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"Quem falou que motéis nunca tinham crise": desabafa ex-artilheiro Sinval

Sinval  - Reprodução
Sinval Imagem: Reprodução

Eder Traskini e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

26/03/2020 04h00

A pandemia do coronavírus obrigou o brasileiro a ficar dentro de casa e isso, é claro, afeta a economia do país até mesmo em setores que nunca imaginaram passar por uma crise dessas. O ex-atacante Sinval, dono de motéis em Andradina, interior de São Paulo, é exemplo disso.

O atleta que foi artilheiro da única conquista internacional do Botafogo, a Copa Conmebol de 1993, possui três motéis na cidade e estava em vias de inaugurar o quarto. Hoje, ele comemora o fato de não ter aberto o novo motel.

"Menos mal que eu não inaugurei o outro motel aqui em Andradina, senão seria ainda pior. Afetou desde a semana passada, a própria prefeita soltou um comunicado que tem que fechar. Vou dar férias coletivas até 5 de abril e vamos ver o que vai acontecer. Tenho 28 funcionários e a gente fica com medo de tomar alguma decisão precipitada e prejudicar os funcionários que têm família, a gente não pode abandoná-los", contou Sinval ao UOL Esporte.

São três motéis na cidade do interior: Parati, Aeroporto e Vip. O ex-atacante ainda possui uma lavanderia dentro de um deles e inauguraria o Motel Halls, seu quarto. Segundo ele, a folha salarial chega aos R$ 40 mil, com mais cerca de R$ 12 mil de gastos com energia. Agora, com os estabelecimentos fechados Sinval sabe que irá precisar tirar do próprio bolso.

"Desde a semana passada, o meu irmão já vem dizendo: 'amarra as calças aí esse mês', 'coisas que vocês nunca tiveram nos seus 18 anos que vocês têm motéis, vocês vão precisar tirar dinheiro do bolso'. Não adianta você falar que vai dar para empatar, não vai, dessa vez não, eu tenho que tirar dinheiro para eu pagar a minha folha salarial", disse.

Principalmente agora, as pessoas começam a brincar dizendo que não pode ficar perto, tem que ficar numa distância de um metro e nem ir para o motel dá (risos). É um setor que sempre falam que não tem crise, mas desta vez, e pela primeira vez, a crise chegou. Eu trabalho com isso há 18 anos, é lógico que ninguém quer passar por isso, ninguém do comércio passou por isso a grande realidade é essa.

Sinval explica que chega a faturar entre R$ 2 mil e R$ 3 mil por período de alta, que vai de quinta até sábado nos motéis. Ele projeta uma nova reunião com os funcionários após o dia 5 de abril para decidir os próximos passos.

"Motel é mais para quinta, sexta e sábado. São três dias e alguns picos assim que do nada aparece, mas isso é esporádico. A média, sem crise, varia muito entre quinta a sábado, vai de R$ 2 mil e R$ 3 mil no pico. Agora, o que eu penso é preservar os meus funcionários, eu não quero prejudicar de maneira alguma a família de ninguém. Eu não quero tomar decisão precipitada, fazer com que os meus funcionários possam ter confiança em mim. Vou dar umas férias coletivas neste período que pediram, ver se realmente as coisas funcionam para voltar à normalidade e, se não voltar, depois do dia 5 de abril sentamos todos juntos", explicou.

"Que seja bom para todos, não só para o patrão. Eu tenho que ver o lado dos meus funcionários, que têm família também. Espero que isso não se estenda para 60, 90 dias, porque o governo deu duas alternativas: você chama todo mundo e manda embora todos os funcionários, faz acerto com eles e devolvem os 20%, ou você dá as férias coletivas, eu estou indo pelo lado das férias coletivas", completou.

Sinval foi revelado pela Portuguesa e venceu com a Lusa a Copa São Paulo de Futebol Jr em 1991, e teve passagens destacadas também por Paysandu e Coritiba, onde foi campeão estadual, além do próprio Botafogo.