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Copa do Mundo Feminina - 2019

Como Vadão se mantém na seleção mesmo com 9 derrotas às vésperas da Copa

Vadão conversa com Marco Aurélio Cunha em treino da seleção brasileira de futebol feminino - Lucas Figueiredo/CBF
Vadão conversa com Marco Aurélio Cunha em treino da seleção brasileira de futebol feminino Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Ana Carolina Silva

Do UOL, em São Paulo

15/05/2019 04h00

Você imagina o técnico Tite estreando na Copa América após uma sequência de nove derrotas? O que as torcidas de Palmeiras, Flamengo ou Grêmio fariam se seus times pudessem, na estreia do torneio mais importante da temporada, completar dez derrotas seguidas? No futebol masculino, uma sequência assim, certamente, custaria o emprego do treinador.

Mas falta menos de um mês para a estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo da França, em 9 de junho, contra a Jamaica, e Oswaldo Alvarez, o Vadão, carrega esse retrospecto. À frente do futebol feminino desde novembro de 2016, Vadão chega à Copa com sua equipe ostentando nove derrotas seguidas. Além disso, perdeu dez das últimas 11 partidas oficiais - nesse período, é bom ressaltar, houve uma vitória em jogo-treino contra o Canadá.

Como sempre acontece no futebol, a comissão técnica foi criticada. Seja por decisões táticas controversas ou desempenho pouco eficiente. Representada pelo coordenador Marco Aurélio Cunha, a CBF se justificou. Em entrevista ao UOL Esporte, o dirigente deu a entender que a entidade não cogitou uma troca no comando. As referências parecem ser o título da Copa América, conquistado em 2018 com sete vitórias em sete jogos, e até a Copa CFA da China, na qual a seleção brasileira teve México (vitória por 3 a 0), Coreia do Norte (2 a 0) e China (2 a 2) como desafiantes.

"O Vadão conquistou o torneio da China, conquistou a Copa América de maneira invicta, classificou o Brasil para Copa do Mundo e Olimpíada do Japão. Perdeu para grandes potências do futebol feminino e com placares apertados. Nós jogamos contra as melhores seleções do mundo, todas top 5, top 6, top 7. Foi um calendário moldado exatamente para isso, nunca fizemos uma partida contra uma seleção abaixo da nossa no ranking", afirmou Marco Aurélio Cunha.

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Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Ele se referiu aos 12 confrontos disputados desde a Copa América, contra oito rivais diferentes (os duelos contra Estados Unidos, Inglaterra e Japão se repetiram). O Brasil atualmente é o 10º colocado no ranking da Fifa, e foi derrotado por duas adversárias que estão em condição inferior na lista: Espanha, 13ª colocada, e Escócia, 20ª.

"Em muitas das partidas, nós não merecemos perder. Tivemos muitas dificuldades com lesões, com nível físico por jogarem diferentes ligas. Isso faz diferença, e fizemos todos os jogos fora de casa. Se você fizer uma estatística de mandantes e visitantes, verá que há um domínio dos mandantes no futebol de maneira geral", prosseguiu o coordenador.

O Brasil venceu o Canadá em jogo-treino realizado em Ottawa no dia 4 de setembro de 2018, mas, por decisão editorial do UOL Esporte, este resultado não será levado em conta no histórico recente; em textos institucionais publicados em seu site oficial (veja o exemplo abaixo), a própria CBF trata a partida como jogo-treino, não amistoso.

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CBF trata vitória da seleção feminina sobre o Canadá, em 4 de setembro de 2018, como jogo-treino
Imagem: reprodução/site oficial da CBF

Resultados em jogos oficiais pós-Copa América:

(com vencedores em destaque e posições das rivais no ranking)

08/04/2019 - Brasil 0 x 1 Escócia (20ª no ranking) - Amistoso na Espanha
05/04/2019 - Brasil 1 x 2 Espanha (13ª) - Amistoso na Espanha
05/03/2019 - Brasil 0 x 1 EUA (1ª) - Torneio She Believes nos EUA
02/03/2019 - Brasil 1 x 3 Japão (7ª) - Torneio She Believes nos EUA
27/02/2019 - Brasil 1 x 2 Inglaterra (3ª) - Torneio She Believes nos EUA
10/11/2018 - Brasil 1 x 3 França (4ª) - Amistoso na França
06/10/2018 - Brasil 0 x 1 Inglaterra (3ª) - Amistoso na Inglaterra
02/09/2018 - Brasil 0 x 1 Canadá (5ª) - Amistoso no Canadá
02/08/2018 - Brasil 1 x 4 EUA (1ª) - Torneio das Nações nos EUA
29/07/2018 - Brasil 2 x 1 Japão (7ª) - Torneio das Nações nos EUA
26/07/2018 - Brasil 1 x 3 Austrália (6ª) - Torneio das Nações nos EUA

Partida não-oficial:

04/09/2018 - Brasil 1 x 0 Canadá (5ª) - Jogo-treino no Canadá

Algumas escolhas técnicas e táticas causam estranheza. Nos últimos jogos, Marta, a líder técnica incontestável da equipe, teve de voltar para buscar a bola na intermediária. O problema é que ela foi eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo sem executar tal função.

Quem poderia fazer isso é Andressa Alves, acostumada à posição no Barcelona. Mas a camisa 10 azul-grená foi testada como lateral-esquerda. Aconteceu contra os Estados Unidos, melhor seleção do mundo na atualidade e segundo lugar no ranking da Fifa. Enquanto isso, Yasmim, do Corinthians, eleita pela CBF em 2018 a melhor lateral-esquerda do Campeonato Brasileiro, não tem sido convocada.

A volante Brena, do Santos, tem 22 anos, e foi eleita melhor volante do Brasileirão 2018. Seu nome é pedido pela torcida, mas ignorado na seleção. A posição continua sendo de Formiga, um dos pilares do Brasil e do Paris Saint-Germain, que, aos 41 anos, estava aposentada da seleção até que Vadão pediu que reconsiderasse.

"A gente ainda não tem uma reposição na função dela, como volante. Temos reposições no ataque, na defesa, mas nesse meio-campo, na função dela, ainda não tem amadurecimento necessário", disse Vadão às Dibradoras.

Quando questionado se a seleção está ignorando o futebol local, Marco Aurélio minimizou: "Outro dia, o Vadão foi assistir ao jogo entre Moreninhas e não lembro qual time. Toda a comissão está vendo os jogos do Brasileirão feminino. As mídias sociais... Cada um tem um jogador ou jogadora de predileção. Eu lembro quando ele convocou a Andressinha pela primeira vez e o mundo caiu".

"O Vadão convocou a Rafaelle, que era lateral-esquerda, e ninguém sabia quem era... O futebol tem suas predileções, mas o Vadão convoca quem acha melhor para cada posição. Nós convocamos quatro, cinco laterais esquerdas. Inclusive uma jogadora [Andressa Alves] que o Vadão sabia que podia testar nesta função", concluiu.

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Vadão conversa com Thaisa e Marta em treino da seleção brasileira de futebol feminino
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

"Às vezes, você chega no Mundial e a equipe ainda não está acertada. Às vezes cria-se uma expectativa enorme em cima da seleção e ela não evolui. A análise do presidente é de construção do trabalho de modo geral. A análise do Vadão é de uma construção básica da equipe. Uma coisa é institucional, outra é o trabalho da comissão técnica. Estamos dependendo das condições físicas de Cristiane, Bia Zaneratto, Bruna Benites, Rafaelle...", disse.

O Liverpool, finalista da Liga dos Campeões no futebol masculino, foi usado como exemplo. "Essa visão consolidada que as pessoas querem colocar nunca existe. Vamos partir para uma análise totalmente fora de contexto: o Liverpool não tinha Salah e Firmino. Estava pronto para enfrentar o Barcelona? Talvez muita gente achasse que não, mas meteu quatro no Barcelona. Veja como são as circunstâncias. É com dificuldade que se aprimora um time. O futebol é um só", encerrou Marco Aurélio Cunha.

Vadão fala sobre convocação do Brasil, que será feita em 16 de maio

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