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Cartola mais longevo do mundo reina aos 81 anos e ganha R$ 5 milhões anuais

Presidente do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa é fotografado antes de jogo contra o Estoril - Gualter Fatia/Getty Images
Presidente do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa é fotografado antes de jogo contra o Estoril Imagem: Gualter Fatia/Getty Images

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/10/2019 04h00

Quando se trata de vasculhar o mercado atrás de barganhas para comprar e revender jogadores com margem de lucro altíssima, é consenso entre os dirigentes brasileiros: ninguém faz isso melhor do que o Porto. Essa fama foi construída a partir de um trabalho capitaneado pelo português Jorge Nuno Pinto da Costa, o presidente mais longevo do futebol mundial. Aos 81 anos, ele comanda os Dragões desde 1982, ganha mais de 1,1 milhão de euros anuais (R$ 4,8 milhão) e não pretende largar o osso: acaba de confirmar candidatura para mais um mandato. Em caso de vitória no pleito de 2020, será o seu 15º à frente da equipe.

Quando chegou ao cargo, a dinâmica era outra, mas o cartola conseguiu se ajustar com o decorrer do tempo. Entre outros, fisgou no Brasil nomes que marcaram história, casos de Jardel, Branco, Aloísio, Geraldão, Juary, Hulk, Derlei, Helton e Carlos Alberto.

A maioria deles desembarcou por cifras baixíssimas para os padrões europeus e foi negociada posteriormente por valores astronômicos. O caso mais recente de sucesso é o do ex-São Paulo Éder Militão, hoje no Real Madrid. O zagueiro da seleção brasileira foi trazido por 8,5 milhões de euros (R$ 36,8 milhões) e repassado menos de um ano depois por 50 milhões de euros (R$ 216,5 milhões).

Figura controversa nos bastidores, Pinto da Costa carrega uma aura que, ao mesmo tempo em que provoca respeito em qualquer ambiente que se encontre, causa uma dose de medo. Nenhum jogador jamais se referiu ao dirigente pelo seu nome. É motivo de orgulho sublinhado por ele em entrevistas.

"Nunca aconteceu que um jogador que me tratasse pelo nome próprio, e creio que nunca acontecerá", afirmou.

Isso não impede que os atletas se voltem contra a sua pessoa em caso de divergência. Foi o que aconteceu em 2000 com o ex-zagueiro Argel Fucks, atual técnico do CSA, que na época tentava se transferir para o Palmeiras.

Em episódio que se tornou lendário em Portugal, pessoas ligadas ao Porto espalharam que, revoltado com a postura do cartola em se negar a vendê-lo, Argel destruiu diversos computadores na sede do time. No fim das contas, o brasileiro acabou conseguindo selar sua saída. Ele sustenta que a história não passa de folclore e confirma apenas alguns pontapés em uma porta, sem quebrar nada. Pinto da Costa também nega qualquer dano ao patrimônio da equipe.

"Houve, de fato, uma discussão feia com o Pinto da Costa. O Palmeiras queria me comprar ao Porto, a pedido do [Luís Felipe] Scolari, que tinha me telefonado. E a Parmalat [então patrocinadora] até queria pagar valores superiores ao que eu tinha custado. Só que, mesmo assim, o Pinto da Costa não queria me deixar sair. Não aconteceu bem como contam, isso dos computadores. Me exaltei, claro, revirei um pouco a sala, é verdade. E acabou por prevalecer o que eu queria: que era sair", contou Argel.

Dono de personalidade forte, Pinto da Costa acumula inimigos em mais de três décadas, mas, mesmo com idade avançada, não demonstra qualquer intenção de se afastar. Um dos motivos de orgulho é o seu próximo projeto: a construção de um centro de treinamento para a base. O Porto é atual campeão europeu da UEFA Youth Cup.

O ex-goleiro Vítor Baía, que trabalha em uma emissora local de TV, e o treinador André Villas-Boas, que comanda o Olympique de Marselha, surgem como alternativas para o seu lugar no futuro. Nenhum deles deseja concorrer, contudo, enquanto o cartola ainda estiver na ativa.

Fatura mais que jogadores

Ao contrário do que costuma acontecer no Brasil, Pinto da Costa é muito bem renumerado para fazer o seu trabalho e, em boa parte, ganha mais até mesmo que os próprios jogadores.

Ao longo dos anos, os seus ganhos financeiros foram aumentando e, na última temporada, de acordo com prestação de contas divulgada pelo Porto neste mês, chegaram a mais de 1,1 milhão de euros (R$ 4,8 milhão). Em 2018/2019, ele recebeu 641.140 mil euros (R$ 2,776 milhões) de salário anual mais 500 mil euros (R$ 2,165 milhões) em gratificações.

Existe um antes e depois determinado pelo surgimento de Pinto da Costa na história do Porto.

No período que precedeu a sua entrada no clube primeiramente como diretor, o time conquistou a Liga Portuguesa somente cinco vezes entre 1934 e 1977. Esse cenário mudou drasticamente a partir de 1978: foram 23 títulos nacionais, batendo de frente com os rivais Benfica e Sporting, e ainda o bicampeonato da Liga dos Campeões em 1987 e 2004.

Os últimos anos ficaram devendo, por outro lado, com a retomada do domínio pelo Benfica. Para completar, a eliminação precoce na fase de playoffs da Liga dos Campeões nesta temporada ainda deverá acarretar em queda de 98,4% de nos lucros segundo previsão interna. É provável que destaques como o lateral esquerdo Alex Telles sejam negociados em janeiro.

Não passa de um contratempo, claro, para quem se viu anos atrás em meio a um escândalo gigantesco de corrupção de arbitragem batizado de "Apito Dourado", chegou a ser suspenso, mas acabou sendo inocentado das acusações de suposta influência.

Nada disso abalou a sua imagem de revolucionário na cidade do Porto, que sustenta grande rivalidade em diversas frentes com a capital Lisboa. Pinto da Costa é hoje um caso cada vez mais raro de dirigente que tem o seu nome gritado a cada partida pelos torcedores.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Deco e Pepe passaram por outros clubes de Portugal antes de chegarem ao Porto, por isso foram retirados da lista que o dirigente "fisgou no Brasil" publicada inicialmente.