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Como Neymar deu até carrinho para fazer as pazes com torcida do PSG

Tiago Leme

Colaboração para o UOL, em Paris (França)

13/01/2020 04h00

Logo após um erro ofensivo do Paris Saint-Germain, em disputa de jogada que poderia resultar em contra-ataque perigoso do adversário, Neymar deu um carrinho no gramado e jogou a bola para linha lateral, recebendo aplausos efusivos das arquibancadas. Poucos minutos depois, em outro lance desperdiçado pela equipe na frente, o camisa dez brasileiro foi o primeiro do time a voltar correndo para o campo de defesa, formando uma linha de marcação ao lado do zagueiro Thiago Silva. Os dois momentos citados aconteceram no primeiro tempo do movimentado empate do PSG com o Monaco, por 3 a 3, no Parque dos Príncipes, ontem (12), pelo Campeonato Francês. Sim, Neymar também fez dois gols e ainda finalizou para o gol no outro, que foi anotado contra por Ballo-Touré, se destacou ofensivamente, mas foi empenho defensivo do atacante que chamou a atenção pelo diferencial.

A dedicação do craque da equipe cumprindo uma função tática que não é habitual em sua carreira mostra um Neymar não apenas mais participativo em campo, mas também mais consciente de sua importância como líder da equipe. Taticamente, a ajuda dos homens de frente na marcação é uma necessidade para que o técnico Thomas Tuchel mantenha o esquema com quatro atacantes.

Pelo segundo jogo seguido, Neymar, Mbappé, Di María e Icardi foram escalados juntos como titulares, e o resultado foi um total de nove gols marcados pelo time. Comportamentalmente, o camisa dez tem recebido elogios e o reconhecimento da torcida, depois de um início de temporada em crise com os Ultras, a principal organizada do PSG.

Conversa para mudar postura

Questionado sobre o fato de estar ajudando mais o setor defensivo nas últimas partidas, Neymar explicou que houve uma conversa entre atletas e comissão técnica neste sentido.

"Para jogar assim, todo mundo tem que se dedicar um pouco mais, se esforçar um pouco mais e principalmente se ajudar. Óbvio que nossos meias, nossos zagueiros sabem que nós não somos marcadores excepcionais. Mas a gente faz o que pode, ajuda no que pode, volta para ajudar de alguma forma. Tem que ser assim. Quando não consigo voltar, o Kyllian (Mbappé) vem no meu lugar e vice-versa, o Icardi volta também. Isso é que está demonstrando ajuda, companheirismo. Isso ajuda a nossa equipe de alguma forma. A gente conversou sim quando ele falou que ia jogar com quatro atacantes. Falei que a gente tem que se ajudar, tem que correr um pouco mais dobrado, mas em prol da equipe e para vencer claro", disse o camisa dez, que foi eleito o melhor em campo diante do Monaco.

Neymar dá carrinho em jogo PSG x Monaco - Anne-Christine POUJOULAT / AFP - Anne-Christine POUJOULAT / AFP
Neymar dá carrinho para recuperar a bola em duelo entre PSG e Monaco ontem (12)
Imagem: Anne-Christine POUJOULAT / AFP

Na última quarta-feira, depois da goleada sobre o Saint-Étienne por 6 a 1 pela Copa da Liga Francesa, o primeiro jogo do quarteto junto em 2020, um jornalista francês pareceu surpreso com o desempenho defensivo de Neymar e chegou perguntar para Mbappé se ele tinha visto um desarme feito pelo brasileiro.

"Sim, eu vi. Isso é ótimo. Quando falamos de conscientização, o Neymar faz um desarme, isso passa uma mensagem para toda a equipe. É ótimo", respondeu o jovem atacante francês.

Neste mesmo dia, o volante italiano Verratti também tocou no assunto e foi mais um a elogiar a dedicação de Neymar na marcação e a importância dele para o Paris Saint-Germain.

"Ele é um menino, tem 27 anos, às vezes pensamos que, porque ele é rico, bonito e porque joga futebol, tudo é fácil. Mas a vida real é outra coisa. A única coisa que o faz feliz é jogar. Não poder jogar é difícil para ele, mas uma vez que ele está em campo, ele é incrível. Nos últimos dois ou três meses, ele tem sido ainda mais incrível com seus esforços defensivos. Eu toco ao lado dele e nem me lembro de fazer um esforço para ele, ele ainda está envolvido. Neymar é um bom exemplo, porque se ele faz um esforço, todos são obrigados a segui-lo", disse Verratti.

De fato, as estatísticas mostram essa mudança de comportamento defensivo. Nos últimos três jogos do Campeonato Francês, Neymar fez um total de cinco desarmes, mesmo número que ele demorou as oito partidas anteriores da competição para conseguir. Na movimentação dentro de campo, também é possível perceber a maior presença do brasileiro no campo de defesa nas rodadas mais recentes. Quando o time perde a bola na frente, os atacantes têm se esforçado na função de recuperação, e o carrinho dado contra o Monaco perto da linha lateral é um exemplo disso. Para completar, a melhora defensiva do camisa dez vem acompanhada também de uma evolução ofensiva. Nos últimos quatro confrontos do Francês, além de marcar cinco gols e dar quatro assistências, ele se apresentou mais na criação, tocou mais vezes na bola e participou da maioria das jogadas de perigo.

Neymar defende formação ofensiva

Apesar dos três gols sofridos neste domingo para o Monaco, atual oitavo colocado do campeonato, Neymar fez questão de defender o esquema com o quarteto ofensivo mesmo em compromissos teoricamente mais difíceis, como pelas oitavas de final da Liga dos Campeões da Europa, contra o Borussia Dortmund.

"Acho que foi um jogo atípico, bom teste para nós. Mas a gente não fez nosso jogo perfeito. Acho que faltaram detalhes de todos os jogadores, até mesmo de mim. Eu me cobro muito quanto a isso. Não é todo jogo que a gente vai perfeito. Mas acredito muito que essa formação vai dar certo. Não importa se está jogando com quatro, cinco ou seis atacantes. Se todos correrem, se todos se ajudarem, o Paris é capaz de jogar com qualquer formação".

O crescimento de Neymar dentro campo acontece no momento em que jogos decisivos se aproximam e ele parece mais leve também fora das quatro linhas. Quatro meses depois de Neymar estrear na temporada 2019/2020, após a negociação frustrada com o Barcelona, a crise com a torcida está praticamente superada. É verdade que os Ultras ainda não voltaram a cantar o ritmo da música "Aquarela do Brasil" como nome dele e alguns preferem ignorá-lo. No entanto, as vaias que ele recebeu no dia 14 de setembro quando balançou as redes no 1 a 0 sobre o Strasbourg hoje são quase inexistentes. A maior parte do público já demonstra apoio irrestrito. Aos poucos, a cada jogo, a relação entre o jogador e os torcedores foi melhorando. Neste domingo contra o Monaco, houve muitos aplausos e gritos de incentivo quando o nome de Neymar foi anunciado no sistema de som do estádio.

Problemas no passado

Em suas palavras na entrevista na zona mista após a partida, o camisa dez também adotou um discurso de reaproximação com os fãs, deixando qualquer problema no passado.

"Para mim está normal, como desde a primeira vez que cheguei aqui. Foi uma das melhores sensações que tive no futebol, da primeira vez que cheguei aqui. Como me trataram, como me receberam. E para mim segue normal. O que aconteceu no verão, todo mundo sabe. É uma história que passou. Hoje sou jogador do Paris, estou me dedicando ao máximo para que o Paris possa fazer uma grande temporada, que a gente possa vencer. Sobre a torcida, não tenho nada contra eles, muito pelo contrário. O carinho é imenso, o respeito é muito grande, não só com eles, mas com o PSG também. E espero que cada vez mais eles possam estar nos apoiando, nos ajudando a continuar o que eles fazem na arquibancada, que dentro de campo a gente vai dar 100%", afirmou.

Líder do Campeonato Francês com 46 pontos, o PSG tem cinco pontos a mais do que o segundo colocado Olympique de Marselha com um jogo a menos na tabela. Os time parisiense volta a campo na quarta-feira, novamente contra o Monaco, desta vez fora de casa, justamente a partida atrasada que falta para completar as 20 rodadas como as demais equipes.