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Liga dos Campeões 2019/2020

Neymar encara frustração pessoal e questões técnicas com "nota 4" na França

Neymar, no banco de reservas do PSG no Santiago Bernabéu - GABRIEL BOUYS / AFP
Neymar, no banco de reservas do PSG no Santiago Bernabéu Imagem: GABRIEL BOUYS / AFP

João Henrique Marques

Colaboração para o UOL, em Paris

28/11/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Neymar está frustrado com a baixa participação em jogos na temporada
  • Reserva contra Real, brasileiro recebe enxurrada de críticas na França e nota 4,0
  • Entorno de Neymar justifica banco por dores musculares. Tuchel desmentiu
  • Volta ao time titular contra Monaco é incerta. Ele não deve atuar os 90 minutos

Neymar e pessoas em seu entorno estão irritadiços, fruto de uma frustração pessoal do atacante no Paris St. Germain. A reportagem apurou que ele e seu estafe imaginavam que, neste ponto da temporada, já estariam vivendo um ambiente de grandes jogos, de preferência como a figura decisiva em campo. No PSG, porém, a avaliação é que ele é atleta com defasagem física por conta da baixa presença em partidas na temporada —sete em um total de 20 jogos do time. Como reflexo, o craque brasileiro encara pela primeira vez na França uma enxurrada de críticas de origem também técnica, algo raríssimo em sua carreira. Como exemplo, Le Parisien e L'Equipe, dois dos principais jornais do país, chegaram a dar nota 4 nas útlimas avaliações de atuação do brasileiro.

Após 40 dias de ausência para tratamento de lesão na coxa esquerda, Neymar atuou por 65 minutos na vitória por 2 a 0 contra o Lille, pelo Campeonato Francês, e por 45 minutos no empate por 2 a 2 diante do Real Madrid, pela Liga dos Campeões — foi sua estreia pelo torneio continental na temporada, aliás.

Ausente do cenário de grandes jogos do futebol europeu, Neymar tinha o duelo contra o Real como o mais importante de um semestre marcado por lesões. O tratamento foi direcionado para que pudesse estar em forma. A frustração com a decisão de Tuchel de só chamá-lo no segundo tempo foi grande.

No entorno de Neymar, a opção do treinador foi explicada com a informação de dores musculares. Mas a sinalização que eles receberam do departamento médico do PSG foi outra: os médicos dizem que o brasileiro não tinha problemas.

Para proteger Neymar de polêmicas, quem o rodeia também citou " necessidade de tratamento pós-jogo" para explicar a ida do brasileiro diretamente aos vestiários quando substituído contra o Lille. Outra informação desencontrada com o PSG, que nega, nos bastidores, tal prática.

"A decisão de colocar o Neymar no banco é minha e foi explicada a ele. Não o vejo em condições de jogar 90 minutos e queria acabar o jogo com ele em campo. É necessário paciência e também sou o responsável por zelar pelo aspecto físico", comentou Tuchel após o duelo contra o Real.

A volta de Neymar ao time titular ainda é uma incógnita para a partida de domingo, contra o Monaco, pelo Campeonato Francês. Tuchel também destacou que não teme perder o controle sobre o jogador ao optar por substituições ou deixá-lo no banco. Seguindo essa linha, é fácil imaginar que, novamente, o camisa 10 não terá a chance de atuar por 90 minutos caso não apresente evolução.

"Precisamos de calma com o Neymar. Entender que o time está bem independentemente dele, mas que sua presença só nos fortalece. É um retorno complicado, sem ritmo, mas queremos ele 100% para março, quando começamos nossos períodos decisivos", destacou o capitão do PSG, Thiago Silva, após o jogo contra o Lille.

Sem paciência

Destaque do PSG, o zagueiro Thiago Silva pediu calma na abordagem do assunto. A mídia francesa em geral, porém, não parece disposta a seguir a recomendação. As participações contra Lille e Real Madrid foram mal avaliadas pela crítica francesa. Acostumado a receber as maiores notas e ser considerado o melhor do time, o camisa 10 passou a ser avaliado como o pior em campo.

"Foi uma entrada em vão de Neymar. Mesmo com o Paris tendo buscado o empate com sua presença. As raras acelerações com a bola acabavam no bloqueio defensivo do Madrid. Faltou intensidade", opinou o jornal Le Parisien. A publicação colocou nota 4,0 para Neymar. Foi a mesma avaliação do L'Équipe na partida contra o Lille. Pouco? O diário Le Parisien foi ainda mais duro, com nota 3,5.

Na França, Neymar tem médias altas em avaliações das partidas. Nesta temporada, os elogios também foram volumosos nas primeiras cinco exibições, quando o jogador viveu grande momento. "Aqui é Neymar" chegou a destacar a manchete do L'Équipe após a estreia do brasileiro na temporada com gol de meia bicicleta na vitória por 1 a 0 contra o Strasbourg, pelo Campeonato Francês. O título foi uma referência ao slogan do PSG que diz "Aqui é Paris". A exibição teve nota 8,0 na avaliação do periódico. Essa realidade, hoje, parece bem distante.

Na Liga dos Campeões, o duelo contra o Real marcou a estreia de Neymar na temporada. Os 45 minutos em campo foram analisados detalhadamente pela emissora responsável pela transmissão do evento na França, a RMC. Imagens congeladas mostravam ações precipitadas em campo e uma roda de debate foi promovida para avaliá-lo. "Joga para ele e só. Coloque-se no lugar dos outros jogadores do vestiário do PSG que passam meses vendo os caprichos deste aí, que caga para o PSG e seus sócios. Não tem respeito nenhum", esbravejou o comentarista Emannuel Petit, ex-jogador e campeão da Copa do Mundo com a França, em 98.

As críticas são avaliadas como momentâneas por seu estafe. Seu círculo mais próximo confia que o período de baixa logo terá reviravolta. Para a mídia francesa, foi feito um pedido para que não criassem polêmica com o camisa 10, já que as escolhas e as críticas recentes do treinador alemão, Thomas Tuchel, foram respeitadas. O período de críticas a Neymar ainda tem o episódio da sátira da Bleacher Report, site americano focado em cultura esportiva, que o apresentou como um atleta "mimado" pelos Toiss, seu grupo de amigos inseparáveis, e em uma busca desesperada pelo amor do elenco do PSG. Segundo apurou a reportagem, o programa de desenho animado divulgado nas redes sociais do portal foi discutido previamente com a assessoria de imprensa do brasileiro e até com seus amigos e não gerou incômodo.