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Mario Götze: o herói da Copa do Mundo relegado ao ostracismo

Herói do título de 2014, Mario Götze vai sendo deixado de lado por Joachim Löw na seleção alemã e por Lucien Favre no Borussia Dortmund - Dylan Martinez/Reuters
Herói do título de 2014, Mario Götze vai sendo deixado de lado por Joachim Löw na seleção alemã e por Lucien Favre no Borussia Dortmund Imagem: Dylan Martinez/Reuters

Gerd Wenzel

Deutsche Welle (DW)

24/09/2019 19h10

Após gol decisivo no Maracanã na Copa de 2014, carreira de Götze foi truncada por infortúnios. Agora, ele precisa afastar maldição que pairou sobre os outros três artilheiros cujos gols deram título mundial à Alemanha.

Festejado como herói nacional em 2014, graças ao seu gol na final da Copa do Mundo contra a Argentina, Mario Götze vai sendo deixado de lado por Joachim Löw na seleção alemã e por Lucien Favre no Borussia Dortmund - por esse clube, na atual temporada da Bundesliga, o jogador atuou ao todo por apenas 26 minutos, sendo 12 contra o Augsburg e 14 contra o Frankfurt.

Como explicar a queda do herói do Maracanã ao melancólico papel de reserva de luxo no clube aurinegro em apenas cinco anos?

Eram decorridos 88 minutos da final no templo do futebol mundial quando Mario Götze entrou em campo no lugar de Miroslav Klose. Pouco antes, ainda à beira do campo, Löw lhe havia dito ao pé do ouvido: "Mostre ao mundo que você é melhor do que Messi."

Quase meia hora mais tarde e faltando apenas sete minutos para o fim do confronto, Götze fez o gol da sua vida, o gol que iria determinar o desenrolar de sua carreira daí em diante. Foi uma obra de arte. Na corrida em alta velocidade, amorteceu magistralmente no peito uma bola cruzada por Schürrle, para emendar de voleio com pé esquerdo. Era o gol do maior triunfo que um jogador de futebol pode almejar - o gol do título de campeão mundial.

Consumava-se o momento fugaz de glória de um jovem de apenas 22 anos. Cercado pelos companheiros eufóricos, Götze parecia estar distante, em outra dimensão, transcendendo o espaço físico do Maracanã. Talvez já estivesse imaginando naquele instante o que aquele gol significaria para o seu futuro. Bênção ou maldição?

O destino não foi benevolente para nenhum dos três artilheiros alemães que, antes de Mario Götze, marcaram os gols decisivos numa Copa do Mundo.

Helmut Rahn, autor do gol da vitória frente à Hungria em 1954, encerrou sua carreira em 1965 e fracassou como homem de negócios. Incompreensivelmente não se interessou em colaborar com a produção do filme O milagre de Berna, no qual ele é a figura central. Passou a viver recluso. Vez ou outra era visto no boteco Friesenstube em Essen, sua cidade natal, onde morreu em 2003, dois dias antes do seu aniversário.

Gerd Müller, por sua vez, marcou o gol do título contra a Holanda em 1974 e pendurou as chuteiras em 1982. Longe do futebol, se tornou alcoólatra e, por intervenção direta de Uli Hoeness e Franz Beckenbauer, foi internado numa clínica de recuperação em 1991. Um ano depois, Müller foi contratado pelo Bayern para exercer a função de técnico assistente do time de amadores. Em 2015, o clube comunicou oficialmente que o maior artilheiro da história da Bundesliga foi acometido da doença de Alzheimer e que, a partir de então, estaria sob cuidados médicos.

Andreas Brehme converteu o pênalti contra a Argentina em 1990. Era o terceiro título mundial da Alemanha. Seus dias como jogador acabaram em 1998 no seu clube de origem, o Kaiserslautern. Depois tentou se firmar como treinador e dirigente, mas sem sucesso. Enfrentou sérias dificuldades financeiras. Atualmente exerce uma função representativa no Bayern de Munique.

Mario Götze, depois da Copa do Mundo, voltou para o Bayern e lá tentou cair nas graças de Pep Guardiola. Esperanças vãs. No sistema do técnico catalão não havia lugar para o jovem atacante que, mais uma vez, teve que se conformar com o banco de reservas.

Frustrado com a indiferença de Guardiola, Götze treinava exaustivamente além da conta para poder mostrar à comissão técnica seu excelente condicionamento físico, tentando provar dessa forma que tinha condições para entrar no time a qualquer momento.

Chegou a um ponto em que quanto mais treinava, pior ficava, tanto técnica quanto fisicamente. Já eram os primeiros sinais da misteriosa doença que o acometia, mas que não foi diagnosticada na época pelo departamento médico do Bayern.

Em 2016, Götze voltou ao Borussia Dortmund, quando finalmente se descobriu que o jogador sofria de miopatia muscular resultante de um distúrbio no seu metabolismo. Estavam explicados os altos e baixos do seu inconstante rendimento.

Recuperado, voltou à sua melhor forma e, especialmente na temporada passada, mostrou tanto empenho que não restou alternativa ao técnico a não ser colocá-lo no time para jogar. Foi um dos jogadores mais estáveis do elenco aurinegro durante a campanha 2018/19.

Acontece que, com as recentes contratações de Julian Brandt e Thorgan Hazard, diminuíram consideravelmente as chances de Mario Götze voltar ao time titular. O seu contrato vence em junho do próximo ano, quando estará disponível no mercado sem custar nada.

Terá apenas 28 anos e tempo suficiente para recomeçar sua carreira truncada por infortúnios desde o golaço do Maracanã. E, quem sabe, poderá afastar para bem longe a sina da maldição que pairou sobre seus três antecessores, cujos gols deram o título de campeã mundial à Alemanha, mas, a partir daí, a melancolia tomou conta do outono de suas vidas.