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Qatar sorteia até carro para público, mas Liga tem média de 100 torcedores

Vinicius Castro

Do UOL, em Doha (Qatar)*

01/04/2019 12h00

Classificação e Jogos

Em visita ao país da Copa do Mundo de 2022, a reportagem do UOL Esporte acompanhou uma rodada dupla da Liga de futebol do Qatar, o campeonato local. Ainda que tenha vencido a disputa para sediar o Mundial de futebol, a nação árabe tem dificuldades para levar público aos estádios. Os dirigentes fazem de tudo para isso e promovem até sorteio de carro e smartphones para os torcedores. No entanto, a média da competição é de apenas 100 pessoas por jogo.

Na rodada, quatro times estiveram em campo pela Qatar Stars League. Os jogos foram no estádio Abdullah bin Khalifa, que abriga o Al-Duhail, segundo colocado na tabela. Com capacidade para 10 mil torcedores, o local só recebeu maior público na partida principal da noite, quando os donos da casa empataram por 2 a 2 com o líder Al-Saad, que tem como destaque o meio-campista Xavi, ex-Barcelona.

Antes, pouquíssimas pessoas acompanharam a vitória do Al-Gharafa sobre o Al-Rayyan, dos brasileiros Rodrigo Tabata e Lucca, por 4 a 2. O público reduzido tornou possível ouvir os jogadores e as orientações dos treinadores. Nem o insistente canto da torcida do Rayyan foi capaz de mudar o cenário.

Ainda que a partida principal da noite tenha atraído mais torcedores por se tratar de uma "final antecipada", o estádio não teve 50% da capacidade preenchida. Mesmo assim, o público - não divulgado - foi um fato raro. Além disso, só houve mais torcida no segundo jogo em razão das iniciativas da Federação de Futebol do Qatar e dos clubes.

Os torcedores que compraram ingressos participaram de dois sorteios. Um ofereceu 30 smartphones, enquanto outro um carro Toyota Land Cruiser, típico modelo utilizado pelas famílias cataris nos passeios realizados pelo deserto.

Qatar - Vinicius Castro/UOL - Vinicius Castro/UOL
Estádio vazio é rotina na Qatar Stars League: média de 100 torcedores por jogo
Imagem: Vinicius Castro/UOL

O preço do ingresso é barato. O normal custa 10 na moeda local, o rial catarense, cuja cotação é muito parecida com a do real brasileiro. Já o bilhete VIP sai por 20. Além dos aparelhos eletrônicos e do carro, os jogos no decorrer do campeonato contam com sorteios de roupas árabes e lanches.

Algumas partidas, no entanto, chegam a ter apenas 10 pessoas nas arquibancadas, o que vai contra a mobilização e investimento do país para receber a Copa do Mundo de 2022. O campeonato local, inclusive, possui VAR - árbitro de vídeo - e protocolo da Fifa.

O investimento está presente em tudo, e o que falta é interesse pela competição. Os cataris preferem outros esportes, como corrida de camelos e falcoaria. Para atraí-los para um jogo de futebol, é necessário caráter absolutamente decisivo, além de ações promocionais.

Um dia antes da rodada dupla da Liga, o país foi sede da decisão da Supercopa da África. Raja Casablanca, do Marrocos, e Espérance de Tunis, da Túnisia, se enfrentaram no estádio do Al-Gharafa. O Raja venceu por 2 a 1 e conquistou o título em um clima absolutamente diferente.

O estádio estava cheio, até com a presença do Emir do Qatar, Xeque Tamim bin Hamad al-Thani, e teve organização e esquema de segurança já ensaiados para a Copa do Mundo. Com torcidas fanáticas que vieram da África, o duelo expôs a paixão que o futebol promove pelo mundo em pelo território catari. Entre os nascidos no país, porém, o panorama está distante disso e deve mudar pouco até 2022.

* O convite foi do Governo do Qatar e do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2022