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Lenda na Espanha, Marcos Senna virou dirigente e se frustrou com Pato

Marcos Senna comemora após marcar pelo Villarreal contra o Arsenal em 2009 - Daniel Ochoa de Olza/AP
Marcos Senna comemora após marcar pelo Villarreal contra o Arsenal em 2009 Imagem: Daniel Ochoa de Olza/AP

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, em Lisboa

11/09/2019 04h00

Foram 11 anos como jogador e já quase quatro como dirigente no Villarreal. Tempo suficiente para Marcos Senna vencer títulos, recusar propostas de clubes como o Manchester United e virar lenda na Espanha. Ao longo do período morando no país, o ex-volante, que também atuou por Corinthians e São Caetano, viu vários brasileiros chegando e deixando o clube. Um deles o decepcionou: Alexandre Pato, hoje no São Paulo.

"Na verdade, o Villarreal sempre foi muito mais argentino. Jogadores brasileiros eram pontuais. Então, passaram o Gabriel [Paulista], Nilmar, eu, Cicinho, Edmilson, Belletti, com quem joguei junto. Nunca ficavam muito tempo juntos três brasileiros, por exemplo. Eu fui o único que realmente chegou e ficou", contou Senna, ao UOL Esporte, durante o evento Soccerex, em Lisboa.

Campeão europeu com a seleção espanhola em 2008, ele ignora Alexandre Pato em sua lista de brasileiros com quem trabalhou no Villarreal. Logo se explica, deixando transparecer um pouco de frustração.

"Peguei o Pato, esqueci de mencionar o nome dele. Como embaixador, por pouco tempo", lembrou.

"Pato já demonstrou que não tem estabilidade em nenhum time. Mais do que decepção, eu, na verdade, não fiquei nem surpreendido pela trajetória dele. Obviamente, a gente tinha a expectativa de que realmente ele pudesse se afirmar no Villarreal, não parava em lugar nenhum. Mas eu também tenho empatia, me coloco no lugar dele, teve uma proposta, digamos, estratosférica [da China], e ele tinha essa facilidade de mudar de time para outro, estava feliz assim", completou.

Recebido por mais de mil torcedores, Pato foi contratado pelo Villarreal em julho de 2016. Porém, depois de seis meses, se transferiu para o Tianjin Quanjian, da China. Ele balançou as redes somente duas vezes em 14 partidas pelo Campeonato Espanhol. Foi o último jogador brasileiro a passar pelo Submarino Amarelo.

Agora com 43 anos, Marcos Senna destaca outra dificuldade que qualquer time europeu enfrenta ao buscar reforços no mercado brasileiro. De acordo com ele, o envolvimento de empresários aumenta a burocracia envolvida em negociações e dificulta contratações.

"O meu desejo era quanto mais brasileiro, melhor. Hoje, não temos nenhum. Falando de forma geral, o jogador brasileiro perdeu muito mercado. Alguns anos atrás, faltou seriedade na hora de quando você vai contratar o atleta. Você pergunta quem é seu empresário, e aí falam que um [empresário] tem percentagem, outro tem isso. Então, você vai ver que é muito mais burocrático no Brasil. Quando algum europeu quer contratar, já pensa a dor de cabeça", analisou o cartola.

"A Europa criou uma resistência, ainda saem muitos atletas e vão continuar [saindo], mas, se o Brasil, em termos de gestão, fosse diferente, o cenário era outro. Pode ter certeza que pelo menos um, dois, três estariam jogando no Villarreal", complementou.

Segundo jogador que mais vestiu a camisa do Villarreal na história, com 363 jogos disputados entre 2002 e 2013, o ex-volante naturalizado espanhol planejada inicialmente retornar ao Brasil ao encerrar a carreira, mas a família o fez permanecer em continente europeu.

"A princípio, quando vim para o Villarreal, tinha assinado por cinco anos, e a ideia era bater e voltar. Não sei como está no Brasil agora, mas antes não fechavam por tanto tempo. Na altura, achei o contrato de cinco anos maravilhoso, mas ao mesmo tempo largo, e depois eu vi que não foi. Nos primeiros anos, eu e minha esposa ainda não tínhamos filho, ela é brasileira. Quando me casei, estava no São Caetano, chegamos na final da Libertadores e eu vim para o Villarreal", explicou.

"Desembarquei aqui com esse propósito de cumprir os cinco anos, mas a ideia de voltar ao Brasil foi mudando até que tivemos o primeiro filho. Ganhava em euro, o Brasil estava como um país emergente, porém foi por pouco tempo. A partir disso, fui colocando na balança. No final, fomos para os Estados Unidos e, nessa época, estava mais do que decidido. Ao redor de 2009, havíamos concluído que a vida era na Espanha", continuou.

"Quando eu saí do Villarreal, os proprietários falaram que, quando acabasse lá [nos Estados Unidos], me queriam aqui. Sabia que, ao retornar, teria o meu cargo. Então, voltei, minha esposa e meus filhos super contentes na Espanha, e quem manda em casa é ela, não adianta (risos). Mas eu estava feliz de voltar porque, se fosse para o Brasil, teria de começar minha vida do zero, ia ser tudo mais complicado. Falando de economia e segurança, não digo que seria um passo atrás. Eu sempre vou ao Brasil, minha família está lá, mas seria muito em jogo e coloquei na balança", finalizou.

Hoje em dia, em qualquer jogo do Villarreal em competições europeias, é cena comum ver Marcos Senna cruzar a zona mista de entrevistas ao lado dos atletas. No entanto, em vez de uniforme, ele agora veste o traje mais social.

"Basicamente, sou a imagem do clube. Antes de entrar nesse cargo, eu era leigo e pensava que não fazia nada, somente figurava. Mas tem muita coisa para fazer. Estou contente, há quase quatro anos nessa posição. E a equipe, mais importante também, está satisfeita comigo", comemorou.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Foi informado incorretamente que o apelido Submarino Amarelo teria surgido na temporada 2005/06. Na verdade, ele existe desde 1967.