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Perrella explica Cruzeiro x Atlético com torcida única: "afastar marginais"

Zezé Perrella, gestor de futebol do Cruzeiro - Bruno Haddad/Cruzeiro
Zezé Perrella, gestor de futebol do Cruzeiro Imagem: Bruno Haddad/Cruzeiro

Enrico Bruno e Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

13/11/2019 10h58

Resumo da notícia

  • Zezé Perrella publicou carta aberta à imprensa para informar por que propôs o clássico mineiro entre Cruzeiro e Atlético-MG com torcida única
  • Gestor de futebol da Raposa crê que esta é a melhor medida para afastar os marginais dos estádios de futebol nos próximos jogos entre os times
  • Além de críticas às brigas, o dirigente cruzeirense fez ponderações sobre os atos de racismo vividos no meio do esporte

Zezé Perrella, presidente do Conselho Deliberativo e gestor do Cruzeiro, publicou na manhã de hoje uma carta informando por que propôs a disputa do clássico mineiro, diante do arquirrival Atlético-MG, apenas com a torcida mandante.

A medida tomada pelo dirigente entrará em vigor somente a partir de 2020, quando os clubes voltarão a se enfrentar. No entanto, já houve uma reunião entre o dirigente e Sérgio Sette Câmara, presidente do Galo, para alinhavar os termos dos próximos jogos. O gestor cruzeirense propôs uma mudança na distribuição da carga de ingressos e contou com aval do dirigente alvinegro.

"Diante dos inúmeros fatos ocorridos ultimamente nos campos de futebol pelo mundo, culminando com as barbaridades vistas por todos após o clássico de domingo, não vi outra alternativa senão chamar o presidente do Atlético, Sérgio Sette Câmara, para um acordo prontamente aceito por ele: a partir de agora vamos jogar as partidas entre nós somente com torcida única. E, por favor, não entendam isso como uma forma de privar a entrada de público adversário no estádio, mas sim a de preservar a integridade daqueles torcedores que vão aos jogos com suas famílias para um momento de emoção e lazer", escreveu.

"Queremos sim privar o acesso de pseudo torcedores e marginais que se travestem de emoção e paixão pelo clube para dilapidar o patrimônio, agredir pessoas sem mensurar consequências. Se fossem realmente apaixonados, eles não colocariam seus clubes em risco de perda de mando de campo e outros prejuízos mais", acrescentou.

"É uma atitude antipática no sentido de punir os baderneiros que quase nunca são alcançados pelo nosso código penal, com raras exceções. Como seria bom ter o Mineirão dividido proporcionalmente de acordo com a força de suas torcidas. Só que a violência chegou e de forma exagerada. Não há como controlar a fúria desses marginais sem que haja choque e atitudes violentas. Eles transformam os estádios em verdadeiras praças de guerra, vão preparados para qualquer confronto, sem qualquer respeito a crianças, mulheres, idosos ou qualquer cidadão menos protegido no momento", completou.

A carta de Zezé Perrella ainda aborda outros temas ocorridos no clássico mineiro. Ele é enfático ao cobrar a mudança de postura e ao ratificar o novo formato de divisão de ingressos. No entanto, assegura que as medidas não serão eternas. Confira, abaixo, a carta na íntegra:

VAMOS DAR UM BASTA NA VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS

Diante dos inúmeros fatos ocorridos ultimamente nos campos de futebol pelo mundo, culminando com as barbaridades vistas por todos após o clássico de domingo, não vi outra alternativa senão chamar o presidente do Atlético, Sérgio Sette Câmara, para um acordo prontamente aceito por ele: a partir de agora vamos jogar as partidas entre nós somente com torcida única. E, por favor, não entendam isso como uma forma de privar a entrada de público adversário no estádio, mas sim a de preservar a integridade daqueles torcedores que vão aos jogos com suas famílias para um momento de emoção e lazer.

Queremos sim privar o acesso de pseudo torcedores e marginais que se travestem de emoção e paixão pelo clube para dilapidar o patrimônio, agredir pessoas sem mensurar consequências. Se fossem realmente apaixonados, eles não colocariam seus clubes em risco de perda de mando de campo e outros prejuízos mais.

É uma atitude antipática no sentido de punir os baderneiros que quase nunca são alcançados pelo nosso código penal, com raras exceções. Como seria bom ter o Mineirão dividido proporcionalmente de acordo com a força de suas torcidas. Só que a violência chegou e de forma exagerada. Não há como controlar a fúria desses marginais sem que haja choque e atitudes violentas. Eles transformam os estádios em verdadeiras praças de guerra, vão preparados para qualquer confronto, sem qualquer respeito a crianças, mulheres, idosos ou qualquer cidadão menos protegido no momento.

CRUZEIRO X ATLÉTICO COM TORCIDA ÚNICA! Isto não pode ser uma decisão eterna, mas uma medida imediata para que juntos com os demais torcedores, imprensa, autoridades policiais e políticas possamos encontrar um melhor caminho rapidamente. E este não é um problema exclusivamente mineiro, é uma preocupação mundial.

No Brasil, os torcedores radicais definiram que seus clubes estão proibidos de perder, senão jogadores, técnicos, dirigentes e às vezes até mesmo a imprensa estão condenados a apanhar nos aeroportos ou em seus próprios centros de treinamento. Precisamos dar um basta nisso! E caso venha alguém ou algum órgão contra essa decisão emergencial, que se assine um termo de responsabilidade sobre tudo o que vem acontecendo e nos deem garantias para que possamos continuar nessa irracionalidade.

A imprensa também não ficou de fora desse quadro lastimável de domingo. Os marginais invadiram a tribuna destinada aos jornalistas e lançaram cadeiras contra vários profissionais. Um absurdo! Depois, foram invadir os camarotes. Imaginem!

E eu pergunto: o torcedor paga caro por um camarote para levar sua família e amigos com segurança e de repente é surpreendido por um bando de marginais invadindo seu espaço, ou então sendo sufocado pelas bombas de gás que a PM necessita usar para conter tais comportamentos. Outros muitos torcedores em diversos setores do estádio também foram atingidos.

E para "ilustrar" ainda mais aquela tarde violenta no Mineirão, foi possível registrar os ataques racistas de dois indivíduos contra um dos seguranças que estavam trabalhando. Que fato lamentável! Quanta ignorância num país onde a grande maioria tem descendência afro. Quantos jogadores negros fizeram parte do jogo? É inconcebível, nos dias de hoje, que haja elementos com esse tipo de comportamento! Quanta estupidez! Que insanidade! Só que a polícia trabalhou em alta velocidade e identificou ambos quase que de imediato. Seria bom que muitos que participaram de outros atos violentos também fossem identificados, porque suas caras estão bem definidas pelas câmeras de televisão.

RACISMO. É outro fenômeno mundial e na Europa parece que está num processo mais acelerado que no Brasil. Frequentemente assistimos atos racistas na Itália, Rússia e outros países do leste europeu. As leis são duras em todo o mundo, porém precisam ser cumpridas fielmente. Outras cenas, ocorridas também no domingo, envolvendo os atletas Taison e Dentinho na Ucrânia com imagens para todo o mundo, também merecem uma punição exemplar. Já passamos do limite de dar um BASTA em qualquer ato discriminando pessoas.

Zezé Perrella
Presidente do Conselho Deliberativo e Gestor de Futebol do Cruzeiro EC