Topo

Coritiba

Coritiba completa 110 anos buscando caminho para recuperar protagonismo

Time do Coritiba posa antes de jogo contra o Paraná pela Série B - Gabriel Machado/AGIF
Time do Coritiba posa antes de jogo contra o Paraná pela Série B Imagem: Gabriel Machado/AGIF

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

12/10/2019 04h00

Para onde vai o Coritiba nos próximos anos? Completando hoje (12) 110 anos de existência, o clube procura um caminho após sucessão de insucessos, brigas políticas e, de quebra, o sucesso do rival Athletico, peso extra para quem estava acostumado a ser protagonista no Paraná até pouco tempo atrás.

Pressionado na disputa de uma vaga para voltar elite do Campeonato Brasileiro em 2020 após ter fracassado no ano passado, o Coritiba tem poucos eventos festivos programados para seu aniversário. Apenas uma corrida e o lançamento do filme sobre a carreira do ídolo Alex estão previstos. Festa, aliás, é uma palavra que deu muita dor de cabeça ao presidente Samir Namur nos últimos dias após a derrota para o Paraná, já que alguns jogadores foram curtir a folga pós-jogo em um show sertanejo.

Crise nos vestiários fez clube recorrer a Jorginho

"O foco atual da diretoria é no acesso" foi a única manifestação do clube sobre o aniversário - o UOL Esporte tentou entrevista com o presidente Samir Namur. O Coxa foi atrás de um investidor para ajudar a fechar as contas da temporada usando como garantia o CT de Campina Grande do Sul. Tudo para não correr riscos de faltar dinheiro na reta final da Série B.

O orçamento ficou ainda mais apertado quando o clube decidiu investir acima do teto de R$ 80 mil no meia Rafinha por indicação de um conselheiro. Ídolo da torcida, o jogador estava no Cruzeiro e tem feito bons jogos pelo Coxa, mas foi um dos protagonistas do episódio da "balada sertaneja". O mesmo conselheiro indicou William Farias, que estava no São Paulo, mas sem sucesso.

A diretoria tem encarado protestos da torcida organizada em todos os jogos. Entre as manifestações, apareceram ameaças de agressões ao diretor de futebol Rodrigo Pastana, incluindo uma de morte que fez com que ele registrasse boletim de ocorrência em delegacia de polícia.

Após o Coxa chegar à segunda colocação e empatar por 1 a 1 com o líder Red Bull Bragantino fora de casa, começou uma derrotada que custou o cargo do ex-técnico Umberto Louzer. Jogadores como o próprio Rafinha e o artilheiro Rodrigão, que vinham sendo destaques na campanha, caíram de produção.

Jorginho foi o escolhido com a missão de recuperar o grupo. A ideia era dar uma demonstração de "força", com alguém "maior que os jogadores" comandando o vestiário.

Ex-dirigentes pedem mudanças na gestão e ousadia

Se a cúpula se reservou ao direito de não comentar o futuro do clube, ex-dirigentes não perderam a chance de apontar caminhos para o futuro. Para Vilson Ribeiro de Andrade, duas vezes vice-campeão da Copa do Brasil em 2011 e 2012 e tetracampeão estadual, o clube não está pronto para seu modelo de gestão atual.

"O Coritiba, ao fazer sua reforma de estatuto, abriu uma porta para uma democracia que o clube ainda não estava estruturado para ter. Acabou elegendo pessoas com vontade, apaixonados, mas não tinham estrutura para tocar uma gestão profissional e que mexe com paixão, como o Coritiba. Teve gestões aí que terminaram o mandato sem nenhum diretor, os vice-presidentes renunciaram todos. Esse modelo de gestão está superado", opinou, ao UOL Esporte.

"Se analisar hoje, temos de quatro a seis clubes disputando para ser campeão brasileiro, e o restante disputa pra não cair. Não há como competir com orçamento de 400, 500 milhões, em um clube como o Coritiba, que hoje arrecada 67 milhões. O Coritiba tem uma base importante, tem uma estrutura de ativos importantes, com estádio, dois centros de treinamentos, um em atividade e outro em uma área de reserva. Tem uma dívida totalmente administrável de curto prazo, não chega a R$ 30 milhões, o que para o Coritiba é pouco. Mas precisa se reinventar. Precisa de uma reforma de estatuto, blindando mais a gestão. Hoje está muito exposta. O grande problema é o processo sucessório. Mudar a cada três anos a gestão, muda todo o modelo, o planejamento... não tem clube que aguente", completou.

Seguindo a linha de raciocínio, Andrade diz crer que investimento na base e maior ambição são os caminhos para o clube recuperar terreno.

"O modelo da eleição tem que ser revisto. Tem que fazer um investimento grande na base e ter calma, porque você leva cinco, seis anos para revelar um jogador. Estruturar a base tecnicamente para aquilo que você quer no profissional, desde o sub-16. O clube que está na segunda divisão só perde investimentos. E o grande problema hoje é o Coritiba pensar pequeno, uma inanição que tomou conta dos dirigentes atuais do clube. Não se pensa a médio e longo prazo. Como resolve? Com uma ação muito forte em torno do que é o objetivo do Coritiba: estar na Copa do Brasil, jogando a Série A, jogando a Sul-Americana... só assim voltam as grandes receitas, e você volta ao cenário nacional", afirmou.

A sombra do sucesso do Athletico, campeão da Sul-Americana e da Copa do Brasil nas últimas duas temporadas, também traz peso. Para Alceni Guerra, vice-presidente entre 2015 e 2017, o que o Coxa precisa seguir os passos do oponente e se modernizar.

"Não é só fazer o que o nosso grande rival fez, mas outros três grandes fizeram: o Grêmio, que saiu do Olímpico com protestos e fez seu grande estádio, o Athletico, que transformou seu pequeno e acanhado estádio em um dos melhores do Mundo, e o Palmeiras, que fez do Parque Antártica uma Arena belíssima. Não por acaso são três dos campeões mais recentes do Brasil e da América do Sul. Acho que devemos fazer o mesmo: imitá-los. Cuidar do nosso patrimônio e pensar grande, tanto em clube quanto em time, para termos mais 110 anos das glórias que tivemos até agora", declarou, ao UOL Esporte.

Band: Torcedores de Coritiba e Paraná entram em confronto

Band Notí­cias

Coritiba