Cadela vira torcedora do Corinthians na Arena e ajuda dono a superar doença
A cena é recorrente nos jogos do Corinthians disputados em Itaquera: horas antes de a bola rolar, Klauber chega ao estádio guiado pela cadela Hanna, da raça labrador. Juntos, eles acompanham a partida, vibram com o time alvinegro e escrevem mais um capítulo de uma história de amizade iniciada há dois anos.
Não é exagero dizer que o animal salvou a vida do torcedor corintiano de 33 anos. Em maio de 2016, Klauber Nardelli descobriu um tipo de câncer cerebral, chamado meningioma, que afetou os ligamentos dos olhos. Curado depois de três cirurgias e a retirada do tumor, ele ficou com 20% da visão. A nova condição causou um grande impacto psicológico ao professor de educação física. E foi a chegada da cadela que fez a vida ter sentido novamente.
"Por um tempo, não tive vontade de viver, de andar, porque tinha medo de tudo. A Hanna trouxe alegria, motivação e a vontade de querer viver novamente. A gente não pode desistir, a vida continua", contou Klauber em entrevista ao UOL Esporte.
Hanna passou a fazer parte da rotina do torcedor um ano depois de o problema de saúde vir à tona. Após um período de adestramento, ela passou a acompanhá-lo nos jogos do Corinthians em Itaquera. Fanático, Klauber sempre frequentou estádios atrás do time do coração e viu essa atividade corriqueira ser interrompida de forma abrupta ao descobrir a doença.
O cão-guia também proporciona outros momentos de lazer e até auxilia em compromissos. Não à toa Klauber e Hanna são vistos frequentemente na quadra da Gaviões da Fiel, torcida organizada da qual ele faz parte. A parceria também o levou a outros Estados - no ano passado, eles visitaram o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Ao lado de Hanna, Klauber, que hoje está aposentado, ainda faz tratamento no Hospital das Clínicas, zona oeste de São Paulo.
Mas é no estádio que Hanna se solta e vive momentos de lazer ao lado do dono. Até chegar à Arena Corinthians, o cão-guia, sempre vestido com uma camisa personalizada do clube, segue rigorosamente o ofício. Com um arreio, a cadela ajuda Klauber a pegar duas lotações até o estádio. Lá dentro, já sem a coleira, ela vira atração em meio à torcida presente ao setor norte.
"As crianças gostam. Isso ajuda a tirar o receio de alguns pais de as levarem [ao estádio]. A Hanna leva alegria. Eu deixo as pessoas passarem a mão e brincar, quando ela está sem a alça de guia, porque ela não está trabalhando, está torcendo. É como a gente, que tem hora para trabalhar e se divertir. Ela também é assim", contou o torcedor, que vive com a mãe e duas irmãs na zona leste de São Paulo.
A fim de superar o problema físico e conseguir assistir alguns lances dos jogos, Klauber escolhe a parte de cima da arquibancada, onde não há degraus. "Enquanto todo mundo olha para o campo, eu fico atrás, virado para o telão, pois aí consigo ver um pouco do jogo. Levo o fone e também pergunto para as pessoas. Também sou motivado pela torcida", disse.
Nesses momentos, Hanna mostra que até já aprendeu a torcer pelo Corinthians. Basta o time alvinegro ir às redes para a euforia ficar ainda mais evidente, com direito a pulos e latidos. "Às vezes ela gosta mais de brincar do que de trabalhar [risos]", frisou Klauber.
De acordo com Monica Grimaldi, presidente da Associação Cão Guia de Cego, tal prática não faz mal algum ao animal, tampouco a Klauber, justamente porque o torcedor retira a guia do animal antes. Essa é a deixa para Hanna entender que chegou a hora de curtir e socializar.
"Você tira o volante de um motorista? Não. É a mesma história com um cão-guia. Quando ele está guiando, está trabalhando. Se você for brincar com ele, você irá tirar o 'volante do motorista'. Ele é os olhos daquela pessoa. Por isso as pessoas não pegam no cão-guia", destacou.
"No momento em que ele [cão-guia] não estiver trabalhando, é saudável, é só tirar o arreio. Se estiver com ele, o cão-guia vai achar que está trabalhando. Sem, ela vai virar torcedora. E temos de incentivar esse tipo de coisa. É uma alegria para ela, também", completou Monica.
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