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OPINIÃO

Blogueiros: Jesus e Sampaoli chacoalham "acomodados" técnicos brasileiros

Jorge Jesus, do Flamengo, e Jorge Sampaoli, do Santos - Thaigo Ribeiro/AGIF e Sergio Moraes/Reuters
Jorge Jesus, do Flamengo, e Jorge Sampaoli, do Santos Imagem: Thaigo Ribeiro/AGIF e Sergio Moraes/Reuters

Do UOL, em Santos (SP)

05/11/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Os técnicos Jorge Jesus, do Fla, e Jorge Sampaoli, do Santos, são destaques no Brasil
  • O sucesso de ambos mostra que havia acomodação e nível baixo dos técnicos brasileiros?
  • "É a prova incontestável do atraso que impera (va) entre a maioria deles", diz Mauro Cezar
  • "Acomodação e nível baixo dos técnicos brasileiros são problemas antigos", afirma Perrone

O português Jorge Jesus e o argentino Jorge Sampaoli, técnicos de Flamengo e Santos, respectivamente, figuram hoje entre os principais treinadores do futebol brasileiro. Os resultados e, especialmente, o desempenho de suas equipes comprovam tal afirmação.

O Flamengo do "Mister" lidera o Brasileiro com certa folga - está a oito pontos do Palmeiras, segundo colocado - e ainda está classificado para a grande decisão da Copa Libertadores, contra o River Plate, da Argentina. A vaga na final, aliás, foi conquistada depois de uma goleada histórica sobre o Grêmio, time que até então era apontado como o que jogava o melhor futebol do país.

Já o Santos de Jorge Sampaoli continua fazendo bonito no Campeonato Brasileiro com um elenco bem mais limitado que o do Flamengo - e do Palmeiras. É o terceiro colocado e, assim como a equipe carioca, tem a manutenção da posse de bola e a busca pelo futebol bonito e ofensivo como principais características.

Diante disso, é possível dizer que o protagonismo dos técnicos estrangeiros no Brasileiro evidencia uma certa acomodação dos comandantes brasileiros? Os gringos podem provocar uma mudança de mentalidade nos treinadores daqui? Fizemos esses questionamentos aos blogueiros do UOL Esporte, e as respostas para as perguntas foram positivas.

Você acha que os técnicos estrangeiros se destacando no Brasileirão é uma amostra de que havia acomodação e nível baixo dos técnicos brasileiros ou é uma situação mais circunstancial?

ANDRÉ ROCHA

É uma mostra do acerto de Flamengo e Santos ao contratar seus treinadores. O time carioca corrigindo a rota no meio da temporada. Mas é claro que os profissionais precisavam mesmo de uma chacoalhada.

Leia o blog do André Rocha.

MARCEL RIZZO

Mostra competência de Jorge Jesus e Sampaoli especificamente e que os técnicos brasileiros poderiam trocar experiências com eles.

Leia o blog do Marcel Rizzo.

MAURO BETING

Sim, havia uma certa acomodação dos treinadores brasileiros, o que não significa dizer que todos devam se reciclar, que tá tudo errado e que não prestamos mais. Mas, evidentemente, como aconteceu quando Ondino Viera veio ao Brasil, em 37, no futebol argentino, ele que era uruguaio, como aconteceu com Béla Guttman quando chegou em 57 ao São Paulo, como aconteceu com Fleitas Solich, quando chegou ao Flamengo em 53, Filpo Núñes, que já havia chegado ao Brasil, mas quando montou a primeira Academia em 65... Você precisa dar uma chacoalhada, o que não significa que seja jogar fora todos os treinadores e que nem todo treinador que chega de fora é o Rinus Michels.

Leia o blog do Mauro Beting.

MAURO CEZAR

É a prova incontestável do atraso que impera (va) entre a maioria deles.

Leia o blog do Mauro Cezar.

MENON

Sim, havia e ainda há acomodação na maioria dos casos. Pode ser a instabilidade, que gera grandes voos, pode ser a falta de cursos, mas a verdade é que ninguém faz nada diferente. Todos usam as mesmas táticas.

Leia o blog do Menon.

PERRONE

A acomodação e o nível baixo dos técnicos brasileiros são problemas antigos. A diferença agora é que os trabalhos de Jesus e Sampaoli são mais impactantes do que os de outros estrangeiros que já estiveram por aqui. Isso ajuda a ressaltar as deficiências dos brasileiros.

Leia o blog do Perrone.

PVC

O Brasil nunca trabalhou na formação de seus treinadores. Formação acadêmica e campo. A formação é geração a geração. Mas tem bons treinadores. O que Jorge Jesus nos traz é a agressividade perdida. A capacidade de ir sempre no limite. Ele próprio já disse que nem todos os estrangeiros terão níveis mais altos do que os brasileiros.

Leia o blog do PVC.

RENATA MENDONÇA

Acho que, por aqui, existe uma certa "arrogância" da nossa parte quando o tema é futebol. Por todos os feitos que o Brasil já conseguiu dentro de campo e por termos mais títulos do que qualquer outro país, achamos que somos os melhores e ponto. Enquanto isso, todo mundo foi correndo atrás. Vieram novas filosofias de jogo, revoluções táticas, treinadores mergulhando nos estudos e criando novas tendências mundiais, e a gente aqui achando que "ser brasileiro basta" para manter o status de melhor do mundo.

Para se ter ideia, as licenças de treinadores na Europa começaram a existir em 1995. Em 2009, 15 anos depois, por uma exigência da Fifa, a CBF anunciou que criaria seus cursos - A "CBF Academy", que hoje oferece a série de licenças para treinadores e gestores do futebol brasileiro, foi criada somente em 2016. Por muito tempo, os técnicos aqui foram formados com base na experiência que traziam do campo, como ex-jogadores, e no dia a dia de trabalho. Poucos buscavam cursos para aperfeiçoar seu conhecimento.

Isso somada à pressão que os treinadores têm (três derrotas podem ser o suficiente para uma demissão) fez com que se popularizasse por aqui o estilo defensivo de jogo, que tem mais medo de perder do que vontade de ganhar. É só pegar os últimos três campeões brasileiros e ver que eles tinham estilos de jogo bem similares (defesas seguras e ataques eficientes). Os estrangeiros chegaram com coragem para fazer diferente e mostraram que dá pra ganhar e ter sucesso com uma ideia de jogo mais ousada.

Leia o blog Dibradoras.

RENATO MAURÍCIO PRADO

Trabalhos de Jesus e Sampaoli provam que a maioria de nossos treinadores está completamente defasada em relação ao que há de mais moderno no futebol mundial. Ver o Flamengo e o Santos em ação é imensamente mais prazeroso do que assistir aos jogos de quase todos os outros times. Athletico Paranaense e Grêmio são as exceções. O resto é uma mesmice só. Um bando de volantes e jogo por uma bola vadia.

Leia o blog do Renato Maurício Prado.

Você acha que os gringos em 2019 podem dar um choque nos brasileiros e fazê-los mudar a mentalidade de jogar "por uma bola"?

ANDRÉ ROCHA

Depende do que acontecer com o Flamengo. Tudo fica muito em função do resultado.

MARCEL RIZZO

Não são todos os brasileiros que jogam por uma bola, há técnicos que buscam um futebol mais ofensivo e de posse de bola.

MAURO BETING

O trabalho excelente do Jorge Jesus e do Jorge Sampaoli nos ajuda a dar uma mexida. Dá para dizer que o Jorge Jesus redescobriu o futebol do Brasil. Mas se você pegar, por exemplo, o Bauza, que foi semifinalista da Libertadores com o São Paulo, e era o treinador mais defensivista... Ao mesmo tempo, o Aguirre, mais ou menos por aí, e o Osorio era um treinador mais ofensivo. Agora, o Osorio não era sumidade, e nem o Bauza era um inferno. Precisa ter equilíbrio. Não é qualquer estrangeiro que vai dar certo e nem que vai dar errado. Mas, evidentemente, o excelente trabalho do JJ e do Sampaoli mostra que dá para jogar, não só no Brasil, mas como na Europa. Você times como os Red Bulls, o Genk, querendo jogo na Champions. Acho que é uma tendência mundial muito interessante. As equipes querendo ficar mais com a bola, querendo propor mais o jogo.

MAURO CEZAR

Sim, entre os capazes de mudar, evoluir, os incapazes reclamarão mais e mais.

MENON

Tomara que sim. Acredito que, sim, fica a inspiração. Mas poucos aproveitarão a oportunidade.

PERRONE

Esse choque já foi dado e há treinadores tentando acompanhar o futebol ofensivo de Sampaoli e Jesus. O problema é que isso leva tempo. Não acontece da noite para o dia.

PVC

Não. Não são os gringos. Imagine que no ano que vem tenhamos 20 clubes treinados por 20 estrangeiros. Só um vai ganhar. Você acha que os clubes vão diminuir o número de demissões? Ano passado, dos.20 clubes, só três tiveram o mesmo técnico do início ao fim. Neste ano, só quatro. Ano que vem podemos ter 20 clubes e 60 técnicos estrangeiros na Série A. O que precisa mudar é nosso analfabetismo para entender como manter por mais tempo.

RENATA MENDONÇA

Acho que pode ser um momento de virada, pois quando se tem técnicos tentando algo diferente, isso gera uma cobrança para os brasileiros fazerem algo diferente. Assim como o estilo de jogo mais defensivo "pegou" nos últimos anos, é possível que esse estilo mais ofensivo que está triunfando agora faça outros técnicos repensarem suas ideias. Não é que todo mundo tenha que jogar do mesmo jeito, mas é possível trazer ideias novas, se reinventar. Muitos desses treinadores pararam no tempo sem renovar suas ideias de futebol.

RENATO MAURÍCIO PRADO

Sim. O choque será benéfico e muitos serão obrigados a rever conceitos e se reciclar.