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Jardine diz como lição tomada por Tite na Copa foi decisiva no Pré-Olímpico

André Jardine mudou equipe para o último jogo do quadrangular final do Pré-Olímpico - Lucas Figueiredo/CBF
André Jardine mudou equipe para o último jogo do quadrangular final do Pré-Olímpico Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Danilo Lavieri

Do UOL, em Bucaramanga (Colômbia)

12/02/2020 04h00

A integração entre categorias de base e time profissional incentivada pela CBF foi decisiva para que André Jardine mudasse o esquema de jogo da seleção justamente no último e decisivo jogo do Pré-Olímpico, diante da Argentina, em Bucaramanga, na Colômbia.

Em entrevista ao UOL Esporte após garantida a vaga em Tóquio, o treinador da agora seleção olímpica explicou que as lições de Tite e de sua comissão técnica aprendidas na Copa do Mundo foram decisivos para que ele não pensasse duas vezes antes de mudar o esquema após seis jogos. O comandante da principal ficou bastante marcado por demorar a trocar a equipe em 2018, na Rússia.

A mudança foi decisiva para que Jardine reagisse ao processo interno de fritura que vinha sofrendo desde o início do quadrangular final, quando a seleção apresentou queda de desempenho justamente no momento mais importante da competição.

É importante destacar que as conversas ocorrem desde a entrada de Jardine na CBF. Não foi algo pontual da visita de Tite e seu auxiliar, Cléber Xavier, à concentração da seleção sub-23 na Colômbia. Normalmente atuando com dois pontas, o técnico olímpico decidiu colocar Paulinho mais próximo de Matheus Cunha, com Reinier e Pedrinho jogando no meio, com liberdade de cair pelas pontas, com bastante responsabilidade defensiva.

Confira a entrevista completa com André Jardine:

UOL Esporte: Quando você decidiu que mudaria o esquema de jogo para enfrentar a Argentina, colocando Paulinho mais próximo do Matheus Cunha?
André Jardine:
A partir do dia seguinte já [ao do empate com o Uruguai, pela penúltima rodada do quadrangular]. Nos acordamos cedo e trabalhamos nisso. Vimos o jogo de novo, já projetando a Argentina. Sempre que a gente vira de um jogo para o outro, já temos o adversário mastigado. Quando a gente viu o jeito que a Argentina se defendia, estava claro que a gente precisaria mudar algo. E aí a coisa foi ganhando corpo, discutindo possibilidades e chegamos nessa de ter o Paulinho mais próximo ao Matheus Cunha.

O Tite ficou marcado por não mudar o time na Copa do Mundo. A integração entre vocês facilitou para você tomar essa decisão?
Jardine
: É um trabalho constante de integração, não só aqui na Colômbia. Em várias conversas, ele nos disse que em Copas a gente não pode perder tempo. Quando a gente entender que precisa fazer mudanças, isso precisa ser feito de uma maneira mais rápida do que é a realidade dos clubes. Foi esse o bate-papo. O ensinamento que ele dividiu com a gente e a gente guarda na cabeça e tentou aplicar dentro do tempo. Não é que ele falou que tem que mudar o time. Mas ele disse que se em algum momento eu achasse que teria que mudar, precisaria ser mais rápido do que foi no clube.

Um dos principais destaques da competição foi Matheus Cunha, que é desconhecido do público brasileiro. Como é a captação destes jogadores?
Jardine:
A internet nos coloca à disposição muita coisa e a ferramenta deixa a gente assistir qualquer jogo, de qualquer categoria, de qualquer clube do mundo, a qualquer momento. Tempos atrás, isso era impossível. Hoje a gente joga lá na internet e assiste. Surge um nome em qualquer lugar do mundo, e a gente assiste. Primeiro, assistimos aos melhores momentos e, depois, quando confirma algo em relação a um jogador, assistimos jogos inteiros.

Na coletiva após a vaga, você disse que quer fazer o Brasil jogar de forma moderna e que é um pedido expresso da direção. Como funciona essa cobrança?
Jardine:
Essa é uma linha de pensamento que quem nos dirige deixa muito claro: o Brasil tem que ter times fortes, times capazes de vencer em primeiro lugar. De preferência, que seja com estilo que combina com o futebol brasileiro, com futebol arte, envolvente, competitivo e moderno. As grandes equipes jogam dessa forma, e a gente precisa se inspirar nelas. Precisamos ter equipes vencedoras, que apontam a direção para onde as coisas vão indo e de repente ser referência para inspirar outros times e outros treinadores. Temos que virar referência e estar um passo à frente sempre.

Você já tem a garantia da liberação de algum atleta para Tóquio-2020?
Jardine:
Começa um processo novo agora. Diria que do zero. Não tinha como se planejar sem ter a vaga. Então respeitamos muito a competição, sabíamos da dificuldade, apesar da confiança que teríamos a vaga. A gente não trabalhava com a vaga conquistada, mas com o desejo dela. A partir de agora, vai ser todo o processo de novo, de aproximação, de ir aos clubes, avaliar atletas que temos capacidade de levar. Vai dar muito trabalho, mas sonhamos em viver esse momento.

Quais posições você acha que precisará levar um atleta acima de 23 anos?
Jardine
: Neste período a gente não se permitia falar nisso. A gente não se sente bem falando de uma coisa sobre as quais não tinha garantia. Pareceria soberba. Então, a partir de agora, sim, a gente vai pensar caso a caso, vamos discutir muito. Não é uma coisa que vamos resolver em um ou dois dias. São assuntos para várias reuniões, gama muito grande de possibilidades que temos. Neste momento, é muito precoce. Começamos a pensar em algo que vai ter que amadurecer muito.

Se um atleta interessar ao Tite, para a Copa América, e a você, para a Olimpíada. Qual vai ser a prioridade?
Jardine
: Em nenhum momento falamos disso, porque era hipótese. Mas a integração nossa é ótima, é diária, não nos falta oportunidade em sentar e discutir essas coisas. Vai ser em conjunto, com presidente, Branco, Juninho, treinadores. Vamos encontrar o melhor caminho para as duas seleções, porque queremos ganhar tudo, amistosos e campeonatos e precisamos ter equipes fortes e competitivas para isso. E aí o pensamento é sempre ajudar. Não vai ser diferente agora. Estamos jogando três competições importantes e vamos ter êxito nas três porque competência nós temos.