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"Fla de Marcelinho e Djalma era melhor do que esse", diz tetracampeão Zetti

Zetti, em entrevista ao UOL Esporte - Marcio Komesu/UOL Esporte
Zetti, em entrevista ao UOL Esporte Imagem: Marcio Komesu/UOL Esporte

Vanderlei Lima e Lucas Faraldo

Do UOL, em São Paulo

03/11/2019 12h00

Se a empolgação que hoje toma conta do futebol brasileiro em relação ao Flamengo fosse personificada num jogador, seria ele um atacante goleador nato. Pois se uma visão mais contida a respeito da equipe de Jorge Jesus também fosse transformada em figura humana, personagem ideal talvez seria o ex-goleiro Zetti — espalmando, nesta entrevista ao UOL Esporte, elogios que talvez entenda como exagerados ou ao menos precipitados ao time que lidera o Campeonato Brasileiro e é finalista da Libertadores mas, de fato, ainda não bateu campeão.

Tetracampeão pela seleção brasileira em 1994 e ídolo do São Paulo na lendária equipe bicampeã das Copas Libertadores e Intercontinental de 1992 e 1993, Zetti até tentou escapar da comparação entre o time eternizado por Telê Santana e este Flamengo que, se ainda não pode ser apontado como eterno, vai escrevendo uma história interessante para se contar lá no futuro. No fim das contas, a união entre os tricolores daquele esquadrão de quase três décadas atrás, combinada ao "custo-benefício", parece ter pesado na hora de a ex-muralha descer do muro.

"(Risos) Ah eu não gosto de comparar épocas, é um futebol jogado de forma diferente, o Telê Santana tinha uma maneira de jogar, quando ele montou esse time em 91, era um time que se conhecia dentro de campo, fora de campo, tinha uma cumplicidade entre os jogadores, cada posição preenchia todos os requisitos", discorre. "Então é difícil falar quem é melhor, mas eu penso que aquele time que eu tive a oportunidade de jogar, de ver, para mim foi uma equipe, na minha opinião, uma das melhores, o time de 92/93, que tinhas propostas definidas, jogava muito tempo junto. Não tinha salários milionários, mas tinha uma vontade, se entregava. E aquele time também teve um ataque muito bom, rápido."

E a citação aos salários mais modestos de uma geração de jogadores que não era acostumada a ganhar centenas de milhares muito menos milhões do que hoje se converte para reais é a melhor "porta de entrada" para a análise que o próprio Zetti faria do Flamengo contemporâneo.

"Agora este Flamengo vem numa condição muito boa. E eu falo assim, o Campeonato Brasileiro esse ano, na minha opinião, é um dos melhores campeonatos dos últimos, eu vou arriscar a dizer, dos últimos 15 anos, pelas contratações dos clubes, jogadores foram repatriados, os clubes investiram também em propostas de treinadores e eu não ouvi ninguém falar que o Campeonato Brasileiro está nivelado por baixo, coisa que vinha acontecendo nos últimos anos e que nós não tínhamos às vezes o melhor time chegando na final", argumenta, antes de esmiuçar os cariocas.

"O Flamengo soube contratar pontual, diversas contratações, mas foram pontuais. O Flamengo acertou com jogadores que estavam... Bruno Henrique, no Santos, Gabigol, no Santos, o goleiro Diego Alves... Fazendo grandes partidas. Ele [Diego Alves] teve uma fase que não estava tão legal quando ele voltou, mas às vezes não é a fase do goleiro, é a fase do time, não se tem uma defesa sólida. [Mas] o Rodrigo Caio saiu do São Paulo desacreditado e hoje é um dos melhores zagueiros. Tem o outro zagueiro que veio da Espanha, o Pablo Marí", acrescentou.

Comparações à parte com seu São Paulo bicampeão da América e do mundo, Zetti foi convidado a analisar o atual Flamengo em relação também aos demais esquadrões do próprio clube rubro-negro que já deixaram histórias de sucesso escritas no passado. Alguns desses "Mengões", aliás, davam dores de cabeça para o ex-goleiro nos tempos de Palmeiras, Santos e, claro, São Paulo.

"Eu enfrentei aquele Flamengo de Marcelinho Carioca, Djalminha, lá de 90/91, essa geração é a que marcou no Flamengo na minha opinião. É que quando você conquista ou chega numa final, não conquistou ainda uma Libertadores, é outra história, mas eu penso que aquele Flamengo de 90/91 ainda é melhor do que esse atual, justamente por isso, eram jogadores revelados no clube, jogadores que tinham o que conquistar e foram jogadores que, depois dessa geração, eles brilharam em grandes clubes e fora do Brasil também", pontua.

Voltando a falar sobre o Flamengo de 2019, mais uma vez sem fazer citação nominal a Jorge Jesus, o ex-goleiro e hoje comentarista do canal ESPN e da rádio TOP FM destacou o fato de este "potencial esquadrão" rubro-negro ainda estar a caminho das glórias que, aí sim, o fariam ser comparáveis aos times multicampeões que colocaram seus jogadores na história do clube carioca e no imaginário popular.

"A gente tem que ter um certo cuidado, que o Flamengo ainda não ganhou nada, mas é claro que se ganhar o Brasileiro, ganhar a Libertadores... Mas isso ainda é pouco tempo, o Flamengo está com o treinador há pouco tempo e com o elenco também. A gente vai fazer comparação com aquela geração do Zico daqui a dois anos", opina, não sem antes finalizar o bate-papo com um alerta. "[Vamos comparar com a geração do Zico] Claro, se continuar o mesmo elenco, o que é difícil já que o Brasil não consegue segurar os atletas", finalizou.