kerkyra, os jovens jogadores são os únicos sul-americanos em busca de projeção para seguir carreira em outros clubes mais expressivos da Europa. Com o foco no futebol, eles não cogitam ida ao Brasil até que o cenário sobre o futuro do futebol no continente esteja claro.

"Vamos seguir fechados aqui e temos nosso sonho, objetivo. O clube tem uma estrutura muito boa e investe em jovens jogadores. Morar na Ilha também é uma experiência bem legal. Meus pais estão morando na Espanha e até pensavam em vir para cá, mas agora não adianta: está tudo fechado", relatou Pedro Marlon.

Jogadores são formados no Palmeiras

Pedrão e Pedro Marlon Pedrão e Pedro Marlon são formados na base do Palmeiras, onde se conheceram e atuaram juntos entre 2014 e 2017 nas categorias Sub-15 e Sub-17. Ambos também dividiram vestiário com atletas como Alan, Lucas Esteves, Gabriel Menino e Patrick de Paula, atualmente no time principal.

Após isso, o caminho trilhado até o Kerkyra foi distinto. Pedrão atuou no sub-19 do União Leiria de Portugal, enquanto Pedro Marlon passou pelo sub-19 e sub-23 do Getafe.

"Fui jogar no Getafe, pois meus pais estavam de mudança para a Espanha. Foi incrível o aprendizado em um jogo veloz e de posse de bola. Aqui é um futebol mais truncado, de bola área, mas espero é uma oportunidade para ser visto por grandes clubes da Grécia", explicou Pedro Marlon.

"O clube estava na Primeira Divisão há duas temporadas, mas caiu e teve dificuldade financeira na Segunda Divisão. Eles apostam em jovens e aqui eu tenho bastante espaço. Espero voltar ao centro do futebol europeu com jogador de primeira", comentou Pedrão.

O campeonato que estão disputando foi interrompido restando apenas duas rodadas para o encerramento. O Kerkyra está na penúltima colocação, já está sem possibilidade de acesso, mas ainda tem a chance de escapar do rebaixamento em uma eliminatória que será disputada entre os seis piores colocados.