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Mercado da bola feminino: meia irrita São Paulo e vai para o Palmeiras

Ary Borges, meia que defendeu o São Paulo em 2019, tem acordo com o Palmeiras para 2020 - Igor Amorim/saopaulofc.net
Ary Borges, meia que defendeu o São Paulo em 2019, tem acordo com o Palmeiras para 2020 Imagem: Igor Amorim/saopaulofc.net

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo

01/01/2020 04h00Atualizada em 01/01/2020 21h30

Resumo da notícia

  • Ary foi camisa 10 e até capitã do São Paulo ao longo de 2019
  • A meia é torcedora declara do Tricolor e costuma manifestar isso nas redes sociais
  • Ela, no entanto, assinou pré-contrato com o Palmeiras sem levar proposta ao São Paulo
  • Decisão foi considerada atropelada e tentou ser revertida, sem sucesso
  • Ary passa a ser jogadora do Palmeiras a partir de 1º de janeiro

Com o futebol feminino cada vez mais consolidado, o mercado da bola na categoria também fica mais quente. E um negócio importante movimentou os rivais São Paulo e Palmeiras neste fim de ano. A meia Ary, que foi camisa 10 e até capitã do Tricolor ao longo de 2019, fechou com o Verdão em movimento que gerou mal-estar no clube do Morumbi.

Ary completou 20 anos na última semana e foi destaque do São Paulo na temporada, que terminou com três finais disputadas e um título conquistado. Além do desempenho em campo, ela chamou a atenção pela identificação com a equipe. Em suas redes sociais, sempre interagia com torcedores, se declarava são-paulina e comentava também os jogos do time masculino. Seu engajamento em temas sociais também atraiu fãs.

Esses atributos fizeram a torcida tricolor passar a cobrar a diretoria pela renovação de Ary, que tinha contrato somente até este 31 de dezembro. O São Paulo até gostaria, como apurou a reportagem do UOL Esporte, mas uma decisão da própria camisa 10 acabou frustrando esse plano.

Em um dos encontros com o rival Palmeiras na temporada, Ary recebeu uma oferta de transferência para 2020. Como faltavam menos de seis meses para o fim do vínculo com o São Paulo, essa operação poderia ser feita de graça com a assinatura de um pré-contrato. O Palmeiras fez isso com outras atletas tricolores, mas só Ary e a atacante Ottilia toparam o acordo imediatamente.

As duas são amigas próximas e, no caso de Ottilia, pesou o carinho pelo Palmeiras. Ary decidiu seguir os passos da companheira de time e nem sequer apresentou a proposta palmeirense para o São Paulo tentar cobrir. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a volante Yaya, principal revelação tricolor. A garota levou a oferta do rival para a diretoria, que cobriu os valores e fechou uma renovação por uma temporada e meia.

Essa decisão de Ary foi considerada precipitada pelo São Paulo e a própria atleta passou a repensar o ato. Nas redes sociais, seguiu demonstrando sua torcida pelo time do Morumbi e despistava quando perguntada sobre o futuro, mas na tarde de ontem (31) já escreveu em tom de despedida. A reportagem buscou contato com a meia, que por enquanto preferiu não se pronunciar. Só há a confirmação de seu estafe sobre o acerto prévio com o Palmeiras, que passa a valer neste 1º de janeiro.

Desencontros?

Thaís Valente, sócia da Agência 021 Soccer e uma das empresárias de Ary, afirmou que o São Paulo não teria oferecido os valores que julgava adequados para renovar com a dupla. Por outro lado, a assessoria da agente não confirma que ela já tenha fechado com o Palmeiras.

"Nós vamos sempre buscar as melhores opções para a carreira das atletas. Estivemos sempre abertas a negociar e chegar a um acordo, mas o clube preferiu não acompanhar a valorização que as mesmas mereciam. Não houve coerência com os valores e demais questões apresentadas durante as negociações, já que o SPFC ofereceu a outras atletas, que não fizeram parte do elenco em 2019, valores de duas a três vezes maiores que os oferecidos para Ary e Otti", respondeu Valente, por meio de assessores.

"Em momento algum o clube demonstrou o desejo de negociar a renovação nos moldes que as atletas receberiam o reconhecimento por tudo o que fizeram durante a temporada. Assim, profissionais que são, buscaram o que foi considerado o melhor para a carreira no momento, já que ambas têm suas responsabilidades financeiras perante suas famílias", completou.

No último fim de semana, para comemorar o aniversário de 20 anos, Ary realizou uma festa temática sobre o São Paulo com a família. O momento foi registrado nas redes sociais, seguido de uma publicação que aumentou o mal-estar com o Tricolor. Ary disse que esperava receber um post de parabéns do clube, mas que como torcedora já estava acostumada a sofrer.

O São Paulo faz posts de aniversário para atletas do time masculino ou ídolos do passado e também deseja os parabéns para as profissionais do feminino. Mas o fato de Ary estar a dias de se transferir para o Palmeiras colaborou para o que o Tricolor deixasse o protocolo de lado desta vez.

Ary e Ottilia não são as únicas baixas importantes do São Paulo. A atacante Valéria, de 21 anos, acertou com o Madrid CFF, da Espanha. Isso é reflexo dos contratos curtos firmados pela diretoria neste primeiro ano do projeto do futebol feminino profissional. O clube reconhece que a estratégia foi arriscada, mas já trabalha para ter mais estabilidade em 2020.

Até o momento, já renovaram com o São Paulo as goleiras Carla e Éllen, as laterais Giovana, Natane e Roberta, a zagueira Thaís, a volante Yaya e a atacante Jaqueline. O futuro de Cris, que também chegou com status de estrela e um contrato de um ano, segue indefinido. Outras jogadoras estão perto de selar a renovação, e o clube sabe que precisará contratar para repor as peças perdidas.