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Coronavírus: time abandonou jogo em Roraima e agora teme ser prejudicado

Jogadores do Baré usam máscaras e luvas em protesto para a paralisação do Campeonato Roraimense - Luan Soares/Agência Índio Guerreiro
Jogadores do Baré usam máscaras e luvas em protesto para a paralisação do Campeonato Roraimense Imagem: Luan Soares/Agência Índio Guerreiro

Karla Torralba e Marcello De Vico

Do UOL, em São Paulo e em Santos

19/03/2020 04h00

Assim que soube que a Federação Roraimense de Futebol optou por seguir com o Estadual, mesmo após as orientações para que seja evitado contato próximo a outras pessoas em meio à pandemia do novo coronavírus, o Baré, time da capital Boa Vista, tentou reverter a decisão, ressaltando que os jogadores e seus familiares seriam colocados em risco caso a bola continuasse a rolar.

Diante da recusa de rivais e da federação, resolveu cruzar os braços na partida contra o São Raimundo na última terça (17) e sair de campo. Agora, o clube espera as consequências da atitude e teme ser prejudicado, mesmo seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Roraima tem nove casos suspeitos do Covid-19.

Para que não fosse determinado o W.O. por não entrar em campo, o Baré decidiu adentrar ao gramado, com luvas e máscaras. Quando o juiz apitou o início do jogo, os atletas cruzaram os braços e abandonaram o campo. Após 30 minutos e o cumprimento do protocolo, o árbitro Yungo Paiva "suspendeu a partida até a próxima ordem".

Em conversa com o UOL Esporte, o presidente do clube Oziel Araújo Neto, explicou que a decisão de não jogar foi tomada depois de os próprios jogadores demonstrarem insatisfação. "Tivemos a decepção da federação optar por continuar. Alguns dirigentes [de clubes rivais] também manifestaram para continuar o campeonato. Entendemos que a situação é muito grave e só ter portões fechados não é suficiente para proteger do coronavírus. Isso envolve famílias, atletas...", ressaltou.

Agora, o dirigente teme que o clube possa ser prejudicado pela atitude. "Temos dúvidas se esse campeonato vai continuar, temos receio de sermos prejudicados também", ressaltou. "Olhamos o regulamento e sabíamos que se fosse contra, iam achar uma brecha para nos prejudicar. Então, optamos por dar o pontapé inicial e tirar o time de campo".

Na terça-feira (17), a Fifa enviou comunicados aos seus filiados orientando para que atletas que não queiram entrar em campo por receio do coronavírus não sejam punidos.

Oziel, que é formado em fisioterapia e trabalha na área de saúde, disse ter consciência que será prejudicial economicamente aos clubes.

"Também vamos sofrer as consequências com custo de hospedagem, alimentação, como todos. Eles querem continuar para acabar logo o campeonato, mas isso é irrelevante quando se fala da vida das pessoas. O que a gente mais quer é que paralise o campeonato, porque é uma questão de saúde. Uma vez que tenha um contaminado, é responsabilidade do clube. Também podemos sofrer processos trabalhistas", completou.

Em nota oficial, o Baré disse ter enviado documento para a Confederação Brasileira de Futebol solicitando a suspensão do campeonato, uma vez que 'em todo o país as competições já foram paralisadas'.

Em contato com a reportagem, o secretário da Federação Roraimense de Futebol (FRF), Darkson Leal, informou que a súmula do jogo foi enviada ao Tribunal de Justiça Desportiva, que agora realizará o julgamento para determinar qual punição deve ser aplicada ao Baré.

Campeonato suspenso?

Ontem (18), a Secretaria de Estado da Educação e Desporto de Roraima determinou o fechamento de todos os locais públicos, incluindo os estádios de futebol.

"Em virtude da pandemia do Covid-19, da necessidade de contenção do vírus e a responsabilidade do poder público em prevenir o contágio e ainda, de acordo com o inciso III, art. 8 do decreto nº 28.857-E de 16 de março de 2020, informo que a partir desta data todas as cedências das Unidades Esportivas Estaduais devem ser suspensas, com o intuito de resguardar a saúde da população roraimense", diz a nota.

Porém, no entendimento de Darkson, o estádio, apesar de fechado ao público, ainda fica disponível para a Federação caso ela queira dar sequência à competição.

"Eu vi esse documento, endereçado aos administradores dos estádios públicos, mas falando com o diretor do Instituto, ele diz que esse documento é válido para utilização pública. O campeonato da federação está de portões fechados, e ele diz que é critério da Federação continuar com a utilização do estádio, até porque ele não está aberto ao público. Está só para os jogos do campeonato, só os atletas e comissão, sem público", explicou.

Segundo Darkson, o Estadual continua até segunda ordem do presidente da FRF, José Gama Xaud, ou de uma determinação da CBF.