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Borges elogia Muricy como comentarista e crê em resgate de centroavantes

Borges (à esquerda) na passagem pelo América-MG, seu último clube na carreira - ERWIN OLIVEIRA /FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Borges (à esquerda) na passagem pelo América-MG, seu último clube na carreira Imagem: ERWIN OLIVEIRA /FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

11/05/2019 04h00

Terceiro maior artilheiro em uma única edição do Campeonato Brasileiro na era dos pontos corridos, Borges é só elogios a Muricy Ramalho ao afirmar que não ficou surpreso com a rápida adaptação do ex-chefe à função de comentarista esportivo. Aposentando há cerca de três anos, o ex-atacante criticou, em conversa com o UOL Esporte, a falta de camisas 9 no futebol brasileiro, mas disse acreditar que os experientes Fred e Ricardo Oliveira farão os clubes nacionais a voltar a escalar centroavantes.

Devido a problemas de saúde, Muricy resolveu deixar o Flamengo em maio de 2016. Meses depois, o ex-técnico foi anunciado pelo canal pago SporTV para comentar o clássico entre Brasil e Argentina, pelas Eliminatórias à Copa da Rússia. Desde então, se fixou na função. Para o ex-jogador de 38 anos a serenidade do ex-colega foi fundamental para o processo de ambientação.

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"O Muricy trabalhou muito tempo com o futebol, sabe como as coisas funcionam e experiência conta muito. Ele achou melhor parar como treinador e surgiu uma oportunidade nova para ele, que acabou dando certo. Penso que ele está indo muito bem como comentarista", analisou Borges, que recordou que o seu primeiro contato com Muricy não foi nos tempos de São Paulo.

"Eu comecei a trabalhar com ele no São Caetano. Depois, eu saí e fui rodar um pouco. Fui para Belém, joguei no Paysandu, e depois fui para o Paraná Clube, onde o Muricy me acompanhou muito. Inclusive, eu joguei contra ele, quando ele estava no Internacional. Mas acabei indo para o Japão [Vegalta Sendai]. O Muricy já tinha interesse na minha contratação desde 2006. Mas só em 2007 juntamos o útil ao agradável porque, quando eu era pequeno, tinha o sonho de jogar no São Paulo. Não pensei duas vezes quando surgiu a oportunidade concreta", revelou.

Dono de quatro títulos brasileiros - São Paulo (2007 e 2008) e Cruzeiro (2013 e 2014) -, Borges tinha forte presença na área dos adversários. Tanto que, em 2011, foi o artilheiro do Brasileirão ao marcar 23 gols com a camisa do Santos - é superado apenas por Washington (34 gols, em 2004) e por Dimba (31 gols, em 2003).

Já aposentado após deixar o América-MG, em 2016, Borges disse acreditar que a ausência de grandes centroavantes no futebol é uma questão cíclica e aponta três artilheiros natos como referência no Brasil.

"Nós temos dois centroavantes que estão em evidência. O tempo passa, vai e volta, e eles continuam bem, que é o caso do Fred [Cruzeiro] e do Ricardo Oliveira [Atlético-MG]. Ainda tem o Guerrero [Internacional], que não é brasileiro. São jogadores que estão dando conta do recado e mostrando que precisa ter esses jogadores. No Flamengo, tem o Gabriel. Mas ele é aquele jogador que cai para os lados, ele não é um 9. Então, não pode acabar o camisa 9", comentou o ex-jogador baiano.

Além da ausência de centroavantes, Borges apontou que o esquema tático utilizado atualmente pelos clubes tem reduzido o número de gols nas partidas.

"Hoje se prefere jogar com três volantes e isso complica. Na minha época no Santos, tinha o Elano e o Ganso como meias. Também tinha o Ibson que chegava [na área] e o Arouca que vinha de trás. Isso facilitava porque eram jogadores de qualidade. Hoje os jogadores voltam muito mais para marcar ao invés de criar. Exemplo disso é a forma como o Arrascaeta está jogando no Flamengo", ponderou.

VAR em jogo inesquecível?
Muricy Ramalho comemora vitória que deu título do Brasileirão de 2008 ao São Paulo - Ricardo Nogueira/Folhapress - Ricardo Nogueira/Folhapress
Muricy celebra o título do São Paulo em 2008, após gol decisivo de Borges
Imagem: Ricardo Nogueira/Folhapress

Na conquista do Brasileirão de 2008, Borges foi fundamental para o São Paulo ao ser o artilheiro do time, com 16 gols. Segundo o ex-atleta, o tento anotado na vitória sobre o Goiás por 1 a 0, pela última rodada do torneio, foi marcante na sua carreira e ainda brincou ao recordar que estava impedido no lance.

"O São Paulo vinha de uma sequência complicada na virada do primeiro para o segundo turno e acabamos campeões. Eu tive a felicidade de fazer muitos gols naquele ano decisivo. Fiz o último gol do título numa posição até... Se na ocasião estivesse o VAR, não seria gol. O juiz de vídeo anularia. Hoje, o VAR está anulando até o vento que passa. Olhando pela câmera, eu estava impedido na falta que o Rogério bateu e o Hugo cruzou na sequência do lance", analisou.

Apesar das boas lembranças, de ter conquistado dois títulos brasileiros pelo São Paulo e de o clube do Morumbi ocupar a terceira colocação da atual edição do torneio, Borges não colocou o ex-time entre os favoritos para ser campeão neste ano.

"Aponto três clubes que estão mais fortes pelo título: Palmeiras, Cruzeiro e Flamengo, por terem elencos fortíssimos", analisou.

Planos após a aposentadoria

Afastado do futebol desde julho de 2016, quando rescindiu o contrato com o América-MG, Borges ainda não sabe se voltará a se dedicar ao esporte que atuou como profissional por 15 anos.

"Quando o atleta encerra a carreira, passa por um período de ajuste, de adaptação. Acho interessante o trabalho de gestão de treinador, mas isso também nos afasta da família. Pretendo fazer alguns cursos e depois vejo o que vou fazer. Tenho três filhos, dois meninos estão na escolinha de futebol. Se eles quiserem isso lá frente, não tenha dúvida que eu vou apoiá-los", comentou.