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Vítima de desastre ambiental, CSA faz acordo e deixa CT depois de 97 anos

Márcio Araújo em ação no último treino do CSA em ct no Mutange - Divulgação/CSA
Márcio Araújo em ação no último treino do CSA em ct no Mutange Imagem: Divulgação/CSA

Bruno Fernandes

Colaboração para o UOL, em Maceió

27/03/2020 04h00

O CSA deixa seu centro de treinamento no bairro do Mutange, em Maceió, nesta segunda-feira (30) para nunca mais voltar. A mudança acontece após meses de discussão entre o clube, vítima de desastre ambiental que causa o afundamento de quatro bairros da capital alagoana, e a petroquímica Braskem, pertencente ao grupo Odebrecht, para selar acordo. Jogadores ligados à agremiação realizarão suas atividades no Estádio Nelson Peixoto Feijó, pertencente ao antigo Corinthians Alagoano, até que uma nova casa fique pronta.

No acordo, ficou definido que a mineradora, responsável pelo desastre ambiental ocasionado pela extração de sal-gema, pagará uma indenização ao CSA. O clube ocupava o CT há 97 anos e realizou seu último trabalho no local no dia 16 de março.

A ideia é que o clube utilize o valor, que não foi divulgado devido a contrato de confidencialidade de cinco anos com a empresa, para construir um novo CT, que também se chamará Comendador Gustavo Paiva como homenagem à sede histórica do clube.

"Assinamos um contrato, se falarmos algo sobre o valor corremos o risco de perder o valor", enfatiza o presidente do Conselho Deliberativo do clube, Raimundo Tavares.

Apesar da quantia exata da indenização não ser revelada, corretores imobiliários procurados pela reportagem estimam um valor de aproximadamente R$ 180,00 por metro quadrado na região do CT, o que indica que o terreno valeria aproximadamente R$ 6,2 milhões. O UOL Esporte apurou que o CSA vai receber pouco mais de R$ 9 milhões de indenização, incluindo estruturas físicas do local, danos morais, materiais e o custo para as reformas realizadas no Estádio Nelson Peixoto Feijó.

Em relação à construção do novo CT, previsto para ser finalizado em até dois anos, o presidente do Conselho diz esperar que a construção comece já no segundo semestre deste ano.

"Já estamos com dois locais em vista, estamos adaptando o projeto para saber qual será o mais viável, e devemos estar com o novo CT pronto até o final de 2021, quando acaba o mandato do Rafael Tenório", explica Raimundo Tavares.

Na lista, estão os municípios de Rio Largo, que teve um terreno oferecido pelo prefeito Gilberto Gonçalves (PP), e Marechal Deodoro. As cidades, localizadas na região metropolitana de Maceió, disputam a preferência da diretoria para a construção das novas instalações azulinas.

Sobre o processo de mudança e o que acontecerá com o antigo terreno, o presidente executivo do clube, o empresário Rafael Tenório, diz apenas que agora depende da empresa, que virou dona do local.

"Ao longo da semana passada começamos a tirar tudo. Só ficarão no antigo Mutange dois vigilantes para fazer a segurança do local que agora pertence à Braskem. Na volta do campeonato, os jogadores já devem treinar lá no Nelsão da via expressa", afirmou.

Um século de história no Mutange

O clube ocupava o espaço desde 1922, mas nem sempre o local se chamou Centro de Treinamento Gustavo Paiva. Começou como uma simples chacará e recebeu sua atual denominação no dia 29 de agosto de 1951, em homenagem a um dos sócios mais presentes do clube que havia falecido em 27 de outubro de 1943.

Durante muitos anos, foi o estádio mais moderno de Alagoas, sendo inclusive o único com condições de receber jogos noturnos pelo fato de ter refletores. Em 1951, sediou o primeiro jogo internacional em Alagoas, no qual o CSA empatou por 1 a 1 com o Vélez Sársfield.

Por lá, passou Dida, que era titular da seleção brasileira até a Copa do Mundo de 1958 e que, após contusão, abriu espaço para o jovem Pelé. Também foi revelado no local o goleiro Flávio, único jogador que ganhou todas as divisões do Campeonato Brasileiro.

Também estão entre as crias do CSA que passaram pelo local o atacante Pêu e os meias Souza, Cleiton Xavier e Adriano Gabiru, famoso por ter feito um dos gols mais importantes da história do Internacional na vitória por 1 a 0 sobre o Barcelona, pelo Mundial de Clubes de 2006.

Depois de transformar o Mutange em um CT em 2012, o CSA passou a disputar suas partidas no Estádio Rei Pelé, que pertence ao governo estadual. O CT provisório, onde o clube vai treinar depois da pandemia de coronavírus, pertence ao Corinthians Alagoano que no fim de 2013 se uniu ao Santa Rita, equipe da cidade de Boca da Mata, no interior de Alagoas.

Afundamento de bairros em Maceió

A extração do mineral utilizado principalmente na produção de cloro e PVC teve início no começo da década de 1970 na cidade de Maceió. Quase 50 anos depois, em 3 de março de 2018, os bairros do Pinheiro, Bebedouro, Bom Parto e Mutange foram atingidos por um pequeno tremor de 2,4 pontos na escala Richter, suficiente para decretar o fim dos dias de tranquilidade e mudar drasticamente a rotina de cerca de 20 mil moradores e de várias empresas. Ruas e casas passaram a apresentar rachaduras e desníveis.

Passaram-se meses sem explicação, até que no dia 8 de maio um laudo da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, Serviço Geológico do Brasil foi divulgado em uma audiência pública. O diretor da CPRM, Thales Sampaio foi enfático.

"Na região, há uma falha geológica, e a empresa deveria realizar testes antes de fazer perfuração e mineração. O que agravou o fenômeno nos bairros". afirmou.

"As cavidades foram construídas exatamente na intersecção das estruturas ou em cima delas. Isso não deixou que as cavernas ficassem íntegras, causando a desestabilização das cavidades construídas pela Braskem", completou.

Relembre: Afundamento do solo ameaça 30 mil moradores

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