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De gandula a chefe do vestiário: como cartola domina astros do Flamengo

Marcos Braz, vice de futebol do Flamengo, está com a delegação no Mundial de Clubes do Qatar - Leo Burlá/UOL
Marcos Braz, vice de futebol do Flamengo, está com a delegação no Mundial de Clubes do Qatar Imagem: Leo Burlá/UOL

Leo Burlá

Do UOL, em Doha (Qatar)

20/12/2019 20h17

Marcos Braz, vice-presidente de futebol do Flamengo, é daquele tipo que não passa despercebido. Corpulento, usa gestos largos para se comunicar e olha sempre no olho de seu interlocutor. As aparências podem enganar, mas o dirigente meio "à moda antiga" chora sem vergonha alguma e abre o jogo para falar de sua atuação ao lado de um elenco estelar. Um grupo que ele, agora, espera que vença amanhã o Liverpool na final do Mundial, em Doha, às 14h30 (horário de Brasília).

A trajetória no clube vem de longe, mas sempre esteve ligada à beira do campo. Criado perto da Gávea, foi gandula em jogos do clube e viu craques como Zico bem de pertinho. Imerso na política rubro-negra, trabalhou com diversos presidentes, levantou troféus em tempos de vacas magras e hoje comanda um grupo tomado por astros como Rafinha, Arrascaeta, Gabigol, Filipe Luís e muitos outros. Na base do diálogo e da experiência, aprendeu a domar essa "entidade" chamada vestiário.

"O que tem de ter para sobreviver é a palavra. Tratou? Então se vira para cumprir. Segundo: não é só falar na cara, tem de saber falar na cara, ser habilidoso para falar na cara. Tem várias caixinhas que você tem de administrar. E tem de conhecer futebol. O vestiário, quando as pessoas falam nesses termos, não é no dia do jogo. É a sensibilidade de ver o que os outros não estão enxergando, ver a movimentação de um jogador que não é costumeira. Essa percepção é a coisa mais difícil que tem no futebol", disse ele ao UOL Esporte.

Campeão brasileiro em 2009, administrou um grupo capitaneado por Adriano e Petkovic, mas que convivia com a falta total de condições de trabalho e atrasos salariais. Ele ressalta que o mundo mudou, mas que o comportamento médio dos boleiros segue o mesmo:

"Se tiver um questionamento de um jogador mais importante, tem de chegar e explicar de maneira diferente, com mais habilidade. Mas isso nada tem a ver em respeitar mais um ou outro. Respeito todos igualmente e isso também é outro pilar. Se você não for respeitado em função do que você trata, é questão de tempo perder".

Braz é cria da arquibancada e crê que isso o ajuda a compreender o universo rubro-negro com mais facilidade. Às vésperas da decisão contra o Liverpool, ele diz não haver comparação com o ambiente prévio da final da Libertadores, tanto que garante que vai tirar um cochilo do hotel antes do jogo.

Apesar da aparente tranquilidade, o coração fraqueja. Ao lembrar o que está em jogo no gramado do Estádio Khalifa, o dirigente "entrega" que, acima de tudo, é um torcedor do clube.

"Nem o presidente quer mais do que eu ser campeão. Ele empata comigo. Título é uma coisa muito forte. Lógico que vou ficar triste e frustrado se não for campeão, mas não posso botar esse peso em cima de mim. Fico até emocionado. Não posso botar esse peso em jogadores e diretoria. Ganhamos campeonatos importantíssimos, não podemos achar que deixamos de fazer algo em função do resultado", contou.

Com faixas de Cariocas, Brasileiros, Copa do Brasil e Libertadores na prateleira de casa, falta a do Mundial de Clubes para fechar a coleção de conquistas no cargo. Antes de a bola rolar, repetirá o ritual de acender uma vela na porta do vestiário. A horas do reencontro com os ingleses, ele sonha: "Num jogo só, se o time estiver no dia dele, o Flamengo sai campeão do mundo. Acho o Liverpool forte, favorito, mas Flamengo pode ser campeão do mundo".