Topo

Arão vê semelhanças entre Jesus e Tite, e explica ressurreição no Flamengo

Willian Arão comemora seu gol durante partida entre Flamengo x Atlético-MG; volante ressurgiu no clube - Thiago Ribeiro/AGIF
Willian Arão comemora seu gol durante partida entre Flamengo x Atlético-MG; volante ressurgiu no clube Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Leo Burlá e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

18/11/2019 12h00

Talvez nenhum jogador do Flamengo simbolize com tanta perfeição a mudança de patamar do time após a chegada de Jorge Jesus ao comando do Rubro-negro no meio da temporada quanto Willian Arão. Volante de qualidades técnicas nunca antes negadas, ele vive uma improvável lua de mel com a arquibancada, antes impaciente com um camisa 5 muitas vezes acusado de não ter a intensidade desejada.

Com o português, Arão tornou-se peça-chave de um Fla que persegue dois títulos. Após a saída de Cuéllar, o antes "patinho feio" se firmou como primeiro homem de meio e decolou de vez. Em uma conversa de pouco mais de 30 minutos, o jogador falou sobre as semelhanças entre o "Mister" e Tite, o seu ressurgimento no clube, e admitiu que se pega pensando nas conquistas do Brasileiro e da Libertadores. Confira a íntegra do papo.

"Tá mal, Arão"

"Primeira impressão do Jesus foi boa, ele é estudioso, conhece de campo, bola e tática. Ele passou coisas diferentes que ele cobrava, e uma das coisas foi esse meme que viralizou. Eu esqueci de fazer um movimento (no jogo-treino contra o Madureira) que ele estava cobrando e ele gritou que eu estava mal posicionado".

Pedidos do Mister
Jorge Jesus - Thiago Ribeiro/AGIF - Thiago Ribeiro/AGIF
Técnico do Flamengo completou um turno sem perder no Brasileirão, com 17 vitórias e dois empates
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

"Não vou falar, são coisas nossas do campo, os adversários podem se utilizar disso. Um dia eu conto mais para frente. Meu pai pensa em fazer um livro, mas eu nem gosto dessa ideia. Mais para frente eu falo, não vou entrar em mais detalhes. Estamos numa final de Libertadores e na reta final do Brasileiro. Se eu falar o que ele pede, os adversários podem se utilizar disso. Isso vai ficar na dúvida. A forma de treino dele é bem intensa. Ele treina de forma intensa de uma outra forma. A gente alongava um pouco e já ia fazer finalização, isso não é costume para nós. Ele coloca a finalização dentro do aquecimento, isso para nós, brasileiros, não é costume. Quase nenhum treinador faz isso. A dinâmica do treino é diferente. Mas já fui treinado por outros grandes que também têm suas qualidades. Ele tem as dele. Os resultados estão aí. Ele mesmo já disse que o trabalho dele é o melhor ou pior, mas são as ideias dele. A gente está conseguindo colocar em prática as ideias dele. Acho que estamos jogando um excelente futebol, estamos na final da Libertadores. A curiosidade é grande. Algumas coisas eu já tinha visto, outras são novidades que ele trouxe para mim como jogador. Temos de tirar proveito e continuar crescendo. Por mais que a gente esteja jogando bem, temos de carimbar com os títulos".

Um novo jogador

"Pode se dizer que sim, mas depende do ponto de vista. Não adianta eu estar bem posicionado e meus companheiros, não. Com um time todo organizado, é natural que você esteja mais perto do lance, da bola. Isso tudo é questão de posicionamento. Com um time organizado, você corre certo, mas você corre igual. Temos todos os dados de comparação e a gente vê. A intensidade que temos colocado é maior, a dinâmica é outra. A gente não está correndo muito mais do que antes, mas estamos ligados no que temos de fazer. Você termina exausto de qualquer forma. Você vai continuar correndo, mas sabemos onde temos de estar. Precisamos ter perna para atacar e recuperar a bola o mais rapidamente possível".

Willian Arão festeja gol do Flamengo ajoelhado em campo - Luis Acosta/AFP - Luis Acosta/AFP
Willian Arão festeja gol do Flamengo ajoelhado em campo
Imagem: Luis Acosta/AFP

Intensidade total

"O Mister não gosta (de poupar). Eu estou bem para jogar, falarei quando estiver cansado ou precisando de algo. Acaba o jogo e nós somos analisados, tudo tem parâmetro. Dentro disso ele monta os treinos e a equipe. As pessoas têm uma visão no Brasil que se coloque 11 e tire 11. Ele não vem com isso. Quando estávamos em uma sequência grande de jogos, ele tirava dois ou três. O elenco gira naturalmente com convocações, lesões. Cada um tem um modo de pensar, acho que o modo dele está dando resultado".

Melhor fase da carreira

"Não gosto de falar isso. Estou jogando um futebol muito bom, muito vistoso, digamos assim. Estou feliz com meu momento, cheguei à seleção vestindo a camisa do Flamengo em 2016, tive outros momentos bons, fiz gols importantes. Não só eu, mas o time cresceu muito. Estamos bem, crescendo e evoluindo como equipe".

Melhorias no jogo

"Quando você joga, você olha para trás e vê os erros que cometeu. Quando acabam os jogos, eu assisto para ver aonde eu poderia ter feito melhor. Por vezes nem durmo direito pensando em algum lance. Às vezes consigo assistir logo depois do jogo, às vezes no dia seguinte. Vejo meus lances e às vezes o jogo todo. Aprendo e corrijo. Por mais que você saia com a sensação de que fez um grande jogo, sempre há coisas para melhorar. Se eu deixar de treinar virada de jogo, não adianta eu chegar no jogo e fazer. Vai dar errado".

Passado de cobranças

"É um momento de desfrutar, sim. Quando você vem para um clube do tamanho do Flamengo, você pensa em ganhar títulos importantes., em chegar em grandes finais de grandes torneios. Quando você consegue atingir isso, sem dúvida nenhuma é um prazer e uma honra. É um sentimento muito bom. Eu nunca me exaltei e também não me exalto agora. Não ganhamos nada, não carimbamos esse futebol bonito. Com os títulos carimbados, estarei muito mais feliz. É um momento único não só meu, mas do clube. Todos estão felizes. Particularmente, por ter vivido muitas coisas e por ter batido na trave em outros títulos. Saber que estamos perto de títulos importantes é um momento para desfrutar, mas sabendo que não ganhamos nada".

Willian Arão - Buda Mendes/Getty Images - Buda Mendes/Getty Images
Willian Arão se lamenta em jogo do Flamengo
Imagem: Buda Mendes/Getty Images

Abel x Jesus

"São duas maneiras diferentes de se pensar o jogo, não estou dizendo que uma é certa e a outra é errada. Ele (Jesus) pegou uma equipe bem posicionada na tabela, uma equipe com bons valores que ele enxergava de outra forma. Ele mudou algumas posições. A gente já havia se classificado em primeiro na Libertadores, estávamos na Copa do Brasil e em 3º no Brasileiro. Não estávamos fazendo as coisas de maneira ruim, talvez não tivéssemos atingido o ponto que a torcida imaginava. Ele veio e colocou a metodologia e estilo de jogo dele".

Tite x Jesus
Arão no Corinthians - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Arão no Corinthians: convivência com Tite e títulos sem ser protagonista
Imagem: Reprodução/Twitter

"São dois grandes treinadores. Quando trabalhei com o Tite (no Corinthians), deu para perceber pontos de igualdade de pensamento. Mas em determinado ponto, cada um parte para um lado e são ideias diferentes. São grandes treinadores, mas cada qual com a sua ideia. Na parte defensiva eles pensam de maneira parecida em determinados pontos".

Primeiro volante

"Muito tranquilo, fiz minha base como primeiro volante, cheguei no Corinthians assim. Mas sem dúvida são movimentos diferentes ao que eu estava habituado. Mas me senti tranquilo, sabia das minhas qualidades e potencial. Se eu não pudesse fazer, ia chegar nele e falar que não dava".

Subida de produção com Gerson

"Não gosto de falar de um jogador especificamente, mas ele é um grande jogador. Temos outros jogadores que fazem diferença, ele é um deles. A gente tem um time e uma estrutura com todos habituados. Temos uma equipe muito sólida, equipe não mudou o patamar mesmo com baixas".

Evolução do Flamengo

"Acho que a gente pode jogar em um patamar acima. Temos feito boas coisas, a gente vê depois dos jogos coisas que a gente poderia ter feito melhor. Não dá para dizer que chegamos no nosso limite. Mister tá há quatro meses, é pouco tempo. Você não imagina que iria estar com essa vantagem, mas trabalhamos todo dia para isso. A gente entra aqui para dar o nosso melhor e vencer independentemente de quem esteja do outro lado. Se perguntar para qualquer torcedor, acho que ninguém imaginaria isso".

Cabeça nas conquistas

"Me pego pensando nisso. Por mais que o foco seja a próxima partida, é inevitável. Sou ser humano e me pego pensando em viver aquele momento, em poder desfrutar daquele momento, daquela partida".

River Plate

"O que eu vi foram jogos deles contra o Boca e contra outras equipes. Não paramos para analisar taticamente com o grupo todo. É uma equipe forte, chegou em várias finais, pegamos eles no ano passado. Sabemos que há bons valores individuais, temos ideia daquilo que vamos enfrentar".

Futuro da carreira

"É inevitável pensar em jogar uma Champions. Estou num grande clube, sou realizado de estar vivendo isso nesse clube. Mas 99% pensa numa Champions, numa final. O ápice são esses grandes torneios. Joguei uma final de Libertadores e Mundial, mas não em campo. É o sonho de qualquer jogador viver isso. Uma final de Copa América, de Champions, de Copa. Não penso em sair, se acontecer será algo natural".