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SPFC x Avaí terá sete cadeirantes e três usuários de prótese como gandulas

Dez atletas paralímpicos atuarão como gandulas na partida - Divulgação
Dez atletas paralímpicos atuarão como gandulas na partida Imagem: Divulgação

Talyta Vespa

Do UOL, em São Paulo

20/10/2019 14h39

São Paulo e Avaí se enfrentam neste domingo (20) pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro, numa partida que vai contar com atletas paralímpicos exercendo a função de gandulas. Sete cadeirantes e três usuários de prótese já estão no Morumbi e serão os responsáveis por buscar as bolas jogadas para fora do campo.

A ação é iniciativa da MRV Acessível, uma das principais patrocinadoras do São Paulo. Para os atletas Paola Klokler e Nilton Divino, dois dos dez participantes da partida, ter pessoas com deficiência dentro do principal campeonato de futebol do país é uma forma de mostrar que elas são capazes de fazer o que quiserem.

Paola tem 28 anos e nasceu sem uma das pernas devido a uma má-formação congênita. O primeiro contato dela com o esporte foi na natação, que não supriu o sonho de atuar em um esporte coletivo. "Por causa da minha deficiência, o convívio social na minha infância foi muito difícil. Eu sentia falta disso, de ser parte de algo", diz.

Paola e Nilton, atletas paralímpicos que serão gandulas na partida deste domingo - Divulgação - Divulgação
Paola e Nilton, atletas paralímpicos que serão gandulas na partida deste domingo
Imagem: Divulgação

A atleta conheceu o basquete ainda na infância, conseguiu suprir a carência de convívio social, aprendeu a trabalhar em equipe e a entender que ter deficiência não é uma limitação. Ela é membro da seleção brasileira há dez anos e vive do esporte numa rotina de treinos intensa: são três dias de quadra, dois de academia e, aos sábados, acontecem os jogos.

"Depois do basquete, passei a me ver de outra maneira. Durante a infância, eu me achava inferior às outras crianças. Isso mudou. Entendi que eu era capaz de tudo e foi assim desde então. Faço tudo sozinha, dirijo, viajo e não dependo de ninguém. A gente pode fazer o que quiser, inclusive ser gandula. Não vou negar: estou ansiosa".

Diferentemente de Paola, o atleta Nilton Divino perdeu o movimento das pernas já adulto: ele fraturou a coluna ao cair de um pé de abacate aos 18 anos. "Achei que seria o fim da minha vida. Eu passava dia e noite dentro de casa, não saía para nada. Os meios de transporte eram ruins, eu era muito dependente porque não conhecia outra realidade nem aceitava minha condição. Tentava fingir que seria algo passageiro. Só depois do esporte, passei a viver minha nova vida com alegria", diz.

Nilton foi atleta da seleção brasileira de basquete por 12 anos —participou de duas Paraolimpíadas, dois Jogos Parapan-americanos e duas Copa América. Hoje, aos 43, joga pela Associação Desportiva para Deficientes: ADD, entidade que selecionou os atletas que vão atuar no jogo deste domingo.

"Eu fazia fisioterapia na AACD nos anos 1990 quando recebi o convite de um dos funcionários para participar de alguns treinos de basquete de um clube. E, ali, minha vida mudou: passei a ver minha deficiência como uma característica. E só. Morei sozinho por 20 anos, depois conheci minha mulher e me casei. Vivo uma vida normal, não dependo de ninguém".

Segundo o diretor executivo de marketing do São Paulo, a ação tem o intuito de promover discussões sobre acessibilidade e inclusão. "O clube acredita que atitudes como essa significam a oportunidade de trazer a integração total do indivíduo e a quebra de barreiras por meio do esporte", diz.