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Caso Daniel: Audiência acaba com Brittes em silêncio; réus aguardam decisão

Edison Brittes Júnior chega para audiência do caso Daniel - Reprodução
Edison Brittes Júnior chega para audiência do caso Daniel Imagem: Reprodução

Karla Torralba e Robery Souza

Do UOL, em São José dos Pinhais e em São Paulo

05/09/2019 04h00

Terminou em um dia a fase mais esperada da audiência de instrução do caso Daniel, o interrogatório dos sete acusados de envolvimento no assassinato do jogador. Apenas quatro dos envolvidos aceitaram falar ontem (4) à Justiça suas versões do que aconteceu após a festa de aniversário de 18 anos de Allana Brittes que acabou com o atleta degolado e emasculado.

A juíza Luciani Martins de Paula havia reservado três dias para ouvir todos os acusados, mas Edison Brittes Júnior, réu confesso, David Vollero e Ygor King ficaram calados, um direito assegurado por lei. Agora, Ministério Público e defesas se manifestarão antes de a magistrada dar seu parecer sobre quais casos serão ou não levados a júri popular. Há também uma decisão a ser tomada nos próximos dias pela juíza sobre o pedido de liberdade para Cristiana Brittes.

O assistente da acusação Nilton Ribeiro avaliou os interrogatórios ressaltando que não vê credibilidade sobre acusações de que Daniel teria importunado Cristiana Brittes. "Foi um sucesso o dia de hoje. Todos os acusados interrogados em um processo de extrema dificuldade. Alguns réus tentaram imputar a motivação à vítima, mas não vejo com credibilidade. Quatro falaram em partes. Todos se negaram a responder as perguntas da assistência de acusação. Mas podemos falar que foi um sucesso como Justiça".

Para Cláudio Dalledone Júnior, advogado da família Brittes, os interrogatórios teriam mostrado principalmente a inocência de Cristiana Brittes em relação à acusação de homicídio. "Creio que essa acusação de homicídio não vai vingar em relação à Cristiana. Creio que muita coisa vai ser retirada na pronúncia e que iremos conseguir libertar a Cristiana da prisão", ressaltou.

Agora o Ministério Público terá cinco dias para se manifestar sobre o caso, e depois as defesas terão o mesmo prazo. Após as alegações, a juíza tem 10 dias para pronunciar quais réus e por quais crimes eles irão a júri popular.

Há ainda a possibilidade de o processo ser desmembrado, porque após a pronúncia ainda há chance de que as defesas recorram da decisão. Por se tratar de caso com sete réus, algumas defesas poderiam optar por recorrer e outras não, o que separaria os casos; os que recorrerem adiariam o Tribunal do Júri e os que optarem por não, seguiriam ao Tribunal para julgamento.

O que aconteceu em cada depoimento:

Allana Brittes

A filha de Edison e Cristiana Brittes respondeu apenas perguntas feitas pela juíza do caso e pelos seus próprios advogados. Ela fez um relato breve sobre o que aconteceu na manhã de 27 de outubro, quando Daniel foi espancado, e ressaltou que a mãe, ré por homicídio, pedia ajuda frequentemente para que parassem de bater no jogador.

Allana, acusada de fraude processual e coação de testemunha, ainda acusou mais uma pessoa de participação nas agressões a Daniel. Eduardo Purkote, o gêmeo que estava na casa dos Brittes no dia do crime, chegou a ser preso durante o inquérito policial, mas não foi denunciado.

"Ele participou ativamente das agressões, quebrou a porta do quarto do casal e estava sujo de sangue, porque bateu e bateu muito. Quebrou também o celular da vítima, segundo os interrogatórios", comentou Renan Canto, um dos advogados de defesa de Allana Brittes.

Evellyn Perusso

Ré por falso testemunho, Evellyn reafirmou o que disse à polícia sobre o que teria acontecido na casa dos Brittes no momento em que Daniel é foi agredido. Segundo ela, Eduardo Purkote bateu em Daniel, teria entregado a faca do crime a Edison Brittes Júnior e quebrado o celular do jogador.

Edison Brittes Júnior

Brittes permaneceu calado durante todo o tempo. Sem responder perguntas, o interrogatório durou pouco mais de cinco minutos. "Edison manifestou a garantia de permanecer em silêncio, tem muitas coisas a vir aos autos. Ele é réu confesso de um homicídio cometido sob violenta emoção. Naquele momento, ele será devidamente interrogado. Será naquele momento. Ele tem o direito e garantia de permanecer em silêncio. Tem coisa para ser anexada como a reprodução simulada dos fatos que é medida que se impõe, e foi requisitada e não foi feita. Isso vai separar condutas", analisou Cláudio Dalledone Júnior.

Ygor King e David Vollero

Por orientação do advogado responsável pela defesa dos dois, a dupla, que estava no carro que levou Daniel para a morte com Edison Brittes, permaneceu calada e falou apenas ter participado das agressões. "Eles ficaram em silêncio por orientação minha tendo em vista que há necessidade de que é preciso ver primeiro o que o Edison vai falar. Ficou claro que a participação é somente das agressões, por isso que ficaram em silêncio", afirmou o advogado de ambos, Rodrigo Faucz.

Eduardo Henrique da Silva

O quarto ocupante do Veloster preto respondeu as questões da juíza, do Ministério Público e da própria defesa. De acordo com o advogado de Eduardo, Edson Stadler, seu cliente não participou do assassinato e teria deixado claro que a intenção era cortar o pênis de Daniel e não matá-lo. Ele ainda afirmou que um conteúdo no celular fez Brittes mudar de ideia e assassinar o jogador.

"Ele retratou a verdade dos fatos e a verdade sinteticamente apresentando que ninguém tinha interesse de matar. Tinha interesse de maltratar pela prática dele e retratou o que já havia dito na delegacia de polícia. Saíram com interesse, do Brittes também, de fazer a castração do Daniel. A exposição ridicularizando a pessoa dele em resposta ao comportamento abusivo com a esposa. O Brittes também só tinha a intenção de emasculação. Em dado momento é que o Brittes viu algo no celular e interrompeu a trajetória numa freada brusca. Ele desce do carro, puxa e corta a garganta do Daniel", falou Stadler sobre o depoimento de seu cliente.

Cristiana Brittes

Segundo o advogado de defesa dos Brittes, Cristiana, que responde por homicídio, fraude processual e coação de testemunha, chorou durante o seu depoimento. Ela reafirmou o que havia dito à polícia, de que teria sido importunada sexualmente por Daniel quando dormia em sua cama.

"Cristiana não participou e não prestou qualquer auxílio moral ou material ao homicídio. A certeza de que Daniel traçou as coordenadas de sua desgraça, que abusou de uma mulher indefesa. Creio que essa acusação de homicídio não vai vingar em relação à Cristiana. Creio que muita coisa vai ser retirada na pronúncia e que iremos conseguir libertar a Cristiana", explicou Cláudio Dalledone Júnior.

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