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Ex-Palmeiras viu pai abandonar jogos ao falhar e vive nos EUA após calote

Bruno, ex-goleiro do Palmeiras, hoje trabalha como comentarista nos Estados Unidos - Arquivo pessoal/Bruno
Bruno, ex-goleiro do Palmeiras, hoje trabalha como comentarista nos Estados Unidos Imagem: Arquivo pessoal/Bruno

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

03/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Pai de Bruno parou de ir a jogos do Palmeiras após falha do filho
  • Bruno cometeu erro em jogo da Libertadores 2013, contra o Tijuana
  • Falha custou ao Palmeiras uma vaga nas quartas de final do torneio
  • Aos 35 anos, Bruno vive hoje nos Estados Unidos com a mulher e os filhos
  • Ex-jogador virou comentarista na televisão e também treina futuras goleiras

Há quem o critique, e há quem o elogie. O goleiro Bruno, ex-Palmeiras, divide as opiniões dos torcedores que analisam a sua passagem pelo clube no qual ficou por 18 anos, desde as categorias de base. Ao mesmo tempo em que é reconhecido pela titularidade na conquista da Copa do Brasil de 2012 e por ajudar a equipe na volta à Série A do Brasileirão no ano seguinte, o arqueiro também acabou marcado pelo rebaixamento de 2012 e por uma falha que custou a eliminação para o Tijuana, nas oitavas de final da Copa Libertadores de 2013, diante de mais de 36 mil torcedores que lotaram o estádio do Pacaembu.

Bruno sofreu não só por si, mas também por sua família, que estava presente no estádio e precisou ouvir poucas e boas por conta do 'frango' do arqueiro — ele errou ao tentar encaixar a bola e viu o rival abrir o placar no jogo que terminou 2 a 1 a favor dos mexicanos. O pai de Bruno, que até então ia às partidas do Palmeiras, nunca mais viu o filho atuar in loco.

"Estavam meu pai e meus tios na arquibancada e, claro, sofreram e tiveram que ouvir tudo, tanto é que foi o último jogo que meu pai foi assistir meu, e até do Palmeiras mesmo. Foi o último jogo da vida dele", recorda o goleiro palmeirense em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, por telefone.

Hoje Bruno mora em Parkland, na Flórida (Estados Unidos), com a família e leva uma vida muito mais tranquila que a que tinha aqui no Brasil. Aos 35 anos, já parou de jogar futebol e trabalha como comentarista na televisão, além de ser diretor de um clube e treinar garotas que querem se tornar goleiras profissionais. Muito menos dor de cabeça do que quando era o goleiro titular do Palmeiras, que ainda buscava um substituto para o pentacampeão Marcos naquela ocasião.

Bruno lamenta falha no jogo contra o Tijuana pela Libertadores-2013 - Ricardo Nogueira-14.mai.2013/Folhapress - Ricardo Nogueira-14.mai.2013/Folhapress
Imagem: Ricardo Nogueira-14.mai.2013/Folhapress

"Eu estava sofrendo demais ali. Naquela época, eu tive úlcera, gastrite, ia dormir 4h da manhã, acordava às 7h porque não conseguia dormir por preocupação, porque eu sabia que não podia tomar gol, tinha que treinar mais que todo mundo e, ao mesmo tempo, via nosso time... Nada dava certo, muita gente se escondendo, não dando entrevistas, quem deveria dar entrevistas não dava, então, eu acabei me expondo mais do que o necessário", recorda Bruno.

Mas Bruno também não vive só de alegrias nos Estados Unidos. Depois de sair do Brasil para atuar pelo Fort Lauderdale Strikers, o clube norte-americano — já administrado por Ronaldo Fenômeno — foi à falência e deixou os jogadores na mão, sem receber uma boa parte do que havia sido prometido.

"Eles me devem dinheiro até hoje, não me pagaram o segundo ano de contrato nem vão pagar, provavelmente. Eu fiz acordo para aceitar recebendo menos e, mesmo assim, não me pagaram e sumiram, todos, sem dar nenhuma satisfação. Era uma grana boa, mas o pior de tudo é que não sou só eu, muita gente aqui dos EUA entrou com processo contra os Strikers porque eles deviam seguro saúde, fornecedor, todo mundo", lamenta o goleiro.

VEJA O BATE-PAPO COMPLETO COM BRUNO

UOL Esporte: Como é esta experiência em quatro anos de Estados Unidos?

Bruno: Aqui é muito bom. Eu vim para cá em 2016 para jogar pelos Strikers, com contrato de dois anos. Após o primeiro ano, o clube acabou falindo com os donos brasileiros, inclusive, eles me devem dinheiro até hoje, não me pagaram o segundo ano de contrato nem vão pagar, provavelmente. Eu fiz acordo para aceitar recebendo menos e, mesmo assim, não me pagaram e sumiram, todos, sem nenhuma satisfação. Aí acabou o clube e eu estava um pouco cansado do Brasil, e sempre quis morar aqui. Meus filhos e minha esposa se adaptaram bem e entramos no Green Card no fim de 2016 e eu acabei ficando. Só acabou prejudicando um pouco a minha carreira porque eu fui meio que forçado a me aposentar, porque fiquei dois anos sem poder jogar. Ninguém ia me contratar e, depois de dois anos, quando saiu o Green Card, não adiantava mais muita coisa porque eu fiquei dois anos parado. Eu fui me preparando durante esses dois anos para essa transição, para a próxima etapa, e nos acostumamos muito bem, foi por isso que não voltamos.

UOL Esporte: Quem são esses brasileiros que não te pagaram quando os Strikers faliram?

Bruno, ex-goleiro do Palmeiras, hoje mora nos Estados Unidos - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Imagem: Reprodução/Twitter

Bruno: Ah, nem precisa, não vai adiantar muita coisa, não. Em nenhum momento me procuraram, inclusive, quando fui atrás deles, me bloquearam e sumiram. Era uma grana boa, mas o pior de tudo é que não sou só eu, muita gente aqui dos EUA entrou com processo contra os Strikers porque eles deviam seguro saúde, fornecedor, todo mundo. O problema é que eles pediram falência e perderam o direito do nome do clube, então, não tem nem o que fazer, e nenhum deles tem nada aqui, né? Então não tem nem o que fazer.

UOL Esporte: Em que ano você chegou ao Palmeiras?

Bruno: Em 97, com 13 anos.

UOL Esporte: Foram quantos anos de Palmeiras? Da base até o profissional...

Bruno: Foram 18 anos. Foi de 97 até 2015. No meu último ano, eu estava no Santa Cruz, com contrato com o Palmeiras até 2015.

UOL Esporte: Quem foi o treinador que subiu você para o profissional?

Bruno: Quando eu cheguei, o Palmeiras não tinha preparador de goleiros na base, e quem treinava era o Pracidelli, o Carlão. Ele era o treinador de goleiros do profissional, e uma vez por semana a gente ia no treino do profissional. Se o profissional treinava às 16h, a gente chegava às 14h, todos os goleiros da base, e treinava com o Carlão. Depois a gente ficava para ajudar ele a dar treino para o Marcos, Velloso, todo mundo. Então treinar com o profissional foi praticamente desde que eu cheguei, mas comecei a treinar com o time profissional em 2002, mas só de vez em quando, e para sempre foi desde 2004, foi o ano que eu fiquei. Agora, o primeiro jogo como profissional foi em 2008, com o Vanderlei Luxemburgo. Em 2004, no começo do Campeonato Paulista, na apresentação, o Marcos e o Sergio voltaram machucados; o Marcos caiu de moto e o Sergio operou o joelho, e na estreia do Paulista foi com o Diego Cavalieri como titular e, consequentemente, foi meu primeiro jogo no profissional na reserva. Em 2004, com o Jair Picerni.

UOL Esporte: Qual foi a sua defesa mais marcante na carreira? E por quê?

Bruno: Tem algumas que eu gosto bastante: uma que eu fiz contra o Santos, na Vila Belmiro, numa finalização de fora da área, em 2013, nas quartas de final do Campeonato Paulista, que a gente empatou por 1 a 1 e perdemos nos pênaltis. O Edu Dracena teve uma bola no rebote do escanteio, ela estava pingando na entrada da área e ele virou batendo e eu defendi, foi uma defesa muito difícil, uma das mais bonitas que eu me lembro. Uma defesa importante foi aquela contra o Coritiba, na primeira partida da final da Copa do Brasil, na Arena Barueri, que o Junior Urso sai cara a cara comigo. Também é uma que eu guardo com carinho. Esse jogo foi bem complicado; os primeiros 35 minutos foram pressão o tempo inteiro, a gente não passava do meio de campo.

Bruno durante final da Copa do Brasil contra o Coritiba - Almeida Rocha-5.jul.2012/Folhapress - Almeida Rocha-5.jul.2012/Folhapress
Bruno durante final da Copa do Brasil contra o Coritiba, em 2012
Imagem: Almeida Rocha-5.jul.2012/Folhapress

UOL Esporte: Qual o gol mais marcante que você sofreu? E por que foi marcante?

Bruno: O que me marcou, com certeza, foi o da Libertadores 2013, contra o Tijuana, no Pacaembu, até porque foi um erro meu, não foi um gol qualquer. Então, o que mais ficou marcado na minha carreira talvez tenha sido esse. Inclusive, esse jogo foi logo depois desse contra o Santos, que foi num sábado; a gente perdeu nos pênaltis, mas foi um dos melhores jogos da minha carreira. Além dessa defesa do Edu Dracena, eu fiz duas defesas cara a cara com o Neymar também, salvando no jogo que estava 1 a 0 para o Santos. Se fizesse o segundo gol, a gente estaria fora, e aí acabamos empatando no final. Com certeza foi um dos melhores jogos da minha vida. Aí a gente viajou e, na terça-feira, jogamos com o Tijuana lá, 0 a 0, e eu pude fazer três, quatro grandes defesas, garantindo o 0 a 0; inclusive fui eleito o jogador da semana da Libertadores. E depois de uma semana teve o jogo da volta contra o Tijuana, e o erro que, infelizmente, aconteceu.

UOL Esporte: Por que você acha que aconteceu o erro? A bola foi muita fraca...

Bruno: Foi uma bola que ele veio espichada, um bate e rebate, veio subindo, rodando, e o gol do Pacaembu não estava muito bom na época e eu estava pensando na segunda bola, em vez de fazer direito a primeira... Sabe quando você está pensando no contra-ataque, super confiante? Eu vinha de dois jogos super bons, com muita confiança... Não era uma bola difícil, é como se fosse um menosprezo, já pensando no contra-ataque, em pegar a bola e olhar para frente e ver quem está livre, para ligar o contra-ataque, e aí a gente acaba esquecendo da primeira bola, de fazer a defesa primeiro para depois pensar na segunda.

UOL Esporte: Como foi a repercussão para você, especialmente depois dessa eliminação contra o Tijuana, jogando em casa e com a sua falha?

04.mai.2014 - Bruno precisou entrar por causa da lesão de Fernando Prass - Cesar Greco/Divulgação/Agência Palmeiras - Cesar Greco/Divulgação/Agência Palmeiras
Imagem: Cesar Greco/Divulgação/Agência Palmeiras

Bruno: Ah, é muito ruim, porque a vontade que você tem é de sumir, de se esconder e não aparecer nunca mais, mas claro que isso não ia acontecer. Inclusive, eu, diferente de muita gente, fui lá e dei entrevista para todo mundo, assumi meu erro e assumi a responsabilidade da eliminação, mesmo sabendo que isso poderia me custar muito. Mas não poderia ser diferente porque realmente foi um erro meu e, talvez, se não tivesse tomado aquele gol, a gente poderia até ter saído com a classificação no Pacaembu. Mas, ao mesmo tempo, eu não tinha muito tempo para pensar porque, uma semana depois, a gente estreava na Série B contra o Atlético-GO, em Itu, um jogo super difícil, super questionado, vaias para mim o jogo inteiro, e acho que, aos 30 minutos do segundo tempo, o menino do Atlético-GO sai cara a cara comigo e eu faço a defesa com o pé, e, logo na sequência, a gente consegue fazer o gol da vitória por 1 a 0. Então, goleiro não tem muito tempo para pensar nos erros, sempre aprendi isso: se você se preocupa muito com o erro, pode piorar, você pode ter o segundo erro, e aí vai ser muito pior.

UOL Esporte: Voltando ao jogo do Tijuana e a sua falha no Pacaembu, parece que o seu pai sofreu muito com isso...

Bruno: Estavam meu pai e meus tios na arquibancada e, claro, sofreram e tiveram que ouvir tudo, tanto é que foi o último jogo que meu pai foi assistir meu e até do Palmeiras mesmo. Foi o último jogo da vida dele.

UOL Esporte: Nesses anos todos de Palmeiras, em algum momento você foi injustiçado?

Bruno: Eu não gosto de injustiçado. Tudo acontece por um motivo e no seu tempo. Eu sempre fui uma pessoa paciente, sempre procurei aprender com os melhores, e trabalhei com os melhores, tanto goleiros como treinadores. Sempre ouvi de fora que goleiro tinha que sair para pegar experiência. Então, sempre fui paciente, esperei a minha chance, ela veio, ela aconteceu, e fui em todas as etapas, todas as categorias de base, fui vitorioso na categoria de base, cheguei na seleção brasileira de base através do Palmeiras, passei do quinto, quarto, terceiro goleiro do profissional, reserva, fui titular, fui campeão talvez num dos momentos mais difíceis para goleiro do Palmeiras, na aposentadoria do Marcos. O mais difícil que aconteceu, não falo injustiçado, talvez tenha sido na campanha que a gente acabou sendo rebaixado. Muita coisa que caiu sobre mim como culpa não era verdade. Inclusive, tinha até estatísticas que a assessoria do clube passava para gente que, até um certo ponto do campeonato, eu era o segundo goleiro do campeonato que fazia mais defesas normais e mais difíceis do Brasileiro, só perdia para o Diego Cavalieri, que naquele ano foi muito bem no Fluminense, ele que praticamente deu o título para o Fluminense... Então, aí você vê que não era tudo culpa minha. E depois do rebaixamento veio o [Fernando] Prass, eu continuei trabalhando, tive a minha chance, continuei jogando e, claro, a vida tomou o seu curso natural e eu acabei, no meu último ano de contrato, indo para o Santa Cruz, o que também foi normal, problema algum, eu sabia que isso viria a acontecer, e, na verdade, só tenho que agradecer ao Palmeiras, onde eu fiz minha carreira. Eu sou formado em Educação Física graças ao Palmeiras, que pagou a minha faculdade, então, não tenho nada a reclamar, não.

UOL Esporte: Ainda sobre o rebaixamento em 2012...

Bruno: Algumas pessoas ficaram marcadas, mas naquele ano de 2012 eu dei muitas entrevistas, apareci muito naquele ano, toda hora era eu que tinha que dar entrevista, eu e o Maurício Ramos, a gente sempre falava muito. E, talvez, não que seja arrependimento, eu não me arrependo de nada, mas talvez, se eu tivesse que mudar alguma coisa, não teria me exposto tanto. Mas, ao mesmo tempo, eu estava sofrendo demais ali, naquela época eu tive úlcera, gastrite, ia dormir 4h da manhã, acordava às 7h porque não conseguia dormir por preocupação, porque eu sabia que não podia tomar gol, tinha que treinar mais que todo mundo e, ao mesmo tempo, via nosso time... Nada dava certo, muita gente se escondendo, não dando entrevistas, quem deveria dar entrevistas não dava, então, eu acabei me expondo mais do que o necessário.

UOL Esporte: É verdade que, após os treinos na base do Palmeiras, você e o Diego Cavalieri iam para o McDonald's?

Bruno: Quando a gente era da base, geralmente a gente recebia ajuda de custo lá no estádio, no Parque Antártica. A gente saia de lá e ia para o shopping para comprar uma roupa ou jogar fliperama, mas isso quando éramos mais moleques. E depois, vira e mexe, acabava o treino e a gente almoçava juntos, ou jantava. Eu sou muito grato, é um amigo mesmo, não só dele, mas da família dele que é fantástica: a mãe, o irmão, o falecido pai dele também; e ele também gosta muito da minha família, e isso é muito legal.

Marocs conversa com os goleiros do Palmeiras Bruno e Deola em treino em 2011 - Reinaldo Canato/Folhapress - Reinaldo Canato/Folhapress
Imagem: Reinaldo Canato/Folhapress

UOL Esporte: Quando eu perguntei qual gol sofrido foi o marcante, você respondeu o do Tijuana, na Libertadores de 2013. Por que não foi aquele do Ronaldo Fenômeno, em Presidente Prudente, 1 a 1 contra o Corinthians?

Bruno: O do Tijuana foi um erro, né? E que ficou marcado, uma eliminação na Copa Libertadores... O do Ronaldo, para mim, foi mais um gol, foi meu primeiro clássico contra o Corinthians, e eu estava muito bem naquele jogo, tinha feito três defesas fantásticas, e no final do jogo, por um erro de marcação, o Ronaldo acabou fazendo o gol. Foi 1 a 1, a gente não perdeu, foi mais um gol, infelizmente. Agora, claro, tem toda a história do Ronaldo, mas acabei falando do Tijuana porque foi uma eliminação de Libertadores e, principalmente, porque foi um erro meu.

E eu vi alguns comentários falando que eu tinha que ter saído na bola, mas se você pegar, a gente tinha um posicionamento com o Vanderlei... Lembra em 2008, na semifinal do Paulista, o Marcos jogou adiantado e acabou saindo em todas as bolas, e aí, a partir disso, o Vanderlei adotou um posicionamento para goleiros que a gente, no básico, tinha o homem da trave e um homem do lado para cobrir a bola baixa, e o goleiro ficava posicionado normal, no meio do gol... O goleiro era esse segundo homem, então, a gente jogava lá adiantado, quase no primeiro pau, para interceptar essas bolas baixas, e até por isso que o Pierre cobria o segundo pau ali, para ajudar a gente... Então, se você pegar, foi muito emblemático, porque o Douglas bateu praticamente todos os escanteios baixo, no primeiro pau, e a gente conseguiu cortar, e bem no último escanteio ele abre a bola e ela sobe lá no segundo pau, e eu estou no primeiro, então é humanamente impossível eu sair do primeiro, correr para trás no meio de todo mundo e acabar chegando onde o Ronaldo cabeceou.

Bruno observa treino após fazer defesa - Almeida Rocha/Folhapress - Almeida Rocha/Folhapress
Imagem: Almeida Rocha/Folhapress

UOL Esporte: Pretende ser gestor de clube, dirigente ou comentarista?

Bruno: Até um tempo atrás eu falaria para você que não, mas de um tempo para cá, sim, e eu te explico o por quê. Quando eu parei de jogar aqui nos Strikers, comecei a pensar na minha transição, então, eu tirei a licença de treinador, tirei a licença de treinador de goleiros, e agora estou tirando para treinador de goleiros da Uefa, estou indo para a Escócia em março pela terceira vez para a minha licença da Uefa. No final do ano passado, tive o convite para começar a comentar futebol pelo DAZN [plataforma de streaming], e assim como você falou, muita gente também fala isso: 'você tem esse perfil, porque você fala bem', mas não era uma coisa que eu levava a sério, e quando comecei a comentar os jogos pelo DAZN eu me achei, gostei muito, muito mesmo. Eu me sentia bem, enxergava o jogo como goleiro, passei a enxergar o jogo como treinador e, agora, enxergo como comentarista, do alto, de ângulo diferente, e juntando essas três coisas dá uma visão muito legal do futebol, e eu comecei a voltar a assistir futebol, porque quando você cansa, dá uma saturada, você larga tudo, então, foi uma coisa que eu me achei, gosto muito de fazer, e é uma coisa que eu não pensava, não passava pela minha cabeça. Ao mesmo tempo que eu falo isso, e você me perguntou sobre gestor, eu falo que agora sim, a gente vê tanta coisa que está acontecendo no futebol brasileiro, más administrações, escândalos, tudo, e eu até brinquei quando o Alexandre Mattos [diretor de futebol] foi demitido pelo Palmeiras, no Twitter: 'Ó, se precisar de alguém, estou disponível, estou com tempo de sobra', e eu comecei a pensar mesmo, em fazer um curso nessa área, porque além de ser uma outra porta aberta você fica disponível em todas as áreas, o que aparecer estou fazendo.

Claro, é uma brincadeira, mas quero me preparar para isso, se for para o lado de campo, de treinador, quero estar preparado para isso, e se for pelo lado da TV, quero estar preparado para ser comentarista - estou preparado, já tenho experiência. Agora, se for para ser gestor, também quero estar preparado, talvez seja um mercado que hoje está defasado, com falta de profissionais, a gente vê isso... Não é só uma pessoa falando, a gente vê isso mesmo, e eu comecei a pensar: vou estudar, por que não? Vou me preparar para isso, para que seja uma nova área, e ver se vai dar certo ou não. O importante é estar preparado, A gente não pode descartar nada, então, o que aparecer...

UOL Esporte: Hoje você continua como comentarista?

Bruno: Continuo. Eu estou fazendo o DAZN, fui contratado aqui nos EUA. Tem um canal de TV também que chama BeIN Sports, que, inclusive, tem o direito da Libertadores e da Sul-Americana para cá. No ano passado, eles me convidaram para fazer uma mesa redonda na sexta e no sábado, antes da final da Libertadores. Eles queriam uma pessoa, um jogador do Brasil, porque o Flamengo estava na final, e eu acabei sendo contratado; só que aí foi em espanhol, tive que me virar um pouquinho, mas eles ficaram felizes com a performance e, no próximo ano, querem continuar não só com o espanhol, mas com inglês também, mesas redondas e jogos, quando tiver um brasileiro na Libertadores... Então, é uma coisa que estou gostando bastante.

UOL Esporte: Ainda é treinador da base do time americano Miramar United Elite FC?

Bruno: Não, não estou mais no Miramar como treinador. Eu estava numa faculdade de treinador de goleiros, acabou a temporada e não vou continuar para o ano que vem. Agora, além de comentarista, sou treinador de goleiros e diretor de goleiros num dos melhores clubes femininos aqui do Sul da Flórida, chama Sunrise Prime FC. a maioria das nossas meninas vão para as melhores faculdades, e eu treino as goleiras dos principais times. E sou diretor também, então, eu que organizo tudo, fora particular... Sempre tem algumas meninas que querem fazer particular também, sempre tenho um tempinho.

UOL Esporte: Tem algo mais que você quer falar? Fica à vontade.

Bruno: Eu fui contratado por uma rádio aqui dos EUA chamada Nossa Rádio, que pega em Miami e Boston, e eles cobrem a Florida Cup, e eu vou cobrir o Palmeiras, fazer os jogos do Palmeiras como comentarista, então, vai ser bem legal. Vou fazer com o Conrado Giulietti [ex-ESPN], ele é o meu parceiro do DAZN, a gente faz bastante jogos juntos, e na rádio ele vai ser o narrador, e eu o comentarista nos jogos do Palmeiras.

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