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Tadeu, do Goiás, brilha no Fantástico. E não só por ser xará de Schmidt

Goleiro Tadeu, do Goiás, contra o Palmeiras, em jogo no qual desmaiou após choque de cabeça - Heber Gomes/AGIF
Goleiro Tadeu, do Goiás, contra o Palmeiras, em jogo no qual desmaiou após choque de cabeça Imagem: Heber Gomes/AGIF

Vanderlei Lima e Lucas Faraldo

Do UOL, em São Paulo

09/11/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Goleiro do Goiás é um dos destaques de sua posição no Brasileiro
  • Ex-Ferroviária, Tadeu é pegador de pênaltis, mesmo medindo 1,85m
  • As constantes menções que recebe na Globo também lhe dão notoriedade
  • O goleiro diz ao UOL que ainda não encontrou seu xará, Thadeu Schmidt

"Eu aposto que você vai ficar enchendo a bola daquele goleiro do Goiás", disse o cavalinho do Avaí, no quadro Gols do Fantástico, do programa dominical da Globo. Era a senha para o início de uma das passagens mais engraçadas do resumo da rodada que a emissora carioca faz toda semana. Ao ser questionado pelo "companheiro", o apresentador Tadeu Schmidt não titubeou: "Eu? Eu jamais privilegiaria um jogador aqui no Fantástico".

Não é bem assim. Tadeu, o goleiro do Goiás em questão, virou, nesta edição do Brasileirão, um dos principais personagens dos Gols na Rodada. No domingo passado mesmo, após dizer que Tadeu fez duas defesas "como um gato", Schmidt emendou: "Até a reposição de bola com ele é uma obra de arte". A motivação, é claro, é o nome de ambos. Mas a brincadeira só fez sucesso por que Tadeu é bem mais do que um simples xará do apresentador: com 35 defesas difíceis só nesse Brasileirão, Tadeu é o segundo melhor goleiro nas estatísticas do torneio.

Eu sabia que a minha mãe tinha botado esse nome com algum propósito, não era à toa"
Tadeu, sobre a reação da família à fama que ganhou com o Fantástico

A história do goleiro, aliás, é boa também. Ele começou a vida na roça ajudando o pai a arar a terra, deixou um contrato profissional para trás e se aposentou aos 24 anos porque não estava feliz para, um ano depois, voltar aos campos. E, nesse Brasileirão, foi o protagonista de uma das cenas mais chocantes do futebol brasileiro na temporada, ao desmaiar após um choque de cabeça com o palmeirense Zé Rafael — ele deixou o campo de ambulância e jogou algumas partidas de capacete por causa dessa pancada.

Tadeu faz defesa durante partida entre São Paulo e Goiás - Heber Gomes/AGIF - Heber Gomes/AGIF
Tadeu faz defesa durante partida entre São Paulo e Goiás
Imagem: Heber Gomes/AGIF
Você é queridinho do Tadeu Schmidt, apresentador do Fantástico. Há edições em que ele te citou até oito vezes no programa. Já está acostumado?
Não, sempre fico feliz quando ele fala de mim. Da primeira vez que ele me citou, fiquei surpreso, foi lá em 2013. Tinha feito um jogo pelo Tupi-MG. Depois, em 2017, no Paulistão, estava na Ferroviária e fiz minha estreia contra o Corinthians. Nosso time ganhou de 1 a 0, fiz boas defesas, também elogiadas por ele.

Queria conhecê-lo, viu? O que me deixa mais orgulhoso é ver a reação da minha família, que se emociona sempre que sou citado. Eles assistem ao programa todos os domingos.

Goleiro Tadeu, do Goiás, em ação na partida contra o Cruzeiro no Serra Dourada - Heber Gomes/AGIF - Heber Gomes/AGIF
Goleiro Tadeu, do Goiás, em ação na partida contra o Cruzeiro no Serra Dourada
Imagem: Heber Gomes/AGIF

Você ocupa o 2º lugar no ranking de defesas difíceis do Brasileirão. São 35, contra 36 do Douglas, do Bahia. O que acha que falta para chegar à seleção?
Os goleiros convocados por Tite são de altíssimo nível. A seleção está bem servida. Eu sonho com isso, claro, é o sonho de todo jogador. Trabalho todos os dias para, primeiro, colocar o Goiás em uma posição importante: levar o clube para campeonatos maiores como a Copa Sul-Americana e a Libertadores. Se, um dia, eu for convocado, vai ser fruto do meu trabalho no Goiás. Fiquei feliz com a convocação do Santos (Athlético-PR), por exemplo. É só trabalhar bem que o reconhecimento vem.

Seu goleiro referência sempre foi o Marcos, ex-Palmeiras. De onde veio essa identificação?
Minha primeira lembrança do Marcos foi na semifinal da Libertadores de 2000 contra o Corinthians. Rolou decisão de pênaltis e ele defendeu o chute do Marcelinho Carioca, clássico. Depois, foi convocado para a seleção brasileira e quando o vi atuando na Copa do Mundo de 2002, virei fã. Agora, a identificação veio, mesmo, quando descobri que ele também nasceu em uma cidade pequena [Oriente, no interior de São Paulo] e veio de família humilde. Se tornou minha inspiração.

Você o conhece?
Não, mas queria muito.

Quando eu tinha 16 anos, fui até um treino do Palmeiras no CT do Coritiba só para vê-lo. Só que fiquei morrendo de vergonha de pedir uma foto, eu era menino do interior, sabe como é né? Hoje, me arrependo e espero, um dia, reencontrá-lo.

Por que você abandonou o futebol em 2016, época em que jogava pelo Ceará?
Eu não sentia mais prazer. Jogava por um clube sensacional, com uma baita estrutura, cercado de pessoas sérias e, mesmo assim, não estava feliz. Eu tinha tudo para evoluir. Mas, como em qualquer profissão, quando a cabeça não está legal, a gente para de render. Era o que estava acontecendo comigo. Voltei para a casa dos meus pais e foi a melhor decisão que tomei. Logo, conheci minha mulher e voltei a me sentir bem. E, junto com essa sensação de bem-estar, veio a vontade de viver de futebol de novo.

Quando a vontade voltou, você escolheu a Ferroviária, em São Paulo. Decidiu, de novo, ficar longe dos seus pais. O que mudou?
O clube fica em Araraquara, a cinco horas da cidade em que eu morava, não é tão longe. A Ferroviária me procurou, abriu as portas para que eu voltasse para o futebol. Decidi aceitar. No ano passado, fui emprestado para o Oeste de Itápolis, que disputava a série B, e meu desempenho no campeonato foi bom. Por causa dele, houve o interesse do Goiás, que contatou a Ferroviária. Assim que acabou o Paulistão de 2018, vim para cá emprestado. Existe a opção de o Goiás me efetivar aqui, só que, para isso, preciso trabalhar muito --e tenho feito isso.

Tadeu e Zé Rafael se chocam e caem desacordados em jogo do Palmeiras contra o Goiás - Reprodução/Premiere - Reprodução/Premiere
Tadeu e Zé Rafael se chocam e caem desacordados em jogo do Palmeiras contra o Goiás
Imagem: Reprodução/Premiere
No jogo contra o Palmeiras, neste ano, em um lance com Zé Rafael, você bateu a cabeça e ficou inconsciente. O acidente te deixou mais receoso em campo?
Não, não foi um trauma. Eu saí em direção à bola e ele veio para cabecear. Como foi muito rápido, não consegui evitar o choque. Não tenho lembranças desse lance, então confesso que não fiquei traumatizado. Só lembro com tristeza porque, naquele dia, meu pai e meu sogro estavam na arquibancada e ficaram bastante preocupados. Foi só um susto, apesar de a pancada ter sido muito forte.

Depois do acidente, você jogou algumas partidas usando um capacete. Se sentiu mais pesado na hora de se movimentar no gol?
Não, o capacete era até confortável, acredita? Era uma questão de prevenção e, sinceramente, não me incomodou nem me atrapalhou. Até me senti mais seguro.

Você mede 1,84m. Sua altura já te impediu de atuar em algum clube?
Não, mas existia um preconceito nas categorias de base. É uma coisa bem brasileira renegar goleiros com menos de 1,90m. Em algumas ocasiões, nem pude mostrar se era bom ou não por causa da minha altura. Na Europa, é bem diferente: temos o Iker Casillas [Porto], o Valdés [ex-Barcelona], o Navaz [PSG], todos com alturas similares à minha. Hoje, sofro menos. Ainda há uns comentários na imprensa, claro, mas dentro de campo eu tenho respondido a essas críticas: sou um goleiro rápido, me posiciono bem e é isso que conta hoje em dia.

Seu primeiro trabalho foi na roça com seu pai, na pequena cidade de Joaquim Távora, no Paraná. Alguma lembrança?
Sim. Eu tinha uns 13 ou 14 anos quando ele saía e me levava junto. Meu pai plantava de tudo: arroz, feijão, milho, e também arava a terra. Eu ficava com ele, mais fingindo que trabalhava do que ajudando realmente. Vivia dando uns migués e ele nem percebia. Minha mãe é professora, trabalhava fora, então, na roça, éramos só nós dois. Mas durou pouco: logo fui para [as categorias de base] o Coritiba começar minha carreira no futebol.

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