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Após superar racismo na Rússia, Maicon Bolt tenta engrenar no Atlético-MG

Maicon Bolt tenta se recuperar pelo Atlético-MG. Ele chegou ao clube em janeiro de 2019 - Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG
Maicon Bolt tenta se recuperar pelo Atlético-MG. Ele chegou ao clube em janeiro de 2019 Imagem: Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

25/09/2019 04h00

Maicon Bolt foi revelado pelo Fluminense em 2008. A ascensão meteórica o levou para o Lokomotiv Moscou, da Rússia. No país europeu, ficou por oito anos e se tornou ídolo. Neste período, teve que superar o racismo das torcidas adversárias para virar referência no clube. Em janeiro de 2019, o atacante de 29 anos voltou ao Brasil para defender o Atlético-MG. Até o momento, no entanto, não conseguiu se firmar no time e, com mais um ano de contrato, espera se manter na equipe para render o que gostaria.

No início de sua passagem na Rússia, ele viu as torcidas rivais agirem com atos racistas em jogos do campeonato local.

"Eu já sofri sim. Na maioria dos clássicos, a torcida adversária fazia vozes, imitando gorila e macaco. Acontecia mais nos clássicos, sabe? Eles faziam para tirar o desequilíbrio mental do jogador adversário. Aconteceu isso comigo, aconteceu com outros jogadores, isso nunca me atingiu de forma emocional. Entrava em um ouvido e saía no outro. Eu ficava muito triste em relação a isso. Não sei como está lá, mas espero que isso já tenha acabado. Ao menos na minha época, já estava bem menos. No início, houve gestos desta forma que me deixaram um pouco triste", disse ao UOL Esporte.

A tristeza, no entanto, rapidamente foi transformada em alegria. Maicon Bolt se destacou no time e virou ídolo, vencendo duas Copas da Rússia. A relação foi recíproca, e até o jogador reconhece que a carreira só alavancou após o futebol apresentado na Europa.

"Tudo o que tenho devo ao Lokomotiv. A vida que construí, de ajudar a minha família e meus pais. Eles sempre foram muito corretos comigo. Eles tiveram paciência porque os primeiros seis meses foram difíceis para mim. Pensei em voltar, e eles cuidaram de mim como um jovem que eles viram que tinha um futuro brilhante no clube. Quando eu percebi isso, botei na minha cabeça que estava lá para fazer história. Muitos tinham ido para lá, mas não ficaram, mas ninguém conseguiu criar um vínculo. Teve o Vagner Love, que marcou história, mas não eram muitos", comentou.

"Fiquei muito grato ao Lokomotiv por tudo o que fiz, e até hoje tem foto minha no estádio. Tem meu amigo Guilherme [ex-Athletico Paranaense] que está lá e tem uma história marcante no clube. As pessoas que trabalham lá mandam abraço para mim. Não apenas passei, mas deixei uma imagem boa e fico feliz de ter conseguido isso. Que outros brasileiros deem certo", acrescentou.

Depois do período de idolatria na Rússia, ele teve uma breve passagem pelo Antalyaspor, da Turquia, onde ficou entre 2017 e 2019. Ao fim do último ano, deixou o clube para defender o Atlético-MG. Até o momento, não conseguiu se firmar na capital mineira e já recebeu diversas críticas. Ele aponta a adaptação ao calendário e à forma de jogar como ponto crucial.

"Eu fiquei nove anos fora. A Rússia era um lugar bem frio, a Turquia era mais quente, mais calor. É um futebol totalmente diferente da Rússia, em relação à Turquia. Na Rússia, o futebol é mais tático. Já na Turquia, é um futebol muito corrido. Não tinha muito a parte tática, mas tinha que se entregar 100% dentro de campo, eram jogos muito disputados", declarou.

"A gente marcava pressão o jogo todo. No Brasil, eu joguei dois anos só e fiquei muito tempo na Rússia. A adaptação está sendo muito complicada para mim, mas devido ao volume de jogos. É um jogo atrás do outro. Quando voltamos ao Brasil, geralmente, sentimos bastante. Eu tenho trabalhado muito, me dedicado bastante para ter essa adaptação. Quero ajudar o time, ajudar o Atlético", completou.

Por fim, o atleta reconhece que se incomoda com as críticas que vem recebendo no Atlético. No entanto, admite que pretende usá-las para melhorar o seu desempenho.

"Não sou só eu, mas todos se chateiam com as críticas. O futebol é assim mesmo no Brasil. A torcida pega no pé, porque sabe que o jogador pode fazer mais. As coisas mudam muito rápido no futebol no geral, e no Brasil é ainda mais rápido. Todos os jogadores que foram vaiados também já foram aplaudidos. A gente vai buscar melhorar. A crítica construtiva acaba ajudando, porque se eles cobram é porque sabem que a gente pode fazer mais. A gente precisa olhar para dentro e saber onde está errando. Quando as coisas começam a acontecer, sei que eles vão nos incentivar e apoiar", concluiu.

Maicon Bolt está na Cidade do Galo desde janeiro de 2019. Em sua curta passagem, fez 23 jogos e marcou dois gols. Porém, tem contrato até dezembro de 2020 e pretende reagir para cair nas graças da torcida atleticana.

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