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Final única deixa clima de 'guerra' de lado e tem a bola como protagonista

Jorge Jesus, técnico do Flamengo, e Marcelo Gallardo, do River Plate: duelo fora de campo - Amilcar Orfali/Getty Images
Jorge Jesus, técnico do Flamengo, e Marcelo Gallardo, do River Plate: duelo fora de campo Imagem: Amilcar Orfali/Getty Images

Leo Burlá e Rodrigo Mattos

Do UOL, em Lima (PER)

22/11/2019 22h00

Não é incomum descrever uma final de Libertadores como uma "guerra", um jogo para subjugar o rival em condições e campos difíceis onde é preciso aliar o futebol à luta. Sempre foi assim na história da competição. Pois a decisão em jogo único e a qualidade técnicas dos desafiantes tende a mudar essa realidade para 2019. É o que esperam os organizadores e torcedores: que o jogo entre Flamengo e River Plate —marcado para amanhã (23), às 17h, no Monumental Universitario em Lima— tenha como protagonista a bola.

Neste aspecto, a decisão sul-americana se aproxima do que costuma acontecer na Liga dos Campeões europeia, guardadas as devidas proporções. Saem os ônibus apedrejados na chegada do time rival estádio, entram as arquibancadas divididas por ambas as torcidas, e a atenção primordial se volta ao que acontece dentro de campo. O que mais importa.

"Quando há dois jogos, muitas vezes um time que joga bem como local abre um vantagem e ganha um título sem ser o melhor time", explicou Filipe Luís.

E o que poderemos ver no gramado? Os times de Marcelo Gallardo e Jorge Jesus se caracterizaram pelo bom trato com a bola e o futebol ofensivo. "São estilos parecidos, principalmente na parte ofensiva", disse o atacante Borré, do River.

São equipes, aliás, que gostam de ter o balão e não de deixá-lo com o adversário. As estatísticas oficiais da competição mostram que os dois têm troca de passes praticamente igual: Flamengo (479 por jogo), River Plate (480 por partida). Há um maior acerto por parte do time rubro-negro, com 82% dos passes com correção contra 77% do rival argentino.

A maior técnica rubro-negra também pode ser percebida nos cruzamentos. O River joga bem mais bola cruzada na área (235 a 167), mas é o Flamengo quem acerta mais esse tipo de lançamento (48 contra 43). Um sintoma do fato de Jesus pedir constantemente a seus jogadores que trabalhem a bola até ficarem em posição ideal para executar esse tipo de lance.

Mas de pouco adianta a posse de bola se um time não é capaz de agredir o adversário em seu gol. E, de novo, River Plate e Flamengo são incômodos para seus rivais. O time rubro-negro mostra mais eficiência. Tem menos arremates a gol, mas, quando chuta, é com maior precisão. Foram 70 chutes no gol (5,8 por jogo), isto é, mais da metade das suas tentativas resultou em bolas na direção certa. Já os argentinos mandaram 57 bolas no gol, apesar de 142 tentativas.

Destacam-se neste quesito os atacantes Gabigol e Bruno Henrique: são eles os jogadores que mais arrematam em direção à meta adversária. Do lado do River, os atacantes têm menos poder de fogo, mas Nacho Fernández compensa em parte como o meia que mais chutou a gol no torneio. Fernández, aliás, é a chave do jogo do River, sendo também um dos atletas que mais passa a bola.

"É difícil saber se vai haver muitos gols. Em uma final, considero que vai haver certas cautelosas. São equipes que gostam de ter a bola, que apresentam boas alternativas também de ataque direto. Pode ser uma partida muito dinâmica", afirmou o técnico do River, Marcelo Gallardo, ressaltando que quem fizer o primeiro gol pode ter vantagem.

Engana-se quem entende, por conta da técnica, que esses times batalham menos pela bola e deixam o rival jogar. O River Plate é um time especialmente combativo, com 75 recuperações de bola durante um jogo da Libertadores, em média. O Flamengo tem um número menor, com 58 por partida.

Uma diferença entre os dois times é que o volante Enzo Perez e o defensor Matías Quarta são dos jogadores mais "pegadores" do River, com o maior número de recuperações de bola. A marcação argentina começa do meio do campo e se estende para a defesa para gerar retomadas que resultem em contra-ataques rápidos. Já o Flamengo tem combatividade bem distribuída entre seus atletas, até no ataque, resultado da pressão avançada armada por Jorge Jesus que inclui as participações de Gabigol e Bruno Henrique.

"Concordo em parte (que são parecidas). Há muitos aspectos ofensivos que são parecidos. No defensivo são totalmente opostas. Mas no jogo ofensivo há muitos momentos em que somos muito parecidos", definiu Jesus ao explicar o funcionamento dos dois times.

Mais combativo, o River cede menos conclusões a gol do que o Flamengo. Seu goleiro Armani defende em média 1,83 bola por jogo, enquanto Diego Alves trabalha mais, com 2,25 defesa por partida.

Números nunca nos contam tudo sobre dois times, nem podem prever o que será uma partida. Mas as estatísticas de Flamengo e River confirmam a percepção geral que os times com maior qualidade chegaram à decisão, e que isso é ao menos uma promessa de um grande jogo.