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Elenco do Bragantino responde haters da Red Bull: "Deveriam é agradecer"

Claudinho, xodó do Red Bull Bragantino, comemora gol em partida da Série B de 2019 - Divulgação
Claudinho, xodó do Red Bull Bragantino, comemora gol em partida da Série B de 2019 Imagem: Divulgação

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

10/01/2020 04h00

Se você está entre os que criticam a presença de empresas no futebol, o elenco do Red Bull Bragantino tem um recado para te dar. "Todo o mundo deveria é agradecer", dizem. A marca de energéticos trouxe ao Brasil uma discussão que já é antiga na Europa e neste ano deve chegar ao Brasileirão. Afinal, os clubes-empresa são o futuro do futebol brasileiro? Quem trabalha em um deles parece bem satisfeito.

"Hoje o Bragantino é um time mais forte do que há três anos. Nós não viemos tomar espaço, viemos para juntar mais força", disse o capitão Julio Cesar em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. O goleiro ex-Corinthians já viveu poucas e boas no futebol brasileiro e diz nunca ter visto o profissionalismo que encontrou nos times da Red Bull.

"Eles cumprem com todos os compromissos, nos dão toda a estrutura. Eu passei por outros clubes e já tive problemas de salário; até hoje tenho questões na Justiça. Então vejo [as empresas] como um caminho sem volta, para tornar o futebol brasileiro mais sério, profissional e responsável", defende Julio Cesar.

A discussão em torno dos clubes-empresa tem várias frentes. Há quem torça o nariz para a Red Bull pelo modelo de negócio, por exemplo, rotulado como comercial demais e pouco simpático às tradições. Outros criticam a marca como símbolo da modernização do futebol em geral, que traz consigo ingressos mais caros e arenas padronizadas. Na Europa, por exemplo, os protestos são numerosos e dos mais variados — até uma cabeça de touro já foi atirada a campo em um jogo do RB Leipzig.

A própria Red Bull já deu motivos para antipatia: em sua primeira experiência de gestão, adquiriu um clube tricampeão austríaco e em só dois meses mudou cores, uniformes e símbolo. Chegou a apresentar o RB Salzburg como um time "novo, sem história" e só considerou os 72 anos anteriores da equipe porque foi forçado pela federação de futebol do país.

A história no Brasil é diferente, é claro, mas o Bragantino mesmo já teve o símbolo tradicional substituído pelo logotipo da Red Bull. Mas os jogadores do clube chamam atenção para o lado bom da empresa.

"Todo o mundo está vendo o quanto o clube é profissional, como está dando certo. Se todos seguirem o exemplo, o futebol brasileiro vai crescer muito", acredita Alerrandro, ex-atacante do Atlético-MG, que pediu para ser vendido ao time de Bragança. "E dentro de campo não tem diferença, é todo o mundo igual. Não tem essa de empresa ou clube: são 11 que jogam, e todos querem ganhar", conclui.

A má gestão na maioria dos outros clubes faz o elenco do Bragantino confiar plenamente na Red Bull, tida como uma das poucas ilhas de profissionalismo no mar de crise que é o futebol brasileiro. Se tradição e amadorismo quase sempre andam juntos, o atacante Claudinho aponta a alternativa partindo de sua própria carreira.

Ele foi revelado pelo Corinthians, já jogou no Bragantino antes da parceria, passou por outro clube da Red Bull, o RB Brasil, e agora é um dos maiores destaques do Bragantino repaginado. Questionado sobre as críticas à empresa, ele é assertivo.

"Todo o mundo tinha é que agradecer. As empresas vêm para ajudar, dar uma estrutura melhor para os atletas. A Red Bull pensa em crescer a empresa, é claro, mas também dando condições melhores para os atletas. Que possa acontecer muito mais no Brasil", espera.

RB Bragantino - Divulgação - Divulgação
Média de público do Bragantino passou de 2,2 mil no Paulistão para quase 6 mil na Série B de 2019
Imagem: Divulgação

Em casa, o RB Bragantino já convence. A média de público triplicou desde o começo da parceria, porque quem não se interessava pela versão tradicional do clube gostou da novidade. "O nosso torcedor entendeu que o Bragantino precisava deste investimento. Ele sabe que a parceria não acaba com o Bragantino, e sim torna o clube mais forte", entende o capitão Julio Cesar. Por outro lado, os adversários não perdoam a parceria: na reta final da Série B, por exemplo, teve torcida visitante gritando "time de empresário" no estádio Nabi Abi Chedid.

Até este ano, a reação do futebol brasileiro à Red Bull foi pontual, em jogos de times menores e sem repercussão nacional. Mas em 2020 isso pode mudar, a começar pelos olhares que o Bragantino atrai no mercado da bola. Em semanas de poucas negociações, o clube se destaca com orçamento de R$ 200 milhões para investir e já anunciou o zagueiro Leo Realpe e os atacantes Artur, Alerrandro e Thonny Anderson. No ambiente da Série A, o sentimento que o time mais desperta parece ser a curiosidade; a ver como será quando a bola rolar.