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Cruzeiro pagou R$1,2 mi a empresa para tirar CND, mas hoje não tem certidão

Há indícios de que conselheiro do Cruzeiro faturou com acordo para tirar Certidão Negativa de Débito - © Washington Alves/Light Press/Cruzeiro
Há indícios de que conselheiro do Cruzeiro faturou com acordo para tirar Certidão Negativa de Débito Imagem: © Washington Alves/Light Press/Cruzeiro

Rodrigo Mattos e Thiago Fernandes

Do UOL, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte

10/10/2019 12h00

Resumo da notícia

  • Cruzeiro pagou quase R$ 1,3 milhão a empresa para tirar Certidão Negativa de Débito
  • Há indícios de que conselheiro do clube faturou com o acordo, conforme investigação da Polícia Federal
  • Clube mineiro, hoje, não tem Certidão Negativa de Débito, mas diz ter recebido do escritório de contabilidade
  • Escritório fez contabilidade da empresa de Sérgio Nonato, ex-diretor geral do clube

Em setembro de 2018, o Cruzeiro fechou contrato com a empresa Mourão e Lamounier Auditoria para obter a Certidão Negativa de Débito (CND), documento que garantiria a regularidade fiscal do clube. Pagou quase R$ 1,3 milhão por esse serviço. Há indício de que um conselheiro ficou com parte do dinheiro. Em outubro de 2019, o clube não tem as CNDs, e, na Receita Federal, consta uma dívida fiscal de R$ 25 milhões.

Cruzeiro não possui Certidão Negativa de Débito atualmente, conforme Receita Federal - Reprodução - Reprodução
Cruzeiro não possui Certidão Negativa de Débito atualmente, conforme Receita Federal
Imagem: Reprodução

A cláusula primeira do vínculo, ao qual o UOL teve acesso, diz: "Constitui objeto do presente contrato a assessoria e consultoria tributária, voltada à emissão da Certidão Negativa de Débito da Receita Federal do Brasil, homologação do Programa Especial de Regularização Tributária, parcelamento da PGFN (Procuradoria Geral da Fazenda Nacional) e redução de multa e juros em acordo".

Por esse serviço, o Cruzeiro se propôs a pagar R$ 1.050.000,00 em 2018, em três parcelas de R$ 350 mil. Dois desses pagamentos seriam condicionados à inclusão de débitos de R$ 8,2 milhões em um novo parcelamento fiscal, regularizando a situação do clube e possibilitando a obtenção da CND. O clube pagou R$ 1.262.293,12 ao escritório em 2018, segundo o balancete do próprio Cruzeiro. Notas fiscais obtidas pelo UOL confirmam o pagamento à empresa.

Segundo o clube, a CND prevista no contrato foi obtida. Portanto, o serviço previsto em contrato teria sido executado.

Cruzeiro possui dívida ativa na Receita Federal - Reprodução/Receita Fiscal - Reprodução/Receita Fiscal
Cruzeiro possui dívida ativa de R$ 25 milhões na Receita Federal
Imagem: Reprodução/Receita Fiscal

A empresa chegou ao Cruzeiro por indicação de Ildeu da Cunha Pereira, advogado preso em junho deste ano suspeito de retirar documentos sigilosos e vazar dados do sistema da Polícia Federal. Ele é conselheiro cruzeirense. Há dados que indicam que Ildeu ficou com parte do dinheiro destinado à empresa da contabilidade.

"Eu indiquei a empresa ao Cruzeiro, não me recordo muito bem a data. Eu não conheço o Lucas [Mourão Lamounier], mas foi por meio de um advogado amigo dele que fiquei conhecendo e indiquei ao Cruzeiro", disse Ildeu ao UOL. "Não vou falar o nome do advogado, mas você [repórter] pode perguntar ao proprietário lá e ele te fala. Não vou falar por sigilo profissional", acrescentou.

Embora confirme a indicação ao clube, Ildeu diz não conhecer a empresa e alega que não foi pago pelo ato: "Eu não fui remunerado por levar essa empresa ao Cruzeiro. Não indiquei ao Fabiano [Oliveira Costa, diretor jurídico do clube], porque não conhecia muito bem a empresa, não tinha contato com o Lucas, dono da empresa, e nem sei onde fica a sede dela".

Apesar da declaração concedida, Ildeu recebeu honorários por conta do acordo com a empresa. O UOL obteve documentos que comprovam o fato. Ele acertou a situação com o departamento jurídico do clube e faturou R$ 674 mil no ano passado, conforme Balancete Contábil Analítico. Os serviços feitos por ele, no entanto, não são especificados.

Procurado para falar sobre o assunto, o Cruzeiro informou: "O Cruzeiro EC informa que a Mourão e Lamounier é uma empresa especializada em análise de pagamentos e impostos, tributos e encargos e que no trabalho executado conforme consta no escopo do contrato foi alcançada uma economia em torno de R$ 5.500.000,00 e o parcelamento especial de débitos com o INSS, além de participar da consolidação do PERT do PROFUT. A CND foi sim emitida por essa empresa", disse por meio de nota.

"Com relação ao pagamento efetuado pelo Cruzeiro EC, o mesmo foi executado, em atraso, conforme contrato: 3 x 350.000,00. Desconhecemos os demais valores citados", acrescentou.

Após a primeira consulta, o UOL voltou a procurar a diretoria do Cruzeiro com três novas questões. No entanto, elas não foram respondidas pela cúpula do clube. Veja, abaixo, as perguntas feitas à diretoria.

1) Por que o Cruzeiro perdeu a CND?

2) Como o Cruzeiro explica a dívida ativa de 25 milhões na Receita Federal?

3) O conselheiro Ildeu da Cunha Pereira recebeu algo pelo acordo do clube com a Mourão & Lamounier?

Empresa fez contabilidade de ex-diretor do Cruzeiro

Sérgio Nonato, ex-diretor geral do Cruzeiro, recebia por meio da Status Assessoria Esportiva Ltda. A contabilidade de sua empresa, de acordo com o antigo gestor do clube, foi feita por meio da Mourão e Lamounier Auditoria e Contabilidade. No entanto, Serginho (como é conhecido) alega que conheceu a empresa por meio dos serviços prestados ao clube.

"Não fui eu que levei a empresa para o Cruzeiro. Eles fizeram a contabilidade da minha empresa porque eu precisava de um contador e tinha acabado de ter um problema com o contador", comentou ao UOL.

"Foi o Ildeu quem levou a empresa para o Cruzeiro, não fui eu. Ele é quem levou a Mourão e Lamounier para o Cruzeiro", acrescentou, ratificando a informação dada por Ildeu.

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