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Líder dos ultras do Real é torcedor do Atlético de Madri e acumula delitos

Antonio Menéndez Mories, líder dos ultras do Real Madrid - Reprodução
Antonio Menéndez Mories, líder dos ultras do Real Madrid Imagem: Reprodução

Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

27/09/2019 12h00

Antonio Menéndez Mories aproveitou o último dia de 2013 para atacar. Ao lado de uma dúzia de companheiros do Ultra Sur, uma das principais torcidas ultras do Real Madrid, invadiu com facas, tacos de beisebol e cassetetes o bar Río Duratón, sede da Frente Atlético, dos ultras do Atlético de Madri. Ao deixar três pessoas em estado grave, "Niño", como é conhecido, fazia seu acerto de contas com a torcida que um dia liderou.

A história do torcedor de 35 anos com as equipes rivais tem menos a ver com o futebol e mais com pensamentos políticos. Com ligações com ideologias de extrema-direita e neonazista, Mories encontrou na Ultra Sur um espaço após ser expulso da Frente Atlético no início dos anos 2000. Apesar de times rivais, as duas torcidas têm pensamentos ideológicos bastante semelhantes.

Mories foi preso junto com outros responsáveis pelo ataque algumas semanas depois. A acusação se juntou às mais de 20 que ele acumulou durante a vida, incluindo tráfico de drogas e assalto. Ele foi preso em 2015 condenado a dois anos de detenção e multa de 10 mil euros por ferir com uma navalha um homem na saída de uma balada. A vítima precisou passar por cirurgia, mas sobreviveu.

Em 2014, Antonio Menéndez Mories foi identificado durante um assalto a uma residência - Reprodução/El Mundo - Reprodução/El Mundo
Em 2014, Antonio Menéndez Mories foi identificado durante um assalto a uma residência
Imagem: Reprodução/El Mundo

Os delitos praticados por Mories durante a vida incluem assaltos em bando. Em 2014, o jornal "El Mundo" publicou um relatório policial que identificava o líder ultra como um dos envolvidos no assalto à residência de um traficante da cidade de Alarcón, na Espanha. Na foto da câmera de segurança, ele aparece roubando algumas joias do local. As autoridades apontaram que foram roubados na ocasião 200 mil euros em acessórios de valor.

"Niño" cresceu na Ultra Sur liderando uma facção de jovens membros que faziam oposição à liderança de José Luis Ochaíta e Álvaro Cadenas. Os dois não têm mais relação com a organizada. Antes de sair, Cadenas foi preso em 2014 ao apontar uma arma para o rival durante o funeral de um dos membros da torcida. Uma das versões diz que ele estava sendo ameaçado por "Niño". Cadenas acabou preso no mesmo dia.

Os ultras perderam força no mesmo ano do ataque à Frente Atlético. A diretoria do Real Madrid decidiu expulsar 250 membros da organizada dos jogos no Santiago Bernabéu e proibir a presença dos Ultra Sur nas arquibancadas por causa de uma briga entre os próprios integrantes em um bar em Madri.

"Niño" tem ficado longe dos noticiários recentes. Os últimos dois fatos envolvendo ele aconteceram no ano passado. No duelo contra a Roma pela Liga dos Campeões, em setembro, foi visto nos bares localizados nos arredores do Santiago Bernabéu. No mês seguinte, foi apontado pela polícia de Barcelona como um dos responsáveis por arremessar cadeiras em um bar durante uma manifestação contra a independência da Catalunha.

Apesar da ausência em massa no estádio, os membros da Ultra Sur ainda causam temor. Jornalistas que cobrem o Real Madrid diariamente preferem não ter seus nomes envolvidos em temas relacionados à organizada. Foi o caso de um que conversou com a reportagem.

Nova torcida é pacífica e pouco crítica

Torcida do Real Madrid, no Santiago Bernabéu - TF-Images/Getty Images - TF-Images/Getty Images
Imagem: TF-Images/Getty Images

A saída dos ultras deu espaço a um grupo chamado "Grada Fans" (torcedores da grade, em tradução literal), junção de duas antigas torcidas do Real Madrid: La Clásica e a Primavera Blanca. Em seu site, a organizada se define como um lugar para acolher torcedores "que acreditam em um apoio sem violência, política ou racismo".

"No Grada Fans não há símbolos de extrema-direita. Mas é um grupo controlado pelo clube. Ou seja, tudo que eles cantam é com a aprovação do Real. Algumas vezes, as faixas levadas ao estádio são polêmicas por apoiar certos jogadores e não outros", explica o jornalista ouvido pelo UOL Esporte.

O controle das músicas e da postura tem como contrapartida a facilitação dos membros aos jogos do Real Madrid. Além do espaço reservado a eles, os ingressos são vendidos com descontos maiores do que para o restante do público.

Sem a presença maciça dos ultras, o Real Madrid também incentiva a criação de torcidas ao redor do mundo. No próprio site do clube é possível saber onde há um grupo em sua cidade ou país. Entre as ações estão eventos com a presença do presidente Florentino Pérez.

"O Real tem milhões de fãs pelo mundo e é uma honra fazer parte disso. O relacionamento com o clube é ótimo, e Florentino Pérez faz vários encontros conosco. Sabemos que há torcedores do Real em todos os lugares e todos são importantes", diz Rudi Somogyi, membro da "Grada Fans" na Alemanha.

Ele promete estar presente com a "Grada Fans" no Wanda Metropolitano, casa do Atlético de Madri, no sábado (28). O clássico está marcado para as 16h (de Brasília).