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Vítima de Suzano, Douglas herdou paixão pelo Corinthians e sonhava em jogar

Apaixonado pelo Corinthians, Douglas será homenageado pelo clube com balões no jogo de amanhã, em Itaquera - Acervo pessoal
Apaixonado pelo Corinthians, Douglas será homenageado pelo clube com balões no jogo de amanhã, em Itaquera Imagem: Acervo pessoal

Arthur Sandes e Samir Carvalho

Do UOL, em São Paulo

16/03/2019 04h00

Douglas Murilo Celestino, uma das vítimas do massacre que aconteceu na última quarta-feira (13) na Escola Raul Brasil, em Suzano, era um adolescente apaixonado pelo Corinthians. Herdou o amor da mãe pelo clube e, com ela, frequentava a sede de uma torcida organizada e assistia às partidas na Arena sempre que podia.

Quase toda a família de Douglas é corintiana, de modo que o rapaz teve contato com a paixão alvinegra bem cedo. "Podia estar chovendo ou com sol, ele sempre ia para a quadra [da Fiel Suzano]", disse uma familiar. A mãe, Camila Santos, é muito querida pela torcida organizada, que sentiu muito a perda do adolescente. "Estamos em luto pelo nosso menino [Douglas] Murilo e por todas as vítimas da tragédia do Raul Brasil", escreveu em uma rede social o perfil da torcida organizada.

Camila Santos é bastante ativa entre torcedores organizados do Corinthians, sendo presença constante em jogos e festas na sede dos Gaviões da Fiel. Como o UOL Esporte publicou ontem, ela foi convidada pelo clube para ir à Arena neste domingo, para acompanhar do camarote ao duelo contra o Oeste pela 11ª rodada do Campeonato Paulista. Uma irmã de Douglas, de oito anos, também foi convidada a entrar em campo com os jogadores. Antes de a bola rolar, está prevista uma homenagem com balões tanto em lembrança do adolescente quanto das demais vítimas da tragédia de Suzano.

Fanático, Douglas publicava com frequência nas redes sociais as suas idas à Arena Corinthians, inclusive tomando inspiração do estádio para perseguir os seus sonhos. "Não treino pra ser mais um, eu treino pra ser o melhor; não quero ser alguém comum; quero ser algo maior", escreveu na legenda de uma das fotos da visita à Itaquera, em junho de 2016.

Sonho de ser jogador

Douglas Murilo Celestino - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Douglas (de pé e cabelos soltos, à direita) treinava em time de garotos da Vila Maluf
Imagem: Arquivo pessoal
Douglas ainda alimentava o sonho de jogar futebol profissionalmente, segundo conta uma familiar. Ele almejava tornar-se atleta para dar melhores condições financeiras e comprar uma casa para a mãe. Nesta busca pelo sonho, o adolescente tomava aulas em uma escolinha do bairro, ainda que a idade já não fizesse com que chamasse muita atenção dos olheiros.

Eduardo Ramos, responsável por um projeto no Esporte Clube Vila Maluf, contou ao UOL Esporte que o adolescente era como o seu braço direito. "Era um rapaz muito companheiro. Depois dos treinos, a criançada ia embora e ele sempre ficava para me ajudar a carregar o material, guardar as bolas e as redes. Isso ficou marcado para mim, porque ele sempre ajudava", afirma.

Eduardo conta que Douglas era um dos mais calados entre os meninos. "Era focado nos treinos dele", explica. Por isso, quase não comentava sobre o objetivo de ser jogador. Em dois anos treinando na escolinha, o rapaz viu diminuírem aos poucos as chances de seguir carreira com a bola, mas nunca desistiu. "Não era um craque, mas era esforçado. E nós temos um trabalho de escolinha, estamos muito mais preocupados é com a cabeça das crianças, com o futuro delas", diz o treinador.

Herói em meio à tragédia

Segundo alguns familiares, Douglas a princípio havia conseguido fugir da escola durante os disparos, mas resolveu voltar para dentro para tentar salvar a namorada, que ainda não havia saído. Foi então que ele acabou atingido, posteriormente morrendo a caminho do hospital.

Ferida, a namorada salva por Douglas está internada na UTI do Hospital das Clínicas, na capital paulista. "Este comportamento provou o que ele era, o companheiro que era", diz Eduardo Ramos, ex-treinador de futebol do adolescente.

O velório de Douglas foi realizado ontem, em uma igreja evangélica de Suzano. Em seguida o sepultamento foi feito no Cemitério Colina dos Ipês, sob aplausos de familiares e amigos. Ele cursava o terceiro ano do ensino médio.

A Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, foi palco de um massacre na manhã da última quarta-feira (13), quando um homem de 25 anos e um adolescente de 17 entraram armados no local e dispararam na direção de alunos e funcionários. Ao todo, dez pessoas morreram, incluindo cinco alunos; duas funcionárias; os atiradores e o tio de um deles, que foi assassinado em uma loja antes do crime no colégio.

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